Uma preguiça e carrosséis são novidades no Zoomarine
É durante o encerramento ao público que são feitas as alterações, requalificações e manutenções necessárias. É uma média de 130 funcionários a garantir funcionamento do parque entre outubro e fevereiro.
É uma tarde fria de Inverno e o Zoomarine não mostra a habitual ‘vida’ da época alta. Os portões estão fechados e quem passa na Estrada Nacional 125 até pensa que, como o parque está fechado, muito pouco se passará dentro de portas.
É verdade que quando se entra, nota-se menos movimento, mas há uma centena de colaboradores que, todos os dias, garantem o bem-estar dos animais, a limpeza e manutenção do espaço, refeições para os funcionários que estão de serviço e outras tarefas habituais. Além dos cuidados aos seres vivos, entre novembro e fevereiro, há todo um conjunto de tarefas que têm de ser realizadas, para garantir que abre para uma nova temporada com todas as condições e muitas novidades. Este ano a abertura será a 6 de março, com a estreia de três diversões e uma nova espécie, além de um restaurante renovado.
À Algarve Vivo, Élio Vicente, diretor de Relações Externas do Zoomarine, admite que “acha curioso as pessoas não imaginarem o que é a preparação das equipas e do espaço para as próximas temporadas. Um parque que recebe 650 mil visitantes entre março e outubro, necessita de ser pintado, requalificado, de fazer a manutenção de equipamentos e áreas”. Por sua vez, todos os anos há uma nova atração, há habitats que são aumentados ou criados e, no total, são 26 hectares visitáveis que têm que estar em condições perfeitas. Na visita ao parque, a Algarve Vivo ficou a saber quais são as novidades de 2020 e o que implica ter o parque fechado, mas a funcionar.
A preguiça Hélio
O Zoomarine terá, a partir de março, um novo membro na família. Chama-se Hélio, é uma preguiça macho e será integrado no habitat de imersão ‘Américas’. “Estamos a ajustar o espaço para esta nova espécie que vamos receber. Isto é algo que se efetua quando o parque está fechado e, estes ajustes podem passar por novos equipamentos ou pela jardinagem com a colocação de árvores diferentes adequadas a cada animal.Quando chegam espécies que não temos, há que criar condições para que estas possam ter uma vida o mais natural possível, reproduzindo os comportamentos que teriam no meio selvagem”, explica o responsável. É mais um exemplar que se junta ao conjunto que conta com golfinhos roazes, leões marinhos, focas e diversas aves, desde as tropicais e às de rapina.
Restaurantes e carrosséis
O Zoomarine está a ultimar a intervenção no restaurante Flamingo, que mudará de forma radical. “Estamos a melhorar o espaço, porque queremos agilizar as entradas e saídas de pessoas, evitando que se formem grandes filas” no acesso à comida”, justifica. Os novos espaços de restauração serão o ‘Bamboo’ e o ‘Acqua’, que permitirão dispensar os descartáveis e os produtos mono uso, apostando em 94 por cento de produtos reutilizáveis, reciclados ou biodegradáveis em todo o recinto.
“Melhorámos os nossos jardins e vamos contar com novas atrações”, sendo as novidades o ‘Ferry Boat’, a ‘Torre Farol’ e o ‘Twist Manta’, desvenda o diretor de Relações Externas. Há também dois novos filmes 4D e um novo programa de encontro entre os mais pequenos e os golfinhos roazes.
Formação e experiência é aposta
No Inverno, quando o parque encerra ao público, a grande aposta é a formação. “As nossas equipas estão permanentemente a fazer formação, sobretudo no Inverno, em diversas áreas como em técnicas laboratoriais, de investigação, comportamento médico, línguas, atendimento ao cliente, higiene e segurança no trabalho. Muitos aproveitam também para ir a congressos técnicos científicos ou pedagógicos”, sublinha.
Aliás, o Zoomarine valoriza a experiência e mantém os colaboradores, sobretudo, os treinadores. Carla Flanagan, médica veterinária e diretora zoológica do Zoomarine, destaca a importância da estabilidade das equipas. “Por um lado, há uma relação que se cria com os animais, por outro há a experiência. A nossa treinadora chefe está cá desde 1995, já assistiu a partos e geriu diversas situações e essa experiência não é substituível. Não podemos trabalhar com equipas de ‘rotatividade’. Se o Zoomarine não tivesse a política de formação e de manutenção de funcionários efetivos o ano inteiro, não conseguiríamos manter os critérios” de qualidade.
