Maria da Luz Santana: “Estou a contribuir para o bem-estar das pessoas”
De palavra e contacto fácil, a autarca sente que tem conseguido auxiliar quem mais precisa, seja na resolução de pequenos problemas, seja no apoio social, numa altura em que cada vez há mais pedidos de ajuda. Parques infantis, ambiente e cultura são também prioridades para Maria da Luz Santana, que está à frente da Junta desde outubro de 2021.
O que mais ouve na rua? Há quem ainda não a identifique como presidente da Junta?
Sim, ainda há quem não saiba quem sou. E fico satisfeita, quando consigo entender o problema das pessoas, sem que elas percebam que sou a presidente de Junta. O que mais me agrada é ouvi-las. Nos primeiros meses, a preocupação era a covid-19, o estar fechado, a retoma da vida normal. Hoje, é a apreensão pelos tempos que estamos a viver, que se avizinham cada vez mais difíceis e complicados. As pessoas estão muito apreensivas com o crescimento da inflação, com a capacidade ou não de cumprir com as obrigações a nível económico.
Essa preocupação existe em várias faixas etárias?
É verdade. Estão preocupadas com a segurança, mas, neste momento, é diferente de antes da pandemia, pois deixou de ser uma prioridade, que agora foi substituída por ‘como é que conseguimos ultrapassar as dificuldades económicas. Os salários mantêm-se, o custo de vida está muito elevado e como é que nós vamos satisfazer as necessidades básicas’.
Houve um aumento dos pedidos de ajuda?
E prevemos que vá aumentar ainda mais. O que mais nos preocupa é aquilo a que chamamos de pobreza envergonhada.
Ainda há muita?
Cada vez há mais. Até à data, o problema era na classe baixa. Neste momento, começamos a assistir a um problema na classe média. Aquelas pessoas que sempre tiveram uma vida estável e organizada, que investiram na compra de casa, de carro, e que, com o valor da taxa de juro a disparar, estão a ficar preocupadas com a capacidade que têm de cumprir. A preocupação não é o desemprego, porque está mais controlado, mas com o ter valor suficiente ao final do mês para cumprir com as obrigações, comer, vestir e calçar e dar comer, vestir e calçar os filhos.
Como é gerir uma freguesia grande, com tantas assimetrias?
Não é fácil, porque só a freguesia de Portimão tem mais de 40 mil habitantes. E é uma freguesia mista, pois tem zonas rural, urbana e de orla marítima, com praia e rio, onde se destaca a pesca. Tem as gentes do mar, com características diferentes. Há capacidades distintas aqui. Enquanto no rural, a população consegue plantar alguns legumes e frutas e fazer face na questão dos produtos alimentares, conforme a estação do ano, na zona marítima nem sempre conseguem peixe. Temos estas pluralidades, o que é interessante.
Tem havido interesse dos jovens em viver no centro da cidade?
Eu sou uma filósofa nesse campo. Gostava de ver um projeto implementado, que juntasse jovens e idosos, mas claro que a Junta de Freguesia não tem competência para o fazer. Seria algo para juntar gerações, fazer uma sinergia e era algo importantíssimo. Por exemplo, reabilitar casas, e o rés do chão ficar para o idoso e o primeiro andar para alguém jovem, de preferência com filhos. Isto porque, os idosos poderiam ajudar o casal a cuidar dos filhos e a transmitir o conhecimento que, normalmente, se perde, porque não há este contacto intergeracional. Por sua vez, o idoso não se sente sozinho, sente-se válido e útil, e se precisar, tem alguém no andar de cima a quem pode dizer ‘estou mal. Ajude-me’. Não é obrigatório que seja da mesma família, ainda que era bom que fosse. Às vezes, quando são da família, há um cansaço, de parte a parte, e um sentimento de obrigação. Há também um choque de feitios e de laços.
É uma utopia?
