Opinião Agir | Associativismo, Cultura e Democracia
Agostinho Custódio, in Lagoa Informa nº 157
1- Quando somos jovens queremos um grande bife com muita batata frita. Necessitamos de muita energia para alimentar esta fase vulcânica da nossa vida. Mais tarde, o bife pode não ser tão grande, basta carne de boa qualidade e acompanhada de um bom vinho.
Continuamos a crescer e a amadurecer e procuramos companhia para o bife, com pessoas que gostem de conversar, contar histórias, fazer amizade. Mais tarde, sentimo-nos mais completos se comermos o bife acompanhados, presenciando um concerto musical, uma peça teatral ou dançando num baile.
Realmente, quando amadurecemos o pão e o vinho já não valem só por si, como alimento individual, a fome que passamos a ter é do corpo mas também da alma, não é só pessoal mas também familiar e social.
No início da vida alimentamo-nos depois comemos: saboreamos a culinária que é a arte de misturar alimentos com temperos para realçar o sabor. A mesa não é só o lugar para comer mas também para conversar, criar laços, cimentar amizades, fazer projetos, sonhar o futuro.
2- Crescer e amadurecer deve também fazer parte das nossas Coletividades. Crescer torna-nos maiores, possibilitando mais atividades, valências e sócios; amadurecer significa maior qualidade no que fazemos e no que somos perante nós, os outros, a sociedade e o mundo.
Um bar, na nossa Coletividade, não deve ser apenas um local de venda de bebidas, quantas vezes fomentadoras de alcoolismo e, por conseguinte, de falência económica, familiar e profissional e o lucro, as taças e as medalhas nunca deveriam ter o primeiro lugar.
Temos por missão proporcionar um ambiente associativo mais humano e fraterno, integrando e unindo as famílias entre si e na sociedade envolvente. Queremos os pais, as mães e os filhos presentes e felizes nas nossas atividades. Pretendemos ligar tudo o que temos e somos (comida, bebida, desporto, família, música, baile, teatro, economia, amizade, amor) fazendo da nossa vida uma festa permanente em prol de um mundo cheio de leite e mel para todos. o Associativismo significa mesmo isso: associar, unir, ligar, restaurar, integrar e revitalizar este mundo cada vez mais dividido e fragmentado.
3- Este Associativismo virado para a QUALIDADE tanto quanto possível em quantidade, com vista a formar uma cidadania altamente qualificada, é indispensável para a construção da Democracia Portuguesa e Europeia.
Ao contrário das ditaduras (de Direita ou Esquerda) que vivem da divisão, ignorância e repressão, a Democracia, porque aposta na Liberdade, promove o desenvolvimento pessoal e cívico da pessoa humana, baseando as suas leis na Declaração dos Direitos Humanos.
A Democracia, como vivência social da Liberdade e da Fraternidade, não deve ser apenas ‘uma moda’ ou instaurada quando ‘dá jeito’ a alguns donos disto tudo, ela já faz parte integrante da nossa maneira de viver na família, no trabalho, no bairro e na sociedade. A Liberdade é inseparável de toda a ação criativa e cultural e só neste clima poderemos exercitar verdadeiramente a tolerância, a não violência, o diálogo e o Amor.
Só com Coletividades fortemente empenhadas poderemos formar devidamente as crianças, os jovens e os adultos para esta vivência social, no sentido de atingirmos Democracias suficientemente desenvolvidas e, como tal, capazes de enfrentar e ultrapassar eficazmente, de forma pacífica e dialogante, todos os desafios que diariamente o mundo nos lança.