E há sempre a inovação por trás, explica a médica, acrescentando que há uma veterinária na equipa que está a trabalhar na área da medicina complementar ou zonoterapia, algo que ninguém faz. Isso só é possível porque há uma estrutura bem implementada.
De 130 para 500 colaboradores
Os números não enganam. No Verão, o parque chega ao limiar dos 500 colaboradores, com postos de trabalho diretos e indiretos, estando no espaço uma média de 450 por dia, se tivermos em conta que há quem esteja a gozar folga. “Esta é uma das poucas empresas, que no Verão, dá dois dias de folga aos funcionários. Já no Inverno, temos entre 120 a 130 trabalhadores efetivos, com cerca de 80 pessoas no parque todos os dias”, garante. Um número significativo para uma empresa que entre outubro e fevereiro está de portas fechadas. Muitas empresas podem encerrar, mas o Zoomarine não pode dar-se a esse luxo, por isso é quase como na fábula da formiga e da cigarra. “Trabalhamos no Verão para sobreviver no Inverno”, diz. Há que manter e alimentar os animais, continuar os programas de educação e de ciência e muitos outros assuntos que vão muito além da rotina do dia a dia zoológico.
“É um desafio para o Zoomarine. Os nossos animais, no caso dos mamíferos, até comem mais nesta altura do ano. E há custos maiores em termos energéticos, porque alguns habitats têm que ser aquecidos”, descreve ainda.
Medicina preventiva
Quer o parque temático esteja aberto ou fechado, a gestão e o trabalho diários com os animais são iguais, porque não dependem do número de visitantes. Há, porém, um trabalho de bastidores, que aos olhos da maioria dos visitantes é invisível. “Há atividades que fazemos durante o dia, em termos de apresentações, quando o parque está aberto e que, no Inverno, as substituímos por outras de enriquecimento ambiental”, refere Carla Flanagan. O parque tem uma equipa veterinária permanente, com quatro médicos e duas enfermeiras que implementam um programa de medicina preventiva. A saúde dos animais é monitorizada com muita frequência e vai desde as colheitas de sangue, ao raio-x ou a uma intervenção de saúde oral, exemplifica. Esse trabalho é feito em colaboração com a equipa de treinadores.
Esta vigilância constante do estado de saúde, leva a que a equipa não espere que algum animal tenha sintomas para intervir. “Quando detetamos algum desvio conseguimos agir numa fase ainda muito precoce da doença”, argumenta a diretora. Apesar das apresentações entreterem o público, o grande volume de trabalho é dedicado a garantir comportamentos que a equipa considera de bem-estar. É por isso que existe um forte planeamento e diversos protocolos para qualquer situação que possa acontecer. “Temos um plano anual de saúde dos nossos animais, ainda que possam haver imprevistos que têm de ser geridos”, acrescenta.
Geriatria nos animais
Com o bem-estar e os cuidados assegurados, é normal que os animais vivam mais anos. No meio selvagem, os espécimes mais frágeis ou debilitados são presa fácil para os predadores. Nos zoos e parques isso não acontece e, ao serem bem cuidados, vivem mais tempo. O Zoomarine já teve dois golfinhos que faleceram aos 50 anos e, na atualidade, tem uma foca cinzenta com cerca de 33 anos.
Este parque temático integra, aliás, uma restrita lista de menos de 30 no mundo, da ‘American Humane Association’, que valida e avalia o nível de bem-estar dos seus animais.
“A geriatria é um tema muito curioso”, começa por dizer a diretora zoológica, “pois há uns anos o livro de medicina de mamíferos marinhos não tinha muita informação sobre isto. Quando comecei a trabalhar aqui nós tínhamos, e ainda, temos uma foca cinzenta que, neste momento, já deve ter 33 anos e na altura, há 12 anos, já me diziam que aquela fêmea era muito idosa. A verdade é que à medida que o tempo vai passando vamos percebendo que se garantirmos a alimentação, a saúde, tudo o que os nossos animais precisam para estar bem, eles vivem mais anos”, constata. Mas, este assunto não é visto com a mesma preocupação em todos os zoos e parques e ainda não é uma realidade em muitos pontos do mundo, ainda que em Albufeira já o seja.
