Academia de Dança de Albufeira: Dançar a um outro ritmo

Texto: Lélia Madeira


Durante a fase de isolamento social, multiplicaram-se as iniciativas online nas mais diversas áreas e a dança não foi exceção.Mas será a mesma coisa? “Não é a mesma coisa, não funciona”, garante Angelika, enquanto demonstra como seria uma aula de dança com um ecrã a separar o professor do aluno.

Por isso, ao contrário de muitos colegas de profissão, Angelika Makarova e Konstantin Makarov optaram por não realizar quaisquer atividades através das plataformas digitais, durante os meses em que se viram forçados a fechar as portas da Academia de Dança de Albufeira (ADA).

As aulas ao vivo e no sítio do costume recomeçaram no dia 1 de junho com metade das alunas que tinham em fevereiro. Agora, “temos cerca de 40 alunas”. Os pais não lhes dizem objetivamente porquê que as filhas não retomaram, mas, no entender de Konstantin, será “por questões financeiras e também por receio de contágio”.

Sobre o perigo de contágio, o professor assegura que não há motivos para preocupação, porque estão a cumprir rigorosamente todas as medidas de higiene e segurança exigidas pela Direção-Geral de Saúde (DGS). “Estamos prontos para abrir uma empresa de limpezas”, brinca.

Além de uma paragem de mais de quatro meses e de uma redução no número de alunas, a pandemia trouxe outros dissabores a Angelika e Konstantin. Todos os espetáculos e competições foram cancelados, porque os palcos e bastidores dos auditórios em Portugal são muito pequenos, o que “não permite manter a distância entre os participantes”.

O olhar dos dois professores denuncia alguma tristeza quando o assunto é este, pois têm-se habituado a lotações esgotadas sempre que fazem apresentações e a arrecadar vários prémios todos os anos. No ‘hall’ de entrada da academia, praticamente não há paredes vazias. Tudo o que vemos são medalhas, diplomas, estatuetas. Têm sido tantas as distinções recebidas ao longo dos 15 anos de existência da ADA que já perderam a conta ao número total, mas estimam que têm sido “à volta de 10 por ano”.

Para os antigos bailarinos profissionais, cada prémio é importante, não só pelo prestígio, mas também a nível financeiro. Por mais baixo que seja o montante, acaba por ser uma motivação extra, uma vez que a academia subsiste apenas das mensalidades das alunas. «Não recebemos apoios do Estado. As poucas ajudas que temos são da Câmara Municipal de Albufeira, que paga as deslocações quando participamos em competições fora do concelho».

A academia de Angelika e Konstantin já representou o município albufeirense inúmeras vezes, inclusivamente no estrangeiro. Como não podia deixar de ser, já competiram na sua Rússia natal.

Dança mais valorizada
Além de partilharem a mesma nacionalidade e o amor pela dança, Angelika e Konstantin têm ainda em comum uma filha e uma neta. Tudo isto tem sido construído ao longo de um casamento de 35 anos celebrados precisamente em 2020.

A filha nasceu em Portugal e foi por ela que não regressaram à Rússia, nem pretendem fazê-lo, apesar de cá a dança não ser tão apoiada e reconhecida. Konstantin considera, no entanto, que as coisas têm vindo a melhorar. “A dança começou a ser mais valorizada, a partir do programa televisivo ‘Achas que sabes dançar?’ da SIC”. A primeira edição foi emitida em 2010 e teve como vencedor Marco Ferreira, o qual chegou a participar num dos ‘workshops’ promovidos pela ADA.

Apesar disso, ainda parece existir preconceito à volta de os rapazes dançarem. “Todos querem ser ‘Cristianos Ronaldos’. Já tivemos rapazes nas nossas aulas, mas alguns acabaram por desistir, para ir para o futebol”, lamenta Konstantin.

Por outro lado, há ex-alunos que, quando os reencontram, só lhes tecem elogios, chegando mesmo a dizer-lhes: “vocês ensinaram-nos a viver”. “Isto é muito forte”, refere Konstantin emocionado.

Outros há que, mesmo depois de as suas vidas profissionais seguirem outros caminhos, não querem desligar-se da dança e voltam a inscrever-se nas aulas da ADA, por todas as vantagens inerentes à prática desta disciplina.

“A dança forma as pessoas, torna-as melhores. Todas as nossas alunas têm excelentes notas na escola. Quando as notas baixam um pouco, os pais dão-lhes o castigo de não virem às aulas de dança, para motivá-las a melhorar as notas”, diz Angelika, acrescentado que “as alunas estavam desejosas de voltar a dançar, porque já estavam saturadas de estar em casa, sempre sentadas em frente ao computador. Algumas queixaram-se que tinham dores na coluna”, na fase do confinamento.

É por estarem conscientes dos diversos benefícios da dança, tanto para o corpo como para a mente, e da sua qualidade enquanto professores que estão confiantes de que, em setembro, a situação vai melhorar e que mais alunas irão regressar. “A vida tem de continuar, mas, para isso, é preciso que os portugueses tenham mais coragem”, apela Konstantin.

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