Acrobática da Che Lagoense já sobe aos pódios nacionais
Texto: Hélio Nascimento | Fotos: D.R.
A ginástica acrobática da Associação Cultural Desportiva Che Lagoense está em contínua evolução, tanto a nível de atletas como de resultados, e Mónica Melo, a treinadora responsável, não tem dúvidas de que o ponto mais alto ocorreu recentemente, em abril, quando o par formado por Ema Nóbrega e Stefanie Condratiuc alcançou o terceiro lugar no escalão iniciado feminino no Campeonato Nacional da 1ª e 2ª Divisão, realizado no Pavilhão Guilherme Pinto Basto, em Cascais. As jovens ginastas obtiveram uma nota final de 26,350 pontos, que lhes valeu a medalha de bronze, a escassos 0,050 pontos do segundo lugar.
“Começámos com uma classe de 20 atletas, este é o nosso quarto ano de atividade e temos já quatro classes, num total superior a uma centena de praticantes”, vinca Mónica Melo. A primeira classe é a de formação, dos quatro aos seis anos, depois a da iniciação à acrobática, dos seis aos 12, seguindo-se a pré-competição, “quando já têm bases e entram em competições regionais”.
Por fim vem o grupo mais adiantado, da fase de competição a nível nacional e até internacional. A ginasta mais velha tem 24 anos e não tardará a enveredar pela carreira de treinadora.
Voltando à medalha de bronze, Mónica Melo garante que teve sabor a prata e explica porquê.
“Em primeiro lugar, somos um clube pequeno e não colocamos juízes nestas provas nacionais, ao contrário dos clubes de maior representatividade, que apresentam juízes. Depois, realço que tem sabor a prata porque uma diferença de 0,050 pontos não é nada, é uma coisa muito pequena. Aliás, a diferença para o 1º lugar foi de 0,300, é tipo pisar-se uma linha, ou seja, ficámos também muito próximo”.
“Atletas que começaram connosco”
“O resultado alcançado foi muito bom para os alunos e para nós, treinadores, pois é o sabermos que o trabalho está a ser bem feito”, congratula-se a professora, inclusive porque as ginastas iniciadas atuam num “patamar elevado, com muita competitividade, que reúne cerca de 50 pares e é mesmo muito forte”.
O regozijo é maior porque “são atletas que começaram connosco, não vieram de lado nenhum e chegaram agora a este ponto, o que é excelente para dar ânimo e confiança para continuar a crescer”. O par medalhado já no ano passado, então nos infantis, obtivera um meritório quinto lugar, o que foi suplantado este ano, com o saboroso bronze.
Além de Mónica Melo, também Hugo Marques e Tatiana Barreto – atleta de 24 anos que já tirou curso – são responsáveis pelas aulas e treinos para uma centena de praticantes. “Temos apoio e boa relação com o clube, mas a acrobática é uma modalidade cara, quer pelo material quer pelos fatos de competição. Conseguimos gerir o nosso dia a dia através das mensalidades e do subsídio do município através do contrato-programa”, explica a professora.
Todavia, o crescimento implica mais esforços e uma estrutura que corresponda e satisfaça as expetativas. Neste momento, com a perspetiva de continuar a evoluir e aumentar o número de ginastas, os treinadores são poucos. “Não temos fins de semana nem dias livres, é complicado, assim, pensar no futuro. A Tatiana vai deixar de competir, já tirou o curso e vai passar a ajudar a tempo inteiro, de acordo com a minha filosofia, em que ninguém dá treinos sem ter curso, independentemente de ser ou não atleta”, salienta. Há um ex-atleta na calha para começar a dar aulas, juntando-se assim a Tatiana, que tem o nível um, e a Mónica Melo e Hugo Marques, possuidores do nível 2.
Campanha por um praticável com molas
O ambiente entre todos os envolvidos na ginástica acrobática da Che Lagoense é de salutar, o que não implica uma chamada de atenção para as condições atuais, que começam a ser diminutas para tanto crescimento e para melhorar ainda mais os resultados.
“Estamos muito limitados em termos de espaço de treino. Competimos com clubes que treinam 16 a 20 horas por semana e nós apenas dez. Quando comparamos, por exemplo, com a ACRO da Maia e Sporting, que são referências e com quem temos boas relações, não tem nada a ver”, revela.
Além do espaço limitado, as horas de treino também não podem ser muito alargadas. “Está a ficar curto para a nossa evolução”, salienta a responsável, referindo-se então ao praticável de competição, o ‘tapete’ onde tudo acontece.
“Trabalhamos com um praticável de esponja e na competição é de molas. Quando vamos competir, claro, é diferente. Sei que é caro, mas vamos abrir uma megacampanha, tipo ‘a caminho do praticável com molas’, e, mesmo que o donativo seja de um ou dois euros, já será qualquer coisa”, refere.
A nível de segurança, sobretudo nos exercícios mais evoluídos, podem surgir alguns problemas. “Além de competirmos num praticável onde não treinamos, há mais hipótese de lesões. Só que não faz sentido algum travar a evolução dos nossos ginastas”, acentua, apontando para o pequeno ginásio da Escola João Cónim, em Estômbar, onde decorre toda a preparação.
“Se queremos treinar num domingo ou sábado à tarde, está fechado. E em vésperas de competição é preciso treinar todos os dias, ou seja, são demasiadas restrições”, lamenta. Depois, diz ainda a treinadora, “chegamos a trabalhar com duas classes em simultâneo e lá vêm mais problemas de segurança, porque os mais pequenos não têm o mesmo foco e podem passar por alguma zona ‘interdita’ e magoarem-se”.