Não será bem, pois podia fazer-se e era algo extraordinário para implementar no casco velho da cidade, onde vejo cada vez mais alojamentos locais. Claro que é importante, sem dúvida nenhuma, porque recupera e dá outra vida, mas não deve ser massificado. Deveria ser criada uma estratégia em que, cada rua não pudesse ter mais do que um ou dois e, por cada um que existisse, seria condição recuperar três ou quatro casas com esta filosofia, com rendas apoiadas, por exemplo.
Há muitos idosos no centro da cidade. Quais as dificuldades?
As pensões são muito baixas e, muitas vezes, não chegam para comprar medicamentos e comerem. Neste tipo de casos, a farmácia informa-nos que só levantaram parte da receita e tentamos apoiar, com a compra de medicamentos para seis meses para que possam manter a pensão para comer.
Mas há também ajuda alimentar?
Quando nos chega um caso ou, quando encontro quem não tem capacidade para se alimentar, encaminhamos para o refeitório social da Cáritas, com quem colaboramos. Também temos parcerias com uma casa de alojamento feminino e uma casa mista, que ajudam as pessoas a recuperar para entrarem de novo no mercado de trabalho e serem integrados na sociedade. Uma é gerida pelo Grato e outra pelo MAPS. A maioria pensa que são associações que só ajudam toxicodependentes. Não. A filosofia é apoiar as pessoas, com destaque para quem está em situação de sem abrigo.
Há quem não queira ser ajudado?
Muitos. Há quem se tenha habituado de tal maneira a viver na rua que não quer sair de lá. Querem ser ajudados, por exemplo, na comida, a sobreviver, mas não querem casa. Têm receio de ir para uma casa, de não saber estar, de não saber viver dentro de uma casa. E, às vezes, quando os abordamos, somos muito mal recebidos.
O que gostava mesmo de fazer para deixar a sua marca?
É quase outra utopia. Bem, é mais um sonho. Gostava de contribuir para que os mais idosos conseguissem ter o final de vida que merecem. Isto vem na sequência da outra ideia. Fazer com que não estejam em casa fechados, que tenham um espaço onde eles possam exercer atividade física, cultural e intelectual.
Já têm alguns projetos nesse sentido?
Há algumas associações. A Junta promove o Teatro Sénior, ajudamos associações que têm esta função, como a universidade sénior. No entanto, gostava de ter um espaço polivalente, que servisse para projetos de jovens e idosos.
Acredita que é esse cruzamento de gerações é o que faz falta à sociedade?
Acho que sim.
E a nível de espaços verdes… O que tem feito até aqui?
No meu programa eleitoral fiz, e continuo a fazer, muita referência àquilo que é a minha preocupação com os espaços verdes e o ambiente. Não conseguimos contribuir para a diminuição da destruição do nosso mundo, sem pensarmos estes dois aspetos. Assim, este ano, vou colocar mais painéis fotovoltaicos na sede da Junta de Freguesia. Já temos alguns, mas não são suficientes para os gastos. Estamos também a diminuir o consumo de energia, para contribuirmos para a diminuição da pegada ecológica. No caso dos espaços verdes, a Junta tem competência sobre os jardins Visconde Bívar, na zona ribeirinha, o 1º de Dezembro, junto ao Teatro, e o Sárrea Prado, perto da Estação da CP. O único que não está em condições é este último. Precisa de uma obra de fundo e quero deixá-lo, ao fim do mandato, em condições. E não é dar apenas uma limpeza. É uma intervenção de fundo, mantendo as características que tem. Terraplanar tudo, reconstruir os canteiros exatamente nos mesmos sítios, com as mesmas características e voltar a pôr flores como me recordo que havia quando era miúda. Quero que aquele espaço volta a ser frequentado por jovens e crianças.