Desafios da idade
É óbvio que quanto mais anos vivem, mais desafios vão sendo colocados às equipas veterinárias, que estão também em constante aprendizagem.
“Vamos implementando medidas para garantir esse bem-estar nos ‘idosos’. Se sabemos que um animal idoso pode ter mais problemas renais, vamos hidratá-lo mais vezes. Vamos monitorizar diversos parâmetros, a par do que já fazemos com a medicina preventiva. Se, aliás, não houvesse essa prevenção, tenho a certeza de que eles não iriam chegar a esta idade. O que tem acontecido é que à medida que o tempo vai passando vamos tentando publicar e divulgar alguma informação sobre o que são os valores normais” destes animais mais velhos, refere.
“Já tivemos dois golfinhos com idade muito avançada, um dos quais perdemo-lo no final de 2018, e a verdade é que todo o maneio e forma de trabalhar com eles muda muito consoante a idade, porque pode não ouvir ou ver tão bem. Então temos que adaptar o treino, o processo e a medicina preventiva”, justifica.
No caso do Zoomarine, os animais geriátricos da coleção são integrados de forma normal. O golfinho roaz Sam, com 50 anos, era inclusive o macho mais velho do mundo, dos espécimes que eram conhecidos pela comunidade científica.
Outro dos indicadores de bem-estar é também a reprodução, como conta a médica. “A família vai crescendo, mas há que ponderar sempre antes. Temos que pensar que, se vamos ter um nascimento temos que ter espaço, equipa e todas as condições. E nem sempre é fácil encontrar outro parque que tenha espaço para aquele animal” e os mesmos critérios de bem-estar, acrescenta.
Responsabilidade social
“Recebemos 650 mil visitantes no ano passado, entre março e outubro, mas nem todos são pagantes. Há muitas pessoas que entram no parque graciosamente, porque estão integradas no nosso programa de responsabilidade social. Por exemplo, as escolas de Albufeira, com as quais temos um protocolo, não pagam entrada, assim como muitos idosos ou pessoas com limitações. Também fazemos a Festa do Sorriso para as crianças que estão institucionalizadas nas várias entidades do Algarve. São uma média de duas mil crianças”, explica Élio Vicente.
De sete para 40 hectares
O parque Zoomarine foi inaugurado a 3 de agosto de 1991, com uma área de sete hectares, incluindo estacionamento, e agora chega a uma área de 40 hectares. Uma boa parte não está ainda disponível aos visitantes, porque faz parte das áreas de expansão para o concelho de Silves. Neste momento, são 26 hectares de área visitável. Os planos de investimento e de expansão são efetuados em ciclos de cinco anos por Pedro Lavia, fundador do Zoomarine, que tem sido um investidor corajoso e visionário. A intenção é que as pessoas de todas as idades deixem o espaço com a sensação de que se divertiram e que se calhar um dia não foi suficiente para usufruir de tudo.
‘Arca Viva’ ajuda a cuidar dos cavalos marinhos
A nova atividade de responsabilidade social criada pelo Zoomarine, este ano, no âmbito do programa ‘Together We Protect’, que se juntará à ‘Operação Montanha Verde’ e à ‘Praia Limpa’ chama-se ‘Arca Viva’ e remete para o conceito de Arca de Noé. Segundo o responsável Élio Vicente cada vez mais espécies só conseguem viver em zoos, devido ao facto dos seus habitats naturais estarem destruídos. Tendo em conta esta realidade, a intenção é que as pessoas ajudem a proteger um animal. Neste caso, a escolha foi o cavalo marinho da Ria Formosa, no sotavento algarvio.
“O desafio aqui é um pouco mais complexo. Tínhamos que garantir que seria um projeto feito com qualidade e segurança, quer para os voluntários, quer para os habitats naturais da espécie. Não podemos colocar não especialistas a trabalhar com espécies ameaçadas”, esclarece. Em parceria com a Universidade do Algarve (Ualg) e outras entidades, o Zoomarine promoverá a remoção do caranguejo azul, também conhecido por siri, uma espécie exótica que vive na América Central e do Sul, mas que chegou à costa algarvia. “Está a reproduzir-se de uma forma vertiginosa” e prejudica o habitat do cavalo marinho, diz o biólogo marinho.
