Beatriz Rosário e João Sena propõem viagem à descoberta do ‘Ser Invisível”

Foi em pleno confinamento provocado pela pandemia da covid-19, no início deste ano, que os destinos da professora Beatriz Rosário e do artista plástico João Sena se cruzaram. Uma amizade aproximada pelas redes sociais levou a que, um dia, a escritora com raízes em Lagoa, se deparasse com um conjunto de ilustrações que o artista portimonense publicou no seu perfil do Facebook e se inspirasse a escrever poemas relacionados com cada uma das imagens.

“Já conhecia o trabalho do João. Ele publicou um pequeno vídeo com estes trabalhos intitulado ‘O Ser Invisível’, que me chamou muito à atenção. As imagens refletem todo o momento que ainda estamos a viver, mas que, naquela altura, foi mais forte, porque tínhamos sido apanhados de surpresa com este vírus. Foi algo que mudou totalmente o nosso universo”, conta a professora de português e inglês do segundo ciclo que, em Lagoa, é chamada com carinho de ‘Vieirinha’.

“Vi, revi, voltei a rever e foram dois dias sem conseguir descansar as mãos de tanto escrever”, confessa. Orientou a história e a abordagem, e a verdade é que as criações a transportaram para reflexões profundas, que agora ambos pretendem passar para o leitor.

“As imagens fazem referência ao processo que está a ser vivido, que é anti natura, e isso levou-me a refletir sobre o ser invisível. Não o vírus, mas aquele que existe dentro de nós, o facto de a humanidade ter perdido imenso o rumo, os valores, o amor próprio, a consciência de que o que é material é algo efémero”, define. A escritora defende a importância da componente espiritual, porque é isso que define cada uma das pessoas.

Voltando à génese do livro, seguiu a ordem que o artista portimonense deu às imagens e viu ali uma história. Após a escrita intensa, enviou-lhe os poemas e, dessa altura até à edição do livro pela editora Arandis foi um passo. Um grande passo para ambos. Por um lado, há muito que havia interesse da editora publicar algo de João Sena, por outro, Beatriz Rosário, nome que resolveu adotar, tinha o sonho de lançar um livro. Confidencia ao Lagoa Informa que compôs o primeiro poema quando tinha nove anos e, quando o mostrou ao pai, ele ficou espantado. Para uma criança dessa idade havia muita profundidade, pois falava sobre a maternidade e o amor de mãe, admite.

Lançou-se na aventura do ‘Ser Invisível’, mas a pandemia levou a que ainda não tivessem tido oportunidade de promover apresentações públicas. Ainda ponderaram se avançavam já ou se esperavam, mas a ânsia de partilhar a obra que construíram em pleno confinamento falou mais alto. Arriscaram. O objetivo é, segundo conta a professora, “pensar nestas situações todas, acerca de quem somos, porque é que nos perdemos, porque nos habituamos a usar ‘máscaras’, aquelas que colocamos no dia a dia para enfrentar a vida, além das máscaras para proteção do vírus que agora ainda vieram roubar mais a identidade. Somos seres únicos e, às vezes, perdemo-nos na nossa essência”, resume.

“Queremos que as pessoas reflitam”, que se questionem, que descubram ‘O Ser Invisível’ existente dentro de cada um. Antes desta obra, que será a primeira de uma trilogia, Beatriz Rosário já tinha tido a oportunidade de participar com um pequeno conto numa antologia de contos do Algarve que as editoras Arandis e Colibri promoveram.

Espera agora por uma oportunidade para apresentar o livro na cidade que recorda desde os tempos da juventude, mas a pandemia não tem dado tréguas. Com raízes em Lagoa, apesar de não ter sido o local onde nasceu, descende de dois professores que ainda hoje residem na cidade. “Lembro-me de ter ido morar para a antiga rua do Matadouro, que agora é a Rua Carlos da Maia. Cresci lá, estudei em Lagoa e, no meu segundo ano de trabalho lecionei na cidade”, recorda. “Lagoa é o meu berço. Foi onde cresci, onde tive os meus amigos e, onde os mais pais continuam a viver”, resume. Daí ser um dos locais onde gostaria de fazer a apresentação.

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