Lares de Lagoa a salvo da COVID-19

Texto: Rui Pires Santos


São boas notícias as que nos têm chegado dos lares do concelho. Até à data do fecho desta edição todos os testes ao novo coronavírus tinham sido negativos. Centro de Apoio a Idosos de Ferragudo e Centro de Apoio Social de Porches receberam a visita do Algarve Biomedical Center (ABC), entidade que está a realizar a despistagem, e todas as análises deram negativo (ver caixa). À data do fecho desta edição, aguardavam-se os resultados do Centro Popular de Lagoa.

Os sinais são positivos e demonstram o bom trabalho que está a ser realizado, ainda que não permita aliviar as medidas de contenção, salientam diferentes responsáveis de instituições do concelho ao Lagoa Informa. E se a falta de equipamento de proteção individual era o grande problema inicial, a situação parece agora controlada, ainda que as necessidades sejam constantes.

VIDEOCHAMADAS À FAMÍLIA
No Centro Popular de Lagoa, vai-se vivendo o dia a dia. “Fazemos o esforço possível para tentar manter-nos sem contágios”, começa por dizer João Carlos Pereira, presidente da direção da instituição ao nosso jornal.

Dirigentes dos lares asseguram que o rigor
e as medidas de contenção se irão manter e que não
é ainda possível ‘baixar a guarda’

A pandemia veio colocar novos desafios e aumentar dificuldades. “Inicialmente não tínhamos equipamento de proteção adequado, mas mais difícil foi a falta da nossa equipa de saúde. Neste momento, temos apenas ao serviço um enfermeiro, pois duas enfermeiras estão de baixa e outra despediu-se pouco antes da pandemia. Tivemos de reorganizar a equipa com duas auxiliares de enfermagem que têm já uma grande experiência na área, a que se juntou a psicóloga. Atualmente já contamos equipamento de proteção suficiente, pois além de alguma compras, a fundação EDP fez-nos uma doação que chegou na Sexta-feira Santa, 10 de abril, e a Câmara de Lagoa também nos entregou recentemente materiais”, explica.

Com o lar ‘fechado’, sem receber visitas desde 14 de março, os utentes sentem falta da família. É aqui que entram as novas tecnologias. “Temos feito muitas videochamadas através dos nossos telemóveis e dos funcionários. A Universidade Sénior de Lagoa dou-nos um portátil que também tem ajudado bastante. Por um lado, estão a achar engraçado essa forma de comunicação, mas nota-se que começam a sentir algum ‘stress’ por não os verem pessoalmente”, revela João Carlos Pereira.

As medidas de contenção assim o obrigam. “Logo a 14 de março interditámos as visitas ao lar. Contactamos as famílias dos 31 utentes do centro de dia e eles foram para casa. A onze desses mantemos o apoio na totalidade, domiciliando os serviços. Aos restantes vamos telefonando, vendo como estão e se precisam de algum apoio ou não. Pontualmente requisitam alimentação. As nossas funcionárias do apoio domiciliário não sobem ao piso do lar. Deslocámos alguns vestiários para não terem contacto com os restantes funcionários. Desinfetamos as carrinhas duas vezes por dia. Os utentes estão confinados sempre aos mesmo piso e tentamos que os funcionários estejam sempre no mesmo andar. Os funcionários medem temperatura à entrada e saída, há um tapete com lixívia para limparem os pés e as fardas são lavadas diariamente na nossa lavandaria. Uma série de cuidados que não podemos descurar”, sublinha.

“NÃO BAIXAR A GUARDA”
Em Porches, os cuidados são também muitos. “Temos vivido momentos de muita preocupação, ansiedade, mas demonstrou-se um espírito de equipa incrível e entreajuda entre os funcionários. Tem havido muita dedicação e cuidado para proteger os nossos utentes”, assegura ao Lagoa Informa Cláudia Mestre, diretora do lar do Centro de Apoio Social de Porches.

A falta de material de proteção individual já não é problema, pois têm chegado nas últimas semanas inúmeros equipamentos através de diferentes entidades. As medidas foram fortes e estão a surtir efeito. Assim o comprovam os testes à COVID-19 realizados a 23 de abril pelo Algarve Biomedical Center, que deram negativo (ver caixa).

“Cancelamos as visitas, os fornecedores deixaram de vir cá dentro, as entregas são feitas à porta. Aplicámos uma dinâmica diferente na instituição, cuidados de higiene e desinfeção dos funcionários quando entram e saem, além do distanciamento social quer nos funcionários, quer nos utentes, apesar de todos terem equipamentos de proteção individual”, explica a responsável.

“Tem sido duro para os idosos estarem longe das famílias. Utilizamos as redes sociais e fazemos videochamadas, mas é insuficiente. Estão muito tristes, isso é evidente. Estavam habituados às visitas todos os fins-de-semana…”, refere.
Com esperança no futuro, Cláudia Mestre salienta que, apesar de a situação da pandemia parecer controlada, “é preciso manter os mesmos cuidados” todos os dias. “Não podemos descurar nada, temos de continuar a ser rigorosos e não é possível baixar a guarda!”.

RIGOR EM FERRAGUDO
O Centro de Apoio a Idosos de Ferragudo (CAIF) foi o primeiro lar do concelho a receber testes à COVID-19, no dia 17 de abril. Todos foram negativos, tranquilizando os 45 funcionários (lar e creche) e os 50 utentes.

“Foi uma boa notícia e que confirma o bom trabalho que está a ser desenvolvido por todos. Neste período tivemos de nos adaptar à realidade e fechar o centro ao exterior. Seguimos todas as medidas de contingência e os funcionários foram excecionais na dedicação. Fizemo-lo cedo e adotámos medidas rigorosas. Os idosos estão num só piso, os funcionários fazem uma semana seguida de trabalho, depois vem outra equipa, para serem sempre os mesmos a tratar dos idosos e há uma série de cuidados de higiene e proteção à entrada e saída dos funcionários”, afirma Carlos Belbute, presidente da direção do CAIF.

A falta de material de proteção é uma das preocupações. “Neste momento até temos, porque recebemos de diferentes entidades, entre elas a autarquia, mas as necessidades são constantes e sabemos que há materiais esgotados. O pior são as máscaras, estão no limite. Recebemos da Câmara alguns materiais que vieram ajudar e dão para mais alguns dias e depois voltaremos a precisar”, refere Cláudia Martins, a diretora do lar deste centro, que tem também creche, atualmente encerrada.

Os dias não têm sido fáceis. O que importa é manter o vírus longe, dizem, mas os utentes começam a queixar-se cada vez mais por não ver os familiares.

“Essa parte está a ser complicada. Os idosos estavam habituados a ser visitados pela família com regularidade e agora isso não é possível. É a principal queixa deles e estão tristes. Já comentamos muitas vezes entre nós que se ‘não morrem da COVID-19, morrem de desgosto por não estarem com as famílias”, alerta a responsável.

Também Carlos Belbute pensa como serão as próximas semanas e as dificuldades que ainda podem surgir. “É importante que não volte a faltar equipamento de proteção individual. Com a abertura da creche, prevista para maio, vamos ter de libertar funcionários que estavam a dar apoio ao lar e aí podemos vir a ter um problema: a falta de pessoal.”
“A incerteza” é também uma palavra muito utilizada e comum aos responsáveis das três instituições ouvidas pelo Lagoa Informa, pois o cenário pode mudar muito rapidamente. O que interessa é “proteger os idosos e manter o vírus longe dos lares”, sublinham.

You may also like...

Deixe um comentário