Opinião | A dicotomia do papel

Joana Martins Jacó, in Portimão Jornal º49
Organizadora
Profissional Certificada
CEO da Mondom
(serviços e consultoria
em organização)
www.mondom.pt


Antes do consumismo desenfreado a que assistimos nos nossos dias, fazer uma compra era um ato importante. Era ponderada, planeada e culminava com o regresso a casa do objeto-desejo acompanhado de um talão que comprovava tal feito. Merecia ser guardado com especial cuidado. Recordo-me de, em criança, ir aos armazéns ‘Grandella’ com a minha mãe e irmã. Morávamos perto, mas mesmo assim respirávamos rituais. Tudo era cuidadosamente tratado. A entrada no estabelecimento, o atendimento, a venda e o pós-venda, proporcionando uma experiência memorável para o cliente.

Estamos agora numa nova era. Deslocamo-nos de viatura própria ao ‘shopping’. Diariamente entupimos a carteira, mala ou até os bolsos com talões ou faturas. Podemos rejeitá-las ou até eliminá-las num lixo próximo minutos depois, mas por outro lado, devemos mantê-los. Nunca houve tanta capacidade de fazermos valer os nossos direitos.

É quase sempre possível trocar ou devolver, caso tenhamos comprado por impulso, caso não fique bem com a cor do sofá ou percebamos que o objeto defrauda as melhores expectativas nos dias que se sucedem.

Começámos a assistir a marcas que nos ‘vendem’ os seus artigos de ‘fast fashion’ feitos num país longínquo a baixíssimo custo, pedindo que nos registemos numa aplicação para ‘smartphone’ demonstrando que, assim, teremos sempre talões e pontos para consulta futura.

Mencionam sempre que, desta forma, combatemos as alterações climáticas, o plástico nos oceanos, o meio-ambiente. Que ironia, penso eu.

Com mais ou menos despesas, em papel ou digital, teremos sempre que lidar com estes documentos que comprovam que houve compra ou aquisição de serviços e teremos que, fiscalmente, tratá-los, para que seja possível acertarmos contas com o Estado em sede de IRS.

Tenho por hábito digitalizar e imprimir todos os talões que sejam impressos a laser e que desapareçam duas ou três semanas após a compra. (é fácil verificar porque são os que perdem parte da cor nas primeiras horas). De certeza que já lhe aconteceu.

Num dossiê, categorizo as compras elegíveis para o e-fatura e valido-as na plataforma, com regularidade. Num outro dossiê, coloco em vários separadores, as áreas que me permitem arquivar o que servirá de base para as questões fiscais no ano seguinte.

Recomendo, por isso, que concentrem num só local todas as faturas que tenham. Escolha o sistema de armazenamento que funcione melhor para si. Digital ou impresso. Crie um ficheiro (costumo criar um em excel) que contemple rendimentos e despesas e terá sempre tudo pronto a entregar, eliminando, rapidamente e sem grandes dores de cabeça, uma das tarefas fiscais mais importantes do ano.

Este ano tem até ao final de junho para o fazer e recorde que, segundo a guru da organização de tempo e tarefas Thais Godinho, “um dos segredos das pessoas organizadas é, conhecer as prioridades e ser rígido com elas”.

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