O Zoomarine não espera resolver o problema, mas lançará o alerta acerca do perigo das espécies invasoras. “Convidámos alguns grupos de pessoas que estão a ter formação específica para ajudarem na remoção destes caranguejos. Isto não é um convite a que todos entrem pela Ria e retirem os espécimes invasores, mas, no âmbito desta atividade, acompanhados por especialistas ajudarão a limitar a progressão desta população”, esclarece.
A ação materializa o terceiro eixo do ‘Together We Protect’, que tem já consolidados o eixo terra, com a ‘Operação Montanha Verde’, agendado para 8 e 9 de novembro e o eixo mar com a ‘Operação Praia Limpa’, previsto para 10 de maio.
No futuro, avançará um quarto eixo dedicado às pessoas. Todas as iniciativas deste programa são realizadas em regime ‘pro bono’, em que o Zoomarine convida as instituições a serem parceiras, sem encargos a nível monetário, pois é o parque que organiza e providencia todo o equipamento, comida e bebida, e, por vezes, até o transporte.
Lógica é duplicar
Quando começou a ‘Operação Montanha Verde’, em 2016, o Zoomarine ofereceu 5700 árvores a Monchique para serem plantadas por voluntários, mas na impossibilidade de o município aceitar, a ação foi desenvolvida em Silves. O sucesso foi grande, tanto que, no ano seguinte, o parque resolveu duplicar, alargando a plantação a outro concelho. Assim, Silves recebeu 5000 árvores, tal como Loulé, mas o concelho do barlavento obteve mais 500 plantas para colmatar as potenciais perdas do ano anterior. Em 2018, a lógica foi a mesma com a ação a chegar a quatro municípios (Silves, Loulé, Portimão e Monchique). Em 2019, foram oito concelhos, com as entradas de Lagoa, Olhão, Tavira e São Brás de Alportel, e 42 mil árvores.
Em 2020, caso todos os municípios aceitem, serão plantadas 84 mil árvores. “Já sabemos que há municípios que não conseguem acolher as plantas todas, por isso estamos a negociar com a Ordem dos Biólogos e com a Ualg no sentido de identificar no Alentejo dois ou três concelhos que possam integrar a ‘Operação Montanha Verde’, permitindo a criação de corredores ecológicos para a migração das espécies entre as duas regiões”, justifica. São apenas escolhidas espécies endémicas.
Os voluntários desta ação também têm vindo a aumentar, com cerca de 4200 pessoas a dar uma hora ou duas do seu tempo para ajudar, em dois dias. O domingo foi dedicado às famílias e aos escuteiros e a segunda-feira à comunidade escolar.
Também na ‘Operação Praia Limpa’, o princípio é o mesmo e o objetivo é educar as pessoas para o conceito de manter o espaço limpo. A novidade em 2019 foi a limpeza do fundo marinho, com a parceria das operadoras marítimo-turísticas. A ação começou em duas praias de um concelho, no ano seguinte passou para três concelhos em seis praias e, em 2020, será promovida em 18 praias de nove concelhos.
A Algar, por exemplo, além das autarquias, é parceira nas duas ações. Numa fornece o composto e noutra recolhe e separa os resíduos encontrados nos areais e no mar.
Educação é chave
Além da vertente de entretenimento do parque, há várias dinâmicas pedagógicas tradicionais para o público que visita o espaço nos concelhos de Albufeira e Silves. Há visitas guiadas, apresentações didáticas, apresentações para grupos escolares e a alimentação das raias. Outra das iniciativas é a ‘Noite com os Tubarões’, que é realizada em datas pré-definidas, e que permite aos inscritos dormir uma noite junto ao aquário dos tubarões.
Campos de férias
O parque temático Zoomarine tem campos de férias para os mais novos. A insistência das pessoas levou a que o Zoomarine, em 2012, criasse esta vertente educacional. Já havia vontade dos responsáveis do parque, mas foi a pressão dos interessados que fez o programa avançar. O sucesso foi imediato, tanto que esgotou as vagas e, no ano seguinte, já havia dois campos de férias, o ‘Clube do Sam’ e os ‘Guardiões do Zoomarine’. E continua a ser muito procurado, pois as inscrições abrem três meses antes e ao fim de duas semanas estão esgotadas.