OPINIÃO | A humanização da escola

Carlos Gordinho | Professor
A escola é, em grande medida, o reflexo do estado atual da sociedade. E, se olharmos com atenção, o paradigma que hoje vivemos é preocupante e merece uma reflexão séria.
O ambiente escolar revela sinais de desgaste e turbulência, sentidos por todos os elementos da comunidade educativa. Por isso, torna-se urgente encarar a escola de forma diferente. Defendo que esse novo olhar deve passar pela humanização do processo educativo. É preciso parar para repensar o que deve ser a “oferta” da escola do futuro. Muitos já alertam que o modelo atual está em declínio, seguindo a tendência de uma sociedade em crise social, educativa, política e económica.
No centro de tudo estão os alunos. É a eles que devemos olhar de forma individualizada, humana, consciente, honesta e eficiente. Contudo, em vez de guiar a mudança, a escola parece correr atrás de uma sociedade que se afasta cada vez mais de valores essenciais como a justiça, o respeito e o equilíbrio. Arriscamo-nos, assim, a contribuir para uma sociedade desequilibrada e desordenada, onde a educação e o “saber estar” vão perdendo espaço.
Importa reconhecer que cada aluno transporta em si um mundo único, muitas vezes difícil de habitar. O respeito pela individualidade é fundamental, mas não pode esquecer que cada um faz parte de um todo, no qual deve aprender a integrar-se. Infelizmente, este equilíbrio entre identidade pessoal e pertença coletiva acontece pouco e corre o risco de se agravar.
Os recursos de que a escola dispõe são insuficientes para responder às exigências que a sociedade impõe — muitas vezes sem sequer se dar conta disso. Urge, por isso, reforçar meios, repensar políticas, desenhar estratégias mais motivadoras e apostar numa ação educativa verdadeiramente eficaz.
A educação é uma atividade profundamente humana: feita para e por seres humanos. Por isso, o foco deve ser o próprio ser humano. É essencial humanizar as lideranças, adotar modelos de gestão mais próximos e apostar em estilos de liderança que respeitem pessoas e valores. Professores e escola devem ser vistos como facilitadores do crescimento humano e social, lado a lado com todos os que acreditam que é possível fazer diferente e melhor.
Humanizar a escola é acreditar que podemos resistir e inverter a tendência atual, dando espaço à construção de uma sociedade mais justa, equilibrada e solidária.





