‘Vida à Portuguesa’ recupera tradições antigas em azulejo

Inna Iefimenko é apaixonada pelo passado de Portimão e quis colocar essa paixão à vista de todos. Então criou o projeto ‘Vida à Portuguesa’. Foi uma descoberta casual e uma experiência que se mostrou bem sucedida.

Já são quatro os edifícios na cidade que foram revestidos pelos painéis de azulejos da artista ucraniana, que há vários anos chegou a Portugal, e se encantou pelo concelho algarvio. Um deles fica na Rua da Barca, outro da Rua do Colégio e são ambos imóveis recuperados pelo marido da artista, Fernando Sequeira, para funcionar como alojamento local. Há ainda uma antiga oficina, do seu marido, e uma nova marisqueira, na Rua da Hortinha, cujos proprietários solicitaram que Inna Iefimenko criasse um projeto para a fachada do espaço.

O seu propósito é simples, mas cria um impacto forte, quer nos residentes, quer nos visitantes. E não são raras as vezes que os imóveis fazem os turistas parar e fotografar os detalhes das fachadas.

“Há muitas casas abandonadas no centro da cidade e temos aqui coisas bonitas que foram destruídas. Se eu consigo melhorar, porque não ajudar a renovar o centro?”, começa por explicar.

“Investimos no alojamento local e estamos a chamar mais turistas, o que, por sua vez, traz mais trabalho aos restaurantes, limpezas… Acho que, se cada pessoa fizer um pouco, é bom para a cidade. Aqui, eu gosto de contar a história, colocar valor cultural nos meus projetos”, justifica.

Passado rico
A inspiração é a história e cultura portimonense. A artista não desenha ao acaso. Procura elementos que contem o passado do concelho e que se enquadrem na zona onde estão construídos ou o uso que vão ter. Ou seja, na Rua da Barca, os painéis são alusivos “à pesca da sardinha, porque havia a descarga e uma grande indústria conserveira, e aquele edifício fica perto do cais”, argumenta. Procurou ler e ver fotografias antigas para se inspirar.

O segundo projeto, na Rua do Colégio, mistura os frutos do mar com os da terra, por isso, no mesmo espaço convivem, por exemplo, figos com polvos.

Para a oficina do marido, que tem também a paixão pelo restauro de automóveis antigos, Inna Iefimenko pesquisou quais as marcas portuguesas de carros que existiam e colocou no azulejos modelos dessas insígnias. “Misturei com o homem a vender as sardinhas e com os gatos, porque perto da garagem havia uma colónia”, descreve. Já na marisqueira ‘Allgarbe’, não faltam a cataplana, os mariscos, a ponte, a Praia da Rocha antiga.

Sob o mote ‘Vida à Portuguesa’, a artista tem vindo a divulgar os seus trabalhos, sobretudo, nas redes sociais, e tem tido propostas para fazer projetos para privados noutras zonas do Algarve, mas a falta de tempo tem levado a que vá recusando a maioria. “Não digo completamente que não, mas não tenho tempo. Para já, queria dedicar-me apenas ao centro de Portimão”, afirma.

É que além de desenhar estes painéis, que exigem muitas horas de trabalho, Inna gere os Alojamentos Locais, com o marido, e ainda é voluntária, sobretudo, no que toca a salvar animais de rua.

“Geralmente não faço azulejo para interior, apenas se a pessoa quiser para a fachada. Então aí faço para ambos. Se for só para dentro, não. Isto tudo leva muito tempo, consome muita energia. Os azulejos levam pó de vidro. Não se pode tocar com as mãos, por isso tenho de estar em ‘equilíbrio’. São painéis enormes. Geralmente, divido em partes ou uso escadotes”, conta.

Um começo por acaso
O uso de painéis de azulejo em fachadas foi uma descoberta quase por acaso. “Tínhamos ido à Ericeira, onde o meu marido tem casa, e vimos umas casas restauradas, em estilo português, mas com azulejos à mistura. Muito artístico e nós adorámos. Quisemos restaurar as nossas casas e encomendar azulejos. Então ele perguntou onde podíamos encomendá-los. Pensei desenhar o projeto, mandar fazer e comprar. Só tinha de colar. Mas depois o meu marido começou a dizer-me que podia fazer eu”.

A artista com formação em artes e arquitetura, numa universidade ucraniana, não queria. Achava que seria complicado, mas acabou por ceder e por experimentar. Fez pesquisa, informou-se, começou a desenhar pequenos painéis e, mais tarde, lançou-se nas fachadas.

Já trabalhou como arquiteta e é a responsável pela renovação dos interiores destes alojamentos locais. Tal como nas fachadas, a ideia é juntar elementos do passado, por isso na decoração utiliza muitos objetos encontrados em lojas de antiguidades ou feiras.

A artista tem mais projetos na calha que serão divulgados à medida que os for concretizando, mas, para já, estes são um motivo de atração, sobretudo, para os visitantes da cidade que ficam fascinados com as fachadas destes edifícios.

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