Orientais ‘perdem-se’ pelos pepinos-do-mar algarvios
Nunca lhes demos grande atenção, mas o preço que podem atingir nos mercados asiáticos faz dos pepinos-do-mar a mais recente coqueluche das águas algarvias. Contudo, a sobrepesca já os dizimou em outras partes do mundo, pelo que temos de preservar o que é nosso.
Nuno Coutinho
O Algarve é a região do país com mais restaurantes com estrelas Michelin, mas não consta que algum deles tenha no seu menu pratos confecionados com pepinos-do-mar.
Trata-se de um animal marinho da família das estrelas-do-mar e deve o nome à sua semelhança com o legume das nossas hortas. Embora não entre na nossa culinária, é muito apreciado no Oriente, em países como a China, a Coreia e a Malásia, pela sua riqueza em proteínas, vitaminas e minerais.
Há alguns anos, ninguém ligava aos pepinos-do-mar, que eram abundantes nas nossas costas desde o Algarve até Peniche. Porém, tudo mudou desde que a sobrepesca destes animais provocou a sua extinção em muitas áreas do Indico e do Pacífico, o que levou os pescadores a virarem agora a sua atenção para o Mediterrâneo e a costa europeia.
Começou então a pesca em várias regiões da nossa costa, motivada pelos cerca de 200 euros por quilo que o pepino-do-mar atinge nos mercados asiáticos. Obviamente, os mariscadores portugueses rapidamente perceberam que a sua apanha é muito mais rentável que a das tradicionais conquilhas ou ameijoas, e pouco tardou para que os abusos ocorressem.
De acordo com os investigadores do Centro das Ciências do Mar da Universidade do Algarve (CCMAR), este interesse repentino levou a que em apenas dois anos desaparecesse 75% da população de pepinos-do-mar em vários locais da Ria Formosa, como as ilhas da Armona e da Culatra.
Esta situação tem alterado significativamente o nosso ecossistema marinho, porque os pepinos-do-mar garantem a limpeza dos sedimentos depositados no fundo e é deles que depende uma parte importante da cadeia alimentar. Em países como a Turquia, onde três espécies de pepinos-do-mar desapareceram por completo, começaram por morrer as algas, depois os peixes pequenos e os peixes maiores já começaram a ser afetados.
Para impedir esta desolação, foi publicada legislação que penaliza com uma multa que pode atingir os 2.000 euros a pesca de mais de dois quilos de pepino-do-mar por pessoa.
No entanto, o crime compensa e têm-se sucedido ultimamente as violações detetadas pelas autoridades marítimas.
REDE CLANDESTINA
No início deste ano a Polícia Marítima de Faro apreendeu 35 kg de pepinos-do-mar. Em junho do ano passado deu-se a maior apreensão de sempre, num total de 160 kg, quando o máximo previsto na legislação nacional é de 2 kg por pessoa.
Na região já foi identificada uma rede clandestina dedicada à captura e exportação de pepinos-do-mar para os mercados asiáticos, onde chegam a valer 200 euros por quilo.
SABOR IRRESiSTÍVEL
Os pepinos-do-mar são muito apreciados pelos povos orientais, que os consomem em sopas ou pratos refinados. A medicina tradicional chinesa também utiliza o seu pó no tratamento da artrite, das lesões dos tendões e articulações, para a hipertensão e como anti inflamatório.
DE CENTÍMETROS A METROS
Os pepinos-do-mar podem ser encontrados desde a zona de marés até às profundezas de todos os oceanos do mundo. Alimentam-se principalmente da matéria orgânica que se encontra em suspensão na água ou depositada no solo. O seu tamanho varia entre uns poucos centímetros e alguns metros. Deslocam-se lentamente, com movimentos muito semelhantes aos das lagartas.