School of Rock de Portimão já conta com 90 alunos

Texto e foto: José Garrancho
O Portimão Jornal conversou com Luís António, um engenheiro portimonense que se fartou de andar de um lado para o outro, por causa da sua profissão, e, por isso, resolveu procurar uma alternativa. Sendo um amante e executante de música, arriscou no ‘franchising’ de uma escola diferente, na sua cidade natal. O projeto arrancou em setembro de 2024 e já é um sucesso, com cerca de 90 alunos.
O que há de diferente nesta escola?
Trata-se de uma escola com um método de ensino muito virado para a parte prática, para que os alunos possam tocar ao vivo e ter a experiência do que é ser músico. Foi a origem do método patenteado pela School of Rock. É prático e dá ânimo aos alunos para continuar a tocar mais.
Quer dizer que não existe aquela parte inicial do solfejo, que toda a gente detesta?
O método usado é ‘primeiro a música’. De acordo com a análise que já foi feita por vários professores da rede, temos as músicas bem trabalhadas e bem divididas em termos teóricos. Quando temos de ensinar um determinado conceito teórico musical, vamos à nossa base de dados buscar músicas sustentáveis nessa linha teórica. Assim, conseguimos que o aluno esteja a tocar uma música recente, que ouviu há dias na rádio, aprendendo conceitos teóricos ao mesmo tempo, sem dar por isso. O ser humano começa a falar e só mais tarde aprende como se escrevem as palavras. Nós usamos o mesmo princípio. Ainda que, no início, haja um certo processo mecânico, gradualmente vão percebendo que aquilo é uma nota, depois outra nota e, se as juntarmos, já fazem um acorde.
Quer isso dizer que podem ter alunos de todas as idades, sem quaisquer conhecimentos musicais?
Exatamente. Neste momento, o nosso aluno mais novo tem três anos e o mais velho 77.
Como surgiu a ideia de abrir uma escola em Portimão com um conceito que não era conhecido?
A minha formação profissional é na área da engenharia, sempre trabalhei fora de Portimão e queria regressar à minha terra e deixar a vida que tinha, sempre a viajar de um lado para o outro. Procurei alguns desafios. Na minha área, que foi a primeira que pesquisei, era necessário um grande investimento e acabei por mudar de ideias. Tinha um ‘hobby’ para os dias de chuva, como dizia na brincadeira, que era a música. Tinha o gosto pela guitarra e já havia quatro guitarras elétricas em casa, tive conhecimento deste ‘franchising’ e consegui conciliar as necessidades de investimento com o projeto. Desde o primeiro contacto, fui muito bem recebido pelo franchisador e iniciámos conversações. Não havia grande abertura de escolas nesta área, em Portimão, sobretudo com esta forma de ensino, e achei interessante trazê-lo para cá.
Não foi um tiro no escuro?
Já havia uma escola em Lisboa, que visitei e me permitiu visualizar o conceito. Falando com os professores dessa escola e o franchisador, numa fase em que ainda hesitava sobre se avançava, ou não, porque era uma mudança de vida radical, percebi que o franchisador para Portugal e Espanha é veterinário de profissão e decidi arriscar.