Quais os projetos de parques infantis? Prometeu recuperar ou criar um por ano…
O da Companheira está a ser concluído. Vai ser um jardim com parque infantil e espaço biosaudável. Num dia em que visitei o espaço, para ver em que condições estava, encontrei um rapaz chamado Hugo Mendes, e em conversa ele disse-me que estava a frequentar o curso técnico-profissional de desporto e que queria fazer a Prova de Aptidão Final (PAF) utilizando aquele espaço. Isto porque, ele achava que poderia ser um espaço saudável para idosos. Achei uma boa ideia e, então, decidi recuperar o parque infantil e ao lado colocar dois ou três equipamentos de exercício físico para adultos. Já instalamos duas velas de sombreamento, que servem para proteger do sol, mas também da chuva.
É um investimento de quanto?
Sem as velas, são cerca de 25 mil euros.
Mas houve mais recuperações?
É o caso do parque infantil do Clube Recreativo da Pedra Mourinha e a recuperação do baloiço do Jardim Escola da Coca Maravilhas.
Esse é o de 2022. Qual será o deste ano?
Será a recuperação das lonas do parque infantil da Alameda da República e temos o parque canino, onde as pessoas podem soltar os cães para que eles se exercitem. É vedado e há um conjunto de regras a seguir. E estamos a ver outro espaço, com a Câmara Municipal, para criar mais um parque infantil.
A manutenção é um problema?
Há má utilização e vandalismo. Os nossos funcionários andam sistematicamente a verificar e a corrigir o que se estraga. Manter é caro, mais ainda que construir. Vou ter de fazer uma recuperação no da Alameda, com substituição de alguns equipamentos, como as ‘bolachas’ e um dos baloiços, que não funciona, porque estragou-se uma peça e a empresa que os montou não nos dá resposta. Outras empresas que trabalham na área não têm peças iguais. Provavelmente, vou ter de o substituir na totalidade.
Sente-se realizada nesta função?
Sinto-me feliz. É com estas coisas que às vezes são pequeninas, que me sinto realizada e feliz. Satisfeitos nunca estamos, porque achamos que fizemos pouco, porque aparecem casos que não conseguimos resolver. Quando chegamos à satisfação, deixamos de ter objetivos. Estou feliz, porque estou a contribuir para o bem das pessoas que fazem parte da minha freguesia.
Não tem maioria na Assembleia de Freguesia. Tem sido difícil governar?
Não. Não sei se é por mim, se pela oposição. Gosto de trabalhar em equipa, de partilhar o que faço e estou aberta a opiniões e contributos que sejam positivos e bons para a nossa cidade. A oposição tem trazido alguns contributos. Alguns já estavam planeados, mas não tinham sido divulgados, outros não estavam no meu horizonte, mas considero que cabem na minha forma de fazer política e, os que são concretizáveis, aceito-os. Quando são projetos que não posso fazer de maneira nenhuma, explico porquê. O parque canino, por exemplo, já tinha pensado nisto e foi algo que também foi apresentado pelo Ricardo Cândido, do PAN. Disse-lhe que já tinha pensado fazer isto, ele transmitiu o que queria e eu disse que era ótimo, que íamos fazê-lo. Quase todos trouxeram a questão da transmissão online das Assembleias de Freguesia. Não me importo, mas temos que fazer alterações ao nosso regimento e pedir pareceres, devido à proteção de dados. Talvez este ano se consiga. Ninguém é detentor da visão de tudo. Há coisas muito interessantes para se fazer, das quais posso não me ter lembrado. Não é por serem oposição e não terem a minha cor política que não têm ideias boas.
Cultura como prioridade
Entre as diversas iniciativas culturais, que a Junta de Freguesia de Portimão já organizava, há algumas novidades que têm sido lançadas. O ‘Entre Artes’, as ‘Histórias Contadas’, a celebração do Dia Mundial da Criança, as atividades de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, o ‘Banho de 29’, o Concurso de Janelas de Natal são apenas algumas das propostas. Haverá ainda a retoma do Grande Concerto de Verão na Alameda, além da Chaminé de Ouro, do Festival João César, do magusto, da caracolada, da Semana Sénior e de muitas outras atividades que a Junta promove todos os anos.