“Setor do mel está em expansão”

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Produtores de mel revelam à Algarve Vivo como se encontra o setor da apicultura na região. Destacam o aumento de vendas, por oposição à falta de apoios do Estado português e ao roubo das suas colmeias.

Texto: Irina Fernandes
Fotos: Kátia Viola

A apicultura está a afirmar-se como uma atividade cada vez mais importante para o Algarve devido à sua vertente económica direta. Quem o assegura à Algarve Vivo é Artur Jorge Coelho Batista, de 39 anos, produtor de mel de São Bartolomeu de Messines, concelho de Silves, e que, em agosto último, posicionou a localidade algarvia como capital do mel após conquistar o primeiro prémio do Concurso de Mel do Algarve, promovido pela direção regional de Agricultura e Pescas.

“A procura é muita, excede as expectativas que temos. Ao contrário do nosso país, que está em crise, o setor do mel está em franca expansão”, afiança. Produtor de mel de “laranjeira, rosmaninho e ainda polonização de girassol”, Artur Batista, que tem Algoz como principal localidade de extração, revela que o aumento das vendas que se fez sentir durante este ano trouxe lucro a uma parte significativa dos profissionais do ramo.

“No ano passado, vendíamos o mel a 2,85 euros e este ano o valor foi para os 3,60 euros. Do ano passado para este, o preço subiu 60 cêntimos/quilo. Isto enquanto produtores do setor primário, em modo de extração primária em que vendemos o mel em granel, sem ser embalado”, descreve, para ainda reconhecer que “em 2014 houve uma procura de empresas espanholas e francesas”.

Exportação ganha peso
Para Artur Batista, o sucesso nas vendas tem uma só explicação: a qualidade do mel algarvio. “Aquilo que nos chega de feedback lá de fora, sobretudo da parte da Alemanha que é o nosso principal comprador, é que o mel do Algarve é dos melhores do mundo. O nosso mel é da serra, é muito puro, não é sujeito a níveis de poluição nem de infeções de água”, afiança para, de imediato, acrescentar que se trata de “um mel que em termos de densidade é muito bom, é mesmo muito espesso e denso. E a cor é muito clarinha, muito límpido”.

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Por sua vez, José Chumbinho, 60 anos, que está ligado à produção de mel há 33 anos, também indica que o setor da apicultura está a registar um desenvolvimento positivo. “Está de boa saúde”, diz. Presidente da MELGARBE – Associação de Apicultores do Sotavento Algarvio, José Chumbinho refere, porém, que há ainda muitos problemas por resolver e que estão a impedir que a apicultura não tenha uma maior expansão, quer na região quer em todo o território nacional. “Em Portugal, não podemos vender mais de 500 quilos de mel enfrascado por ano. A ministra da agricultura, Assunção Cristas, autorizou agora a venda de mais 150 quilos por ano. Mas eu estive a participar no Fórum de Apicultores do Mediterrâneo, em Itália, e sabe o que vi? Lá, eles podem vender até 3000 quilos por ano e ainda fazer transformações!”, salienta, em tom de revolta, referindo ainda que “em Itália, o mel de medronheiro custa 18 euros. Cá, um quarto de quilo custa três euros”.

Já Artur Batista refere que há uma “grande falta de apoios” que não chegam ao Algarve e dificultam, em consequência, a funcionalidade do setor. “O acesso à medicação para administrar às colmeias quando estão doentes tem sido um problema muito grande cá. No resto do país, os apicultores conseguem apoios do Estado porque, se calhar lá, o associativismo é mais forte. Aqui estamos, agora, a tentar organizar uma associação para conseguir, no futuro, alguns apoios”, revela. E segue, justificando o seu descontentamento: “O Estado, anteriormente, pagava uma percentagem de ajuda para os apicultores e agora por causa da crise tem optado por fazer cortes muito significativos e o dinheiro dos apoios acabam por não chegar cá.”

Roubo de colmeias
Mas, por estes dias, há um outro problema maior que está a preocupar, e muito, os apicultores algarvios. “Era importante ter mais ajuda por parte das autoridades. É comum o roubo das colmeias. Deu-se um aumento do interesse pela apicultura e, por isso, há uma grande procura dos enxames. É como em todos os setores, há pessoas que veem como oportunidade roubar à noite para vender de dia, como se costuma dizer. As autoridades deviam estar mais atentas às movimentações que existem no período da noite. Quando nós mudamos os enxames para outras plantações, os intrusos acabam por andar a trabalhar em paralelo connosco. Precisamos de mais vigilância”, aponta.

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Também o produtor Chumbinho aponta o dedo à falta de associativismo e diz que a “classe deveria ser mais unida”. “Devia haver mais união entre as diversas classes de apicultores e agricultores”. O ainda experiente apicultor considera que por essa razão é “difícil” identificar “quer números de apicultores quer níveis de produção de mel”. “Há oito anos produzia-se uma média de três a cinco mil toneladas por ano. Agora, diria que se produz menos na região, apesar de haver mais apicultores. Não consigo dar números daquilo que se produz porque, na verdade, as pessoas não estão interessadas em dizer o que produzem porque senão os nossos amigos governantes inventam mais impostos para se pagar”.

Desaparecimento de abelhas
No que toca ao alegado desaparecimento de abelhas, Artur Batista descarta que esse cenário esteja a fragilizar o Algarve. “Dentro do conhecimento que temos uns com os outros, o que posso dizer é que todos os anos temos uma perda entre 10 a 20 por cento dos efetivos por diversas causas. Umas colmeias perdem a rainha, outras morrem por uma doença que as ataca, outras porque as reservas de alimentos acabam abruptamente e nós não chegamos lá a tempo e o enxame acaba por morrer com falta de comida, mas dizer que as abelhas estejam a desaparecer de forma misteriosa? Não vou assim muito por aí. O apicultor tem de estar muito atento com o que se passa nas suas colónias”.


CURIOSIDADES

– Os zangões existem para assegurar a continuidade e fecundação das rainhas.
– No início da primavera poderá haver 1000 zangões dentro de uma colmeia. Têm livre-trânsito, andam de colmeia em colmeia.
– Ao contrário dos zangões, as abelhas só têm autorização de entrar na própria colmeia.
– No inverno é difícil, por vezes, haver um zangão. Assim que a primavera termina são as próprias abelhas quem mata os zangões.
– Uma abelha rainha pode viver até cinco anos. Três a quatro anos é a média de longevidade.
– As abelhas decidem antecipadamente quem pode ser a sucessora da rainha da colmeia.
– Quando a rainha morre, as abelhas levam três a quatro horas a aperceber-se do sucedido.

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