Quer dizer que esta é a segunda escola, em Portugal?
É verdade. Neste momento, está uma terceira a preparar a abertura, em Algés.
School of Rock, ou Escola de Rock, quer dizer que só ensinam rock nestas escolas?
A base é o rock, mas isso não inviabiliza que ensinemos outros estilos de música. Temos professores com formação na área do jazz e há alunos que chegam e dizem que gostariam de tocar outros géneros e acabam por fazê-lo. Temos também pessoas que têm formação em piano e procuram a escola porque gostam de tocar em grupo. Temos uma utilizadora que é cantora lírica que vem à School of Rock com regularidade para ensaiar.
Que instrumentos podem ser aprendidos na escola?
Guitarra, baixo, bateria, piano e voz. Os nossos programas procuram maioritariamente a performance e o nosso programa principal é baseado numa aula principal por semana, de 45 minutos, e ainda uma aula em conjunto, ensaiando como uma banda, com a duração de hora e meia. Há pessoas que, por falta de disponibilidade de tempo, querem somente a aula individual. Mas, felizmente, com o tempo, acabam por transitar para as aulas de grupo, porque esse é o objetivo da escola e o que nos dá gozo. E tocar em grupo permite ao aluno ser desafiado, não só por ele, mas também pelos colegas, e a sua evolução é muito maior.
E qual o encargo financeiro para os alunos?
Existe uma tabela, mas com vários programas. Não damos valores de forma taxativa, porque temos muitos programas distintos, que variam consoante as idades e o nível do aluno. O que fazemos sempre é uma aula experimental, uma avaliação com um professor. É com essa base que o professor vai definir as possibilidades de programas que existem para aquele nível.
Como se processa uma aula?
Nós funcionamos no sistema ‘song first’. Inicia-se com a transmissão de uma determinada música, há um aquecimento, depois um treino de determinadas músicas, porque temos um tema que vamos trabalhar e, dentro dessa temática, vamos ensinar um conjunto de músicas e, à medida que vamos ensinando a música, vamos ensinando a teoria que está por detrás. Se quisermos ensinar, por exemplo, a escala pentatónica, vamos escolher uma música apropriada. No final, é preparado um trabalho para casa relacionado com a aula. O aluno, em casa, pratica e nós temos uma aplicação que permite, no telemóvel ou no computador, fazer os exercícios que o professor marcou e gravá-los. Automaticamente, a aplicação vai fazer a avaliação da aprendizagem e vai comunicar ao professor. O professor vai analisar a gravação e, na semana seguinte, sabe como pode otimizar a aula. O ensino é feito numa base individual.
José Carmo é o diretor musical da escola

“Dou, acima de tudo, aulas de performance”, diz José Carmo, diretor musical do novo espaço, mas também professor de guitarra, baixo e bateria. “Sou músico freelancer há mais de dez anos e sempre gostei de compor e tocar em público. Já ensinava antes, mas esta escola é diferente, usa um sistema maravilhoso. Ensinamos a performance, como estar em palco a dar um concerto. Usamos músicas que todos gostam de ouvir; não apenas rock, mas também metal, blues, soul, jazz. O conceito é muito valioso, tem um formato válido. É direcionado à performance, o que dá uma abordagem mais divertida e mais direta. Aprender logo com os instrumentos e tocar é o que os alunos pretendem”.
Subir ao palco para experimentar
O objetivo é fazer, pelo menos duas vezes por ano, um concerto em que os alunos vão tocar as músicas que estiveram a aprender. Terão a experiência do que é estar em palco, com o público na sua frente. Já fizeram o primeiro, no Dia Mundial da Criança, para os alunos mais novos, num centro comercial local, com uma numerosa assistência que os aplaudiu e incentivou.
A bateria da Carolina Vital

Tivemos a alegria de encontrar a primeira aluna da escola, a Carolina Vital, com oito anos, que optou por aprender a tocar bateria. Com um entusiasmo contagiante, assegurou ao Portimão Jornal que adora a escola e deseja continuar a frequentá-la. Quando é questionada acerca da escolha do instrumento, responde sem papas na língua. “Não sou daquelas pessoas que gostam de fazer aquelas coisas aborrecidas. Gosto mais de confusão. Por isso, escolhi a bateria e já tenho uma banda. Sou a mais jovem. Os outros são todos um bocadinho mais velhos do que eu”, afirma Carolina Vital.
Rodrigo Alves já formou uma banda
Apesar de ter recebido um baixo no Natal de 2023, não mostrou muito interesse na prenda. Só mais tarde, em novembro, Rodrigo Alves, com 17 anos, resolveu começar a frequentar as aulas para aprender a tocar este instrumento. “Não era muito da música. A escola abriu em setembro e não vim logo. Mas um amigo veio, disse-me que era muito boa, interessei-me e experimentei. Foi o melhor que fiz, até hoje. Já tenho uma banda com amigos antigos”.





