Turismo quer colaborar na construção de habitação para atrair trabalhadores

Texto e foto: Jorge Eusébio, in Portimão Jornal nº 63


2022 foi “um ano bom” para o turismo algarvio, depois da queda a pique que o setor teve em 2020 e 2021 por causa da pandemia, afirma o administrador para o Algarve do grupo Pestana, Pedro Lopes.

O número de visitantes e o volume de receitas ficaram muito próximos dos de 2019, que foi o melhor ano turístico da região.

No entanto, acrescenta este profissional, “há que ter em conta que as receitas conseguidas nos anos da pandemia foram muito pequenas, não deram sequer para pagar os custos com o pessoal”. Pela sua análise, tal circunstância leva a que os bons resultados de 2022 ainda não permitam que as empresas recuperem dos prejuízos provocados pela covid-19.

Se as coisas correrem como espera, isso pode acontecer no final de 2023, ano que se prevê vir a ser muito positivo para o setor. Contudo, há algumas nuvens e incógnitas no caminho que podem pôr em causa as suas expectativas positivas.

A principal é a crise económica que o país atravessa, em especial, a inflação, que faz com que as pessoas acabem por ter menos dinheiro na carteira no final de cada mês. Isso pode impedir que muitos portugueses de outras regiões venham fazer férias no Algarve.

E, como se sabe, o mercado nacional é muito importante para a região, tanto nos bons como nos maus períodos. Foi ele que, por exemplo, evitou que 2020 e 2021 se revelassem anos ainda mais dramáticos para o turismo algarvio.

Muita necessidade de profissionais
Outro dos problemas com que Pedro Lopes e os seus colegas se deparam é a dificuldade ao nível da contratação de pessoal. De acordo com um estudo encomendado no ano passado pela Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), o setor vai precisar de contratar entre mais 4400 e 7900 pessoas.

Também a este nível, a pandemia teve consequências negativas, pois muitos profissionais de outras regiões e países que trabalhavam no Algarve acabaram por regressar aos seus locais de origem ou mudaram de área e agora, que o setor voltou a ‘carburar’ em pleno, haverá dificuldades acrescidas em convencê-los a regressar.

Para minorar o problema de contratação de mão de obra na região há empresários que vão recrutar ao estrangeiro, mas Pedro Lopes diz que se trata de uma opção complicada, que envolve muita burocracia.
No caso do grupo Pestana, “o que fizemos em 2021 foi convidar pessoal que temos em unidades situadas noutros pontos do país e até em Marrocos, que não tinham muita ocupação, a vir trabalhar no Algarve na época alta”. Muitos aceitaram as condições oferecidas e assim foi possível manter os hotéis algarvios em atividade. Contudo, com o regresso à normalidade em todo o lado, essa deixou de ser uma opção viável.


Grupos podem investir na construção de habitação
Um dos principais problemas com que os hoteleiros se deparam é falta de alojamento que os potenciais funcionários possam pagar. Para, de alguma forma, minorar esta situação, Pedro Lopes diz que as empresas do setor estão disponíveis para colaborar na construção de habitações.

A ideia passaria por as autarquias lhes disponibilizarem alguns lotes de terreno urbanizável, onde possam investir na construção de apartamentos. Como contrapartida, ficariam com o direito de os usarem para alojar os seus funcionários ao longo de um número considerável de anos.

Pedro Lopes já apresentou esta sugestão a alguns autarcas e garante que “os municípios que primeiro a aceitem ficam com grande vantagem competitiva em relação aos outros”.

Os anos da pandemia levaram a alterações substanciais no setor turístico. Muita gente descobriu que, através da internet, pode marcar as suas férias, dispensando o intermediário, ou seja, os grandes operadores turísticos que dominavam o mercado e cujo volume de negócios, por esta razão, caiu substancialmente.

Esta nova realidade coloca desafios novos às empresas turísticas. Pedro Lopes lembra que até há poucos anos “sabíamos com grande antecedência que taxas de ocupação iríamos ter, pois os operadores faziam reservas para todo o ano”.

Com o crescimento exponencial da marcação de alojamento por parte dos consumidores, isso deixou de acontecer, pois passaram a fazer as reservas com muito menor antecedência, em grande parte dos casos até praticamente em cima da hora, o que “nos causa um stress constante”. Pela positiva, “há a possibilidade de irmos ajustando os preços em função da procura”, o que significa maior facturação.

