Algarve quer fidelizar destino com os vinhos

Metade dos produtores de vinho algarvios já conta com alguma oferta de enoturismo, numa aposta que tem vindo a crescer, mas que continua a necessitar de impulso para que os vinhos se tornem uma referência na hora de escolher o destino de férias.

É para reforçar essa aposta que a Comissão Vitivinícola do Algarve (CVA) e a Região de Turismo do Algarve (RTA) assinaram no final de julho um protocolo de colaboração, em Carvoeiro. A intenção é que os vinhos se tornem por eles próprios o motivo da visita, que fidelizem os turistas e que os incentivem a voltar.

“Tem havido uma promoção muito boa da região, que tem acompanhado a evolução dos vinhos do Algarve. Do último apuramento que nós fizemos, constatámos que já metade dos nossos produtores tem alguma oferta de enoturismo, seja a simples prova de vinhos a uma experiência mais aprimorada, como as vindimas”, começou por referir Sara Silva, presidente da CVA.

“O protocolo versa o mercado interno alargado de Portugal e Espanha. Temos vindo a desenhar um conjunto de atividades conjuntas, no Consulado de Sevilha, na Embaixada de Madrid, com a presença na Bolsa de Turismo de Lagoa, na Fitur, por forma a divulgar as quintas que praticam enoturismo, numa perspetiva de ‘player’ direto do setor dos vinhos”, esclareceu João Fernandes. E há condições, segundo este responsável, para o fazer, pois existem meios próprios que são colocados à disposição da CVA. No entanto, alerta que todos têm de ser exigentes, pois esta é uma oportunidade de ouro, ainda mais numa altura em que se vivem os efeitos da pandemia do covid-19 na economia.

“Temos encontrado também muita perspicácia para a vertente da diplomacia económica e, muito certamente, teremos o apoio do cônsul de Sevilha e do embaixador de Madrid, para sermos mais ambiciosos. Este protocolo visa consolidar o que já é uma prática, mas também criar um novo segmento de procura específica no setor primário”, explicou. Ou seja, valorizar os bens que existem e que diferenciam a região de outros locais, como o vinho ou a laranja.

Esta não é apenas uma questão de sustentabilidade, mas também de incentivar a venda do produto ‘dentro de portas’.
Os responsáveis sublinham que há já investidores estrangeiros com experiência que estão a apostar no território, num sinal muito importante de dinamização deste bem. João Fernandes alertou, porém, que o “produtor tem de mudar o seu ‘mindset’ para ser, estar e ou ter um enoturismo”, pois se for um espaço bem valorizado pode incentivar a venda no local, “sem a concorrência agressiva de outros e fidelizar o cliente de outra forma”. A lógica é integrar os bens e serviços básicos na cadeia de valor do turismo.

Profissionalização é importante
“Sem dúvida que é muito importante a profissionalização do setor para garantir que a oferta está disponível aos turistas, portanto não só a capacidade de acolher em várias línguas, a disponibilização das visitas por um período mais alargado que não só de segunda a sexta-feira, abranger o turista internacional e nacional, mas também os residentes”, afirmou Sara Silva.

Os algarvios devem, para estes responsáveis, valorizar e reconhecer o valor do que têm na região e podem, de facto, ser turistas nos locais onde vivem. “O enoturismo tem esta facilidade de criar experiências e aquele elo de comunicação entre consumidor e produtor. Isso é muito importante para um mercado tão saturado e massificado como este”, argumentou.

A dimensão da região, quando comparada com outras regiões vitivinícolas, não precisa de ser também uma adversidade, pois o simples facto de ser uma região mais pequena, pode ser também mais ‘acolhedora’. “A pessoa pode visitar a quinta e ser recebido pelo próprio produtor e isso é algo que é de manter e de preservar enquanto o podermos fazer. São partilhadas as histórias daquela quinta, da família, o que certamente ajudará a fidelizar o consumidor aos vinhos do Algarve. Há um bom caminho a percorrer nesta matéria, pois somos uma região recente, mas temos toda uma potencialidade por estarmos numa região de excelência do turismo. Não precisamos de chamá-los. Temos é que divulgar primeiro e ter essa oferta qualificada e profissionalizada”, defendeu Sara Silva.

Lagoa apadrinhou assinatura
Há muito que Lagoa é terra de vinhos e, neste caso, foi a anfitriã desta cerimónia que pretende dar um novo impulso a este segmento. “O Município apadrinha com muito gosto o protocolo firmado entre a Região de Turismo do Algarve e a Comissão Vitivinícola. Sou um entusiasta do enoturismo por duas razões. Primeiro, porque acho que tem um enorme potencial para ajudar a mitigar a sazonalidade, por outro, e não menos importante, tem capacidade de ajudar a fidelizar os turistas que nos visitam”, disse Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa.

O autarca acredita que quem visita uma região vai querer provar o que é endógeno, daí a importância de mostrar a qualidade dos néctares produzidos na região. “Não é a mesma coisa acompanhar uma excelente cataplana que se faz maravilhosamente em Lagoa e no Algarve com uma cerveja, em vez de um bom vinho branco da região. Tem outro gosto. E aqui entramos no campo das experiências. Acho que é nesse campo das experiências que devemos trabalhar, pois é isso que hoje os turistas procuram”, exemplificou. Apesar do longo caminho a percorrer, há uma janela de oportunidade que deve ser aberta. “Há mais gente a viajar pela gastronomia e pelo vinho do que propriamente pelo sol e mar e este é um fator que nós temos obviamente que aproveitar. Ainda mais quando temos excelente gastronomia e excelentes vinhos na região. No Algarve e em Lagoa fazem-se dos melhores vinhos do mundo”, concluiu.

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