OPINIÃO: O renascimento dos nacionalistas ocidentais

Pedro Manuel Pereira | Historiador


De novo, tal como em outras eras da História da Europa e do mundo ocidental, nomeadamente a partir dos finais do século XIX, os nacionalismos estão a renascer (e a florescer) em força. As razões subjacentes a este fenómeno são diversas, mas não difíceis de entender.

Umas das principais advém do descontentamento (quase) generalizado por parte dos povos dos diversos países que compõem a manta de retalhos europeia, resultante da falta de soberania dos países da União Europeia, alienados que estão os corpos de Direito de cada país, ao Direito Comunitário que sobre eles prevalece, para além das amarras a tratados internacionais de diversa índole (alguns deles bem obscuros) nomeadamente económica, sem que os povos das nações tenham sido ouvidos antes da assinatura dos mesmos por parte dos seus governantes.

Aliás, quase todos os mandantes dos países comunitários encontram-se afanosamente a tratar das suas vidinhas e das suas clientelas familiares, marimbando-se completamente para os povos que os elegeram, bem assim como pela banda dos eurocratas (comissários e afins…) de Bruxelas que não foram eleitos pelos povos da UE, mas dão ordens aos governos dos países comunitários tratando-os como seus lacaios. E estes (aparentemente) até gostam… Os cidadãos europeus que votaram naqueles que formalmente são os seus representantes nacionais é que não gostam.

Por outro lado, sobretudo os grandes conglomerados industriais, as grandes (e multinacionais) empresas estrangeiras conduziram à ruína as indústrias nacionais, com isso destruíram as suas bases económicas e desorganizaram as estruturas sociais dos povos desses mesmos territórios.

Outro dos motivos relaciona-se com os aspectos culturais, dado que o choque entre culturas continua a persistir (sempre assim foi e assim continuará a ser) inclusivamente no seio de alguns países, que são compostos por várias nações com idiomas, hábitos e desníveis sócio-económicos entre eles, por exemplo. Ou seja, os estados onde residem várias nações (caso de Espanha) e não estados/nação, como é o caso de Portugal.

Dado que existem por vezes entre elas rivalidades ancestrais, o agravamento do estado calamitoso das economias torna a vizinhança, a coabitação cada dia mais difícil, sobretudo quando uma das nações se assume de forma hegemónica, como é o caso de Castela relativamente às outras nações que compõem a Espanha.

Desde as fronteiras da UE ao Norte, até Gibraltar ao Sul, os muros invisíveis entre nações vão crescendo, separando entre si mais de meia centena de nacionalidades. Os nacionalismos, tal como na segunda metade do século XIX, estão de regresso.Os afloramentos destas clivagens tiveram início visível no decorrer do falhado tratado constitucional da UE em 2005, quando os eleitorados franceses e holandeses vetaram o texto e se optou pelo Tratado de Lisboa, uma miniatura contendo textos básicos do anterior.

No contexto daquilo que foi considerado como uma apressada ampliação da UE com a incorporação de mais dez países, sendo oito deles antigos membros do Pacto de Varsóvia nos tempos da União Soviética, a oposição viu-se reforçada e com mais alento perante a crise económica despoletada cerca de três anos depois, atribuída em parte, devido à substituição das moedas nacionais pelo euro, pela maior parte dos países membros.

A explosão imigratória que começou em seguida com o reforço da invasão de refugiados e imigrantes foi o golpe seguinte, sabiamente explorado pelas organizações e partidos nacionalistas.

Face a este cenário a resposta das instituições europeias dependentes de cada governo por si dos respetivos estados membros, provocaram uma sensação de orfandade aproveitada pelas forças nacionalistas para ganharem posições.

A reação nacionalista não se fez esperar: a UE era o novo Ogre transnacional. Em oposição às directivas de Bruxelas para a recepção, distribuição e adaptação de imigrantes indocumentados e refugiados, alguns países de ente os mais recentes, como o caso da Hungria, optaram pelo encerramento das suas fronteiras e o reforço dos seus argumentos nacionalistas.

Por seu turno, os ressentimentos britânicos aumentaram a rejeição ao acordo de Schengen e do euro, ao qual nunca aderiram, efectuando um referendo para o abandono da Grã-Bretanha da UE (Brexit), tendo os argumentos económicos sido reforçados pela reclamação da preservação da identidade nacional.

Em França repetiram-se os sinais nacionalistas pela voz de Frente Nacional de Marine Le Pen, passando pela tortuosa actuação do governo do PS francês de Hollande (o Partido Socialista francês esboroou-se), culminando na petição para a revogação do Acordo Internacional de Comércio (TTIP) com os Estados Unidos.

Após as recentes eleições presidenciais nos Estados Unidos da América, com a vitória expressiva de Donald Trump, encontramos paralelismo com o caso da Alemanha, onde Ângela Merkel pagou caro o seu apoio à abertura à imigração desenfreada.

Os ventos nacionalistas que assolam a Europa viram-se agora reforçados com o resultado das eleições presidenciais nos EUA. O panorama político e social norte americano aparenta-se confuso para os cidadãos da UE, face aos problemas europeus, nomeadamente ao atoleiro da guerra da Ucrânia em que se encontra atascada e à previsível política isolacionista dos EUA que a governação Trump irá adoptar a partir do próximo ano, decisivo que será, para grandes convulsões políticas no mundo ocidental e não só na certeza que a marcha política nacionalista continuará de vento em popa.

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