No Algarve, a TAP não conta para nada
Natural de Lisboa, onde nasceu há 62 anos, Pedro Lopes está no Algarve há muitos anos e tem sido um espetador privilegiado da evolução do turismo na região que, de uma forma geral, considera ter “corrido bem”.

Para isso muito têm contribuído “as companhias aéreas low cost que foram e são essenciais para o crescimento do mercado” através da criação de ligações diretas de Faro a diversos pontos do mundo. Já o mesmo não pode dizer da companhia aérea TAP que “nunca deu qualquer ajuda ao setor e que para nós não conta”.

Pedro Lopes mostra-se optimista em relação ao futuro do turismo na região. Mas, tendo em conta que o sol e praia é o produto que atrai a esmagadora maioria dos turistas, considera que o problema da sazonalidade vai existir sempre. Contudo, “se mantivermos na época alta os níveis atuais e conseguirmos aumentar um pouco na ‘época média’ já será muito bom, aproveitando as empresas os restantes meses para dar férias ao pessoal e fazer obras nas unidades hoteleiras”.

Alguns passos já foram dados no sentido de esbater os efeitos nefastos da sazonalidade, tendo o golfe tido um papel importante, pois atrai visitantes fora da época alta. Mas não sendo possível construir muitos mais campos, há que olhar para outras vertentes complementares, como o incremento do turismo náutico, que pode também ajudar para trazer mais visitantes.

No que a Portimão diz respeito, este profissional do setor olha com muito interesse para a possibilidade de ser construído um verdadeiro campus universitário no concelho, um projeto já anunciado, essencialmente virado para as novas tecnologias e que pode ficar ligado ao parque tecnológico do Autódromo do Algarve, que também vai avançar.

Mas fundamental mesmo para o setor seria “o alargamento da pista do aeródromo municipal, que, dessa forma, teria possibilidade de se tornar um polo de atividade importante ao longo de todo o ano”.

Os problemas da água e do lixo
Há duas outras matérias básicas que preocupam Pedro Lopes. Uma delas é o combate à crónica escassez de água, através da tomada de medidas como a utilização de água das ETARS para rega de espaços públicos e o combate às perdas no sistema de abastecimento.

Pedro Lopes mostra-se, também, a favor da construção da prevista unidade de dessalinização, apenas lamentando que só agora o processo esteja a dar os primeiros passos.

O outro problema que afeta as empresas turísticas é a recolha de lixo. Por serem consideradas grandes produtoras de resíduos passaram a estar fora do circuito de recolha da Algar e das autarquias e a terem de contratar empresas privadas.

Mas o problema maior é que essas empresas têm dificuldades em encontrar espaços onde depositar o lixo, uma vez que a maior parte não é aceite pela Algar. Isso deve-se ao facto de “os aterros que temos estarem a ficar cheios, pelo que há que tomar medidas para resolver esta questão o mais rapidamente possível”.

Hotel Pestana CR7 na região é uma possibilidade
No Algarve, o grupo Pestana tem o ‘grosso’ da sua atividade instalado no Barlavento, em especial, no concelho de Portimão, onde mantém seis unidades de maior dimensão e algumas outras mais pequenas, num total superior a 1200 quartos e cerca de 2500 camas.

A este portefólio juntam-se ainda quatro hotéis noutras zonas, outras tantas pousadas, quatro resorts com ‘real estate’ associado e cinco campos de golfe.

Nesta altura está a desenvolver um conjunto 77 unidades na zona de Carvoeiro, para venda e exploração, e a iniciar mais um grande empreendimento de imobiliário turístico, também no concelho de Lagoa, na zona do Gramacho, perto de Ferragudo.

Para já é este o ‘retrato’ do grupo na região, mas Pedro Lopes não fecha portas a outras possibilidades futuras.

A nível global, o Pestana conta com cerca de uma centena de hotéis e resorts em vários pontos do mundo. Uma das mais recentes ‘linhas’ de hotéis resulta de uma parceria com Cristiano Ronaldo e tendo em conta que o grupo pretende ter, em cada região em que atua, ofertas para todo o tipo de clientes, Pedro Lopes admite que seja uma possibilidade a criação de um hotel Pestana CR7 no Algarve.

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