Basquetebol: Beatriz Polici ‘marca pontos’ em Ferragudo

Texto: Hélio Nascimento


Chama-se Beatriz Polici, tem 16 anos e é a figura da equipa de sub-19 da Associação Cultural e Desportiva de Ferragudo, fruto de uma carreira sempre ascendente e de uma qualidade acima da média. No Verão passado representou Portugal no Campeonato da Europa de sub-16 e agora voltou a ser convocada, mas já para os trabalhos das sub-18. Está no Centro de Alto Rendimento (CAR) do Jamor e estuda desporto, deslocando-se ao Algarve todos os fins de semana para defender as cores do seu clube.

“A Bia é uma mais-valia, uma referência do clube. Além de ser a jogadora que é, com o compromisso que tem, consegue reunir em si todos os atributos que distinguem uma atleta. Depois, surge a qualidade, o respeito das adversárias e o prazer das pessoas que vêm vê-la jogar. É o nosso cartão de visita”, considera Carlos Santos, o treinador. “A equipa podia ser mais equilibrada, é verdade, mas a Bia não joga sozinha. Temos uma ex-Farense e outras que já cá estavam que têm igualmente muita capacidade”, acrescenta, destacando desde logo o coletivo destas sub-19, que participam no Campeonato Nacional, algo que a internacional lusa corrobora em absoluto, afirmando que “na equipa somos todas iguais”.

“No último segundo”
A Beatriz, mais tratada por Bia, começou a jogar…aos 3 anos! “Os cestos eram mais pequeninos”, graceja, quando confrontada com a precoce idade em que se iniciou no basquetebol. Natural do Barreiro, debutou no GDESSA, representando depois o Portimonense – quando a família rumou ao Algarve – e a ACD Ferragudo nas últimas quatro épocas. “Os meus pais foram jogadores e o meu irmão também jogava. Fui experimentar, gostei e cá estou”, conta, satisfeita com o percurso, no qual sobressai, naturalmente, a participação no Europeu. “Foi uma experiência que ambicionava, um sonho antigo que consegui realizar, na sequência de muito trabalho e dedicação”. Na altura, Beatriz já estava no CAR do Jamor, “mais perto desse objetivo”, depois de ter participado em estágios de observação para a Seleção Nacional.

“Convidaram-me para continuar no CAR e estou a viver no Jamor. Estudo Desporto e treino diariamente, com a seleção, mas não com todas as jogadoras, só com aquelas que estão no centro. Sou a única do Algarve, é verdade. Responsabilidade? É óbvio que queremos sempre representar o clube e a região o melhor possível”, garante a jogadora, que alinha a base e tem em Joana Soeiro, do Benfica, a sua preferida. A melhor recordação da carreira é um momento ímpar. “Foi na Seleção, no Europeu, contra a Irlanda. Ganhámos por um ponto e no último segundo”, recorda, com um sorriso do tamanho dessa vitória.

Entrega e compromisso
No plano interno, e na ACD Ferragudo, depois da conquista do título do Algarve, o desejo é sempre “ganhar o próximo jogo e alcançar o melhor lugar possível”, reconhecendo que as adversárias desta fase nacional têm imenso valor. Prometendo “lutar por um lugar” na seleção de sub-18, Beatriz passa a semana no Jamor e regressa a casa às sextas-feiras, indo logo direta ao treino. Depois, joga no sábado e no domingo e às vezes até sucede ter de repetir a viagem se o jogo do ACD for na zona da capital. “Faço as deslocações de autocarro, é um bocado cansativo, mas uma pessoa habitua-se”. E quem corre por gosto não cansa, como diz o ditado – Bia ‘marca pontos’ em todas as vertentes e ajuda a colocar no pódio o emblema de Ferragudo.

Sobre as viagens, Carlos Santos concorda com o enorme desgaste e explica que as sub-19 estão inscritas e disputam, também, o Campeonato Nacional de seniores. “É uma aprendizagem boa e assim ganham mais experiência. Com idade de sénior só tenho duas jogadoras e daí que todas as sub-19 estejam inscritas. Jogam em dias consecutivos, por vezes sexta, sábado e domingo, o que é desgastante, mas elas têm uma entrega e um compromisso enormes. Às vezes custa-me, mas elas querem muito”, resume o treinador, aludindo ainda ao facto de serem “a única equipa do Algarve dos escalões de formação no Nacional”.

Nível das equipas femininas cativa mais atletas
Carlos Santos, treinador de 2º grau, cumpre a segunda época na ACD Ferragudo. Estava no Seixal, dirigindo as sub-19 e as seniores, e, antes, passou pelo Barreirense, Galitos e GDESSA. “Continuo a gostar. As condições são muito boas, as atletas também as têm para praticar a modalidade e o ambiente é fantástico”, diz o professor, que tem a seu cargo as equipas de sub-16 (disputam a Taça Nacional), sub-19 e as seniores. “Perspetivas? Vamos tentar ficar em quarto ou quinto. Mais do que isso era sonhar. A equipa tem qualidade e é boa, mas é curta”, reconhece, comentando o grupo das sub-19.

“O basquetebol é uma tradição no clube e é a principal modalidade, creio, e a que dá mais nome a Ferragudo. Para continuar a ser uma referência é preciso que o trabalho não pare e que ninguém se acomode, porque há outros clubes a emergir e uma grande procura de jogadoras”, prossegue Carlos Santos. Para não perder o comboio, são realizadas com alguma frequência atividades de mini-basket, de modo a que surjam “mais miúdos com interesse na modalidade”, numa captação feita, sobretudo, junto das escolas do concelho.
Carlos Santos analisa também o facto de as equipas femininas terem, regra geral, melhor rendimento do que as formações masculinas. “É uma boa questão. Andamos a tentar que os rapazes atinjam outros patamares, e os sub-18, por exemplo, estiveram numa final four regional, o que nunca tinha sucedido. As equipas femininas são boas, inclusive campeãs distritais, com presença assídua nas fases nacionais, e o nível das atletas cativa e chama outras. Depois, temos grupos que jogam juntos há cinco e seis anos e a qualidade faz-se sentir”, assevera.

Seja como for, e voltando ao momento presente das sub-19, o treinador admite que “falta experiência para atuar a um nível mais elevado”. Na circunstância, recorda que “estamos a jogar com equipas como o Benfica, Quinta dos Lombos e Queluz, que têm atletas que competem na liga profissional”. Os outros adversários da ACD nesta fase nacional são Carnide, GDESSA, Montijo e Rio Maior. “Era bom passar à fase final, mas temos de ser realistas. Tendo em conta a qualidade e experiência das outras equipas, os resultados obtidos até são interessantes”, conclui.

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