Lagoa muito bem representada
Em síntese, as maiores condicionantes da evolução da acrobática da Che Lagoense são a falta do praticável com molas e o espaço. “Temos uma cama elástica, que é importante, mas está fechada porque não a conseguimos abrir aqui. O cinto onde trabalhamos os movimentos no ar, de segurança, é de topo, mas falta mais qualquer coisa”, diz a professora de Educação Física que tirou o curso devido… à filha.
“Ela tinha três anos e começou nos Bombeiros de Silves. Era preciso uma treinadora para as mais pequenas e eu fui tirar o curso, comecei a dar aulas e a gostar, depois é o ‘bichinho’ que fica e até digo que são todos meus filhos. E, quando se vê que as coisas estão a melhorar, queremos dar mais”, vinca Mónica, que de Silves rumou para a ginástica acrobática do emblema de Lagoa.
Em termos de valores consistentes, além do par formado por Ema Nóbrega e Stefanie Condratiuc, há mais duplas em foco, casos de Guilherme Helluy e Matilde Sousa, um par misto júnior que compete na I Divisão, e o par feminino juvenil composto por Lara Costa e Sofia Figueiras, também forte, que ficou no 8º lugar no Nacional, disputado em Cascais.
“Queria também falar de uma prova em Valência, no início de abril, de cariz internacional, em que fomos à final com a Ema e a Stefanie, competindo com Sporting, ACRO da Maia, seleção da Bélgica e outras e ficámos muito bem”.
Mónica congratula-se por Lagoa ter sido tão bem representada, mérito reconhecido pelos próprios adversários nos tempos que correm. “Estas provas são caras e o investimento por parte dos pais é elevado. Ir lá fora custou 600 euros por atleta, embora tivesse havido algum apoio do município e também da Nepeli Construções, o nosso principal patrocinador”. A título de exemplo, uns ‘maillots’ orçam entre os 250 e os 450 euros.
Consolidar os bons resultados
A próxima prova ‘de respeito’ é a Taça Associação de Ginástica do Algarve, por equipas, em 20 e 21 de junho. A Che ganhou em absolutos (os mais velhos) no ano passado e este ano quer manter o título.
“A modalidade no Algarve, na minha opinião, vai muito bem. Competimos com 11 e 12 clubes, a um nível forte, e assim, quando vamos aos Campeonatos Nacionais, já não sentimos distanciamento. O nível na região é bom e chegamos a ter 200 atletas em cada prova, o que é significativo”.
No concelho, porém, o único clube é a Che Lagoense, o que leva a professora, com alguma graça, a dizer que “não deve haver espaço para mais, porque todos os nossos atletas são do concelho”. De facto, nos últimos anos, este tem sido um espaço aglutinador da vontade e do entusiasmo dos jovens e seus familiares.
“A médio prazo? Queremos continuar a colocar atletas na I Divisão e alcançar mais pódios. Acreditamos que o vamos conseguir, com enorme trabalho, mesmo sabendo que nos falta espaço, número de horas de treino e material. Trabalhamos mais do que os outros, mas não somos coitadinhos. Temos mais vontade”, finaliza a professora, imbuída de um espírito saudável que transmite, amiúde, para a sala de treinos.
Ema e Stefanie, as ginastas medalhadas
A graciosidade que colocam nos gestos e nas acrobacias em plena competição é a mesma com que falam para a reportagem do Lagoa Informa, juntando ainda mais simpatia e um sorriso constante.
Ema Nóbrega e Stefanie Condratiuc são as ginastas do momento na Che Lagoense, fruto da medalha de bronze alcançada nos Campeonatos Nacionais.
A mais pequenina, a volante do par, é a Stefanie, de nove anos, nascida em Lagoa, que pratica a modalidade há perto de dois anos, sempre neste emblema. “Achei que podia gostar e é mesmo bom, por isso decidi vir e continuar”, confessa, referindo o “muito orgulho” que sentiu quando subiu ao pódio, de bronze ao peito.
A Ema é mais velha, tem 14 anos e está na ginástica há três. “A minha irmã já praticava, eu também fiz ‘hip hop’ e rítmica, mas foi a acrobática que mais me prendeu. Fizemos uma prova quase sem falhas e a medalha foi um prémio, que nos dá vontade de fazer mais”, exclama, aludindo ainda ao facto de este ter sido, porventura, o melhor resultado de sempre do clube.
Estudantes do 4º e 8º anos, respetivamente, as duas querem “seguir na ginástica por muito mais tempo”. Os quatro treinos semanais são sempre encarados com motivação e vontade de aprender mais. “Já estou habituada ao peso da Stefanie, não custa nada”, garante a Ema, falando da elasticidade necessária e da muita preparação a que são sujeitas, sempre com a supervisão dos professores Hugo e Mónica.
“O clube é fantástico e temos imensas amigas”, prossegue Stefanie, elogiando o “ambiente muito giro” que as rodeiam. A próxima prova é a Taça Associação Ginástica do Algarve e “queremos que o troféu venha para nossa casa”, dizem as duas, em uníssono, garantindo estarem sempre “prontas a competir”, seja com os muitos clubes algarvios seja, por exemplo, com o Sporting e ACRA da Maia, que consideram os mais fortes a nível nacional.