Rui Cristina: “Estamos à beira de ficar sem água no Algarve”
Texto: José Manuel Oliveira | Foto: Algarve Vivo
Vice-presidente da Comissão Política Distrital do PSD/Algarve e deputado pelo círculo eleitoral de Faro na Assembleia da República, Rui Cristina, engenheiro civil, de 43 anos e natural de Loulé, em entrevista à Algarve Vivo, alerta para problemas sobre a questão da água e explica como é possível evitar a sua falta nesta região. Já ao nível da saúde, garante que haverá Hospital Central no Algarve quando o seu partido chegar ao Governo.
Na tomada de posse dos dirigentes da concelhia de Lagoa do PSD, alertou para o problema da água no Algarve, devido à seca. Este recurso natural poderá faltar na região nos próximos tempos?
Nós receamos, claramente, que se chover o mesmo que no ano passado, dentro de um ano não haverá água. Temos de agir.
De que forma?
Fala-se no Plano de Eficiência Hídrica já há dois anos. O Governo veio ao Algarve, com o ministro do Ambiente, com pompa e circunstância, dizer que vai haver um Plano de Eficiência Hídrica. Falava-se em 228 milhões de euros, do Plano de Recuperação e Resilência (PRR) e desse dinheiro está previsto o tal Plano de Dessalinização. Na verdade, ainda não vimos o projeto. Ainda não está acessível a ninguém. Não se sabe qual é a localização dessa central de dessalinização.
E isso chega?
Para já, irá resolver uma parte do problema. Mas não irá resolvê-lo na totalidade. Fala-se no transvase do Pomarão para Odeleite. Mas onde é que está o projeto? Fala-se em reabilitação das infraestruturas de abastecimento dos municípios.
Já foi investido algum dinheiro?
Nada. Perguntei, recentemente, ao ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, mas quem me respondeu foi o secretário de Estado, dizendo que há um plano de eficiência hídrica. Contudo, não me soube dizer nada em específico. Queremos saber se está a ser concretizado algum desses 228 milhões de euros (do PRR), que estão em execução em projetos no Algarve. Tem de ser executado o mais rapidamente possível, porque nós estamos à beira de ficar sem água.
Isso poderá acontecer em 2023?
Sim, se chover o mesmo que no último ano. Isto é dramático! E quando faltar água nas torneiras, aí é que as pessoas vão entrar em choque e vão aperceber-se de que aquilo de que se falava, vai tornar-se realidade. Temos mesmo de agir. Tem de haver campanhas de sensibilização, para que as pessoas saibam que não podem gastar água da mesma maneira que antes. Gastar a água de uma maneira mais eficiente.
Não regar campos de golfe, por exemplo, é uma das medidas a poupança?
Os campos de golfe podem ser regados com águas das Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), como já se faz na Quinta do Lago. Isso tem de ser levado aos restantes campos de golfe e controlado. Porque nós temos ETAR no Algarve, que podem aproveitar essa água, a qual está preparada tanto para a agricultura, como para os campos de golfe. Não se pode continuar a falar em grandes planos de eficiência hídrica que depois não se concretizam.
O que pretende fazer o PSD sobre esta questão da água?
Neste momento, o PSD só tem questionado relativamente a esta matéria. Se até ao final do ano não se souber o que está a ser feito para o Plano de Eficiência Hídrica, os deputados do PSD que representam o distrito de Faro irão apresentar uma proposta legislativa, em que terá de haver um investimento nas redes de abastecimento de água dos municípios do Algarve, para que não haja perdas de água como está a acontecer nesta altura. Tem de se apostar, como nos anos 70 [do século XX], na construção de mais bacias de retenção de água, bacias mais pequenas, porque as chuvas cada vez são mais torrenciais e em espaços curtos de tempo. E temos de conseguir reter essa água.
E tentar trazer água do norte do país para o Algarve poderia ser uma solução?
Sim. Seria um plano do norte ao sul, em que haveria uma adutora que trouxesse a água. Ou poder-se-ia ligar a água da Barragem do Alqueva ao Algarve. É claramente possível e é uma solução que já existe em vários países do mundo.