Cirurgia robótica permite recuperação mais rápida

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: D.R.
Coordenador e responsável pelo tratamento da doença colorretal da Unidade de Portimão do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) e agora, também, o ‘chefe’ de equipa desta nova via no campo cirúrgico, Edgar Amorim dá a conhecer mais um passo no mundo da medicina, em especial na cirurgia, na sequência do ‘arranque’ da cirurgia robótica, com o Algarve e em especial Portimão na linha da frente.
O que é a cirurgia robótica?
É uma via de abordagem cirúrgica que permite realizar procedimentos com a ajuda de sistemas robóticos de alta precisão. Estes sistemas permitem às equipas realizar intervenções mais complexas (por vezes só possíveis anteriormente por via convencional ‘cirurgia aberta’) através de abordagens minimamente invasivas e de forma mais segura. Desta forma, ganhamos o melhor ‘dos dois mundos’, ou seja, realizamos cirurgias de maior grau de complexidade com as vantagens da cirurgia minimamente invasiva.
Como é que o cirurgião atua?
Nestes procedimentos, o cirurgião controla remotamente, ainda na sala operatória, os braços robóticos que manuseiam instrumentos cirúrgicos miniaturizados, enquanto visualiza a área de intervenção através de uma câmara de alta-definição e imagem 3D aumentada. Isto permite movimentos mais finos, maior estabilidade e melhor acesso a zonas difíceis do corpo, quando comparado com a cirurgia tradicional ou laparoscópica. Num futuro não muito distante, dependendo da velocidade e das condições de transmissão segura de dados, poderemos realizar intervenções sem que o cirurgião que está na consola (ao comando da cirurgia) esteja presente na sala ou na cidade onde se realiza o procedimento.
Como foi o processo de implementação desta tecnologia na Unidade Local de Saúde do Algarve?
Integrou-se no Programa de Modernização Tecnológica do SNS, financiado pelo PRR e coordenado pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) e pela Direção Executiva do SNS, formalizado a 12 de fevereiro de 2024. Graças à visão estratégica do Conselho de Administração e em especial do Dr. Paulo Neves, que teve um papel central na elaboração e coordenação deste projeto, foi possível angariar fundos adicionais que permitiram adquirir uma segunda unidade, alargando a capacidade tecnológica e a diversidade de especialidades abrangidas.
Portimão e o Algarve de novo pioneiros?
A introdução da cirurgia robótica na Unidade Local de Saúde do Algarve (ULSA) afirma o Algarve como pioneiro na inovação médica em Portugal. Abaixo do rio Tejo, a ULSA torna-se a segunda unidade hospitalar a dispor de cirurgia robótica e uma das poucas a nível nacional com dois sistemas distintos, o que reforça a sua posição estratégica. Esta aposta não só consolida a excelência da região em áreas como a cirurgia colorretal e o tratamento do cancro do reto, como também projeta o Algarve como um centro de inovação tecnológica na saúde.
Podemos esperar um impacto a curto prazo?
Na saúde, ao contrário de outras áreas, as políticas introduzidas não têm sempre um impacto imediato na vida dos utentes, e temos que esperar algum tempo para serem consolidadas. No Algarve, temos assistido a algumas alterações interessantes que, estou certo, iremos em breve ver os seus frutos. Estou a referir-me à ligação da ULSA no ensino pré-graduado com a Universidade e na parte da investigação através das parcerias com o Algarve Biomedical Center. Este investimento em tecnologia de ponta vai permitir à ULSA atrair profissionais altamente qualificados e oferece aos internos de formação das áreas cirúrgicas a possibilidade de realizar formação em ambientes de grande diferenciação tecnológica. Se há três anos um recém especialista para estar ligado a um projeto robótico tinha possivelmente que emigrar, atualmente já pode escolher o Algarve para iniciar ou consolidar a sua carreira. Isto vai ser muito importante para a região, que não pode viver só do turismo.

Esta técnica poderá ser utilizada noutras especialidades?
De momento estamos a dar início ao projeto com a nossa equipa da cirurgia colorretal do serviço de cirurgia da unidade de Portimão, porque é uma equipa bastante motivada, com conhecimento técnico e com provas dadas a nível nacional e internacional. Posteriormente, este projeto irá ser expandido para outras áreas (urologia, ginecologia e a outras da cirurgia geral) e espera-se que até ao final do ano seja possível termos perto de 100 doentes operados nas duas unidades e nas diferentes especialidades por esta abordagem. É importante ter a noção que este processo de aprendizagem necessita de uma preparação longa e que envolve toda uma equipa multidisciplinar e uma grande equipa constituída por médicos e enfermeiros. Só assim podemos assegurar a realização dos procedimentos propostos com segurança e eficiência.
O uso do robô contribui para uma recuperação mais rápida dos pacientes?
A cirurgia robótica, ao ser minimamente invasiva, resulta em menores cicatrizes, menor trauma nos tecidos, o que leva a menos dor pós-operatória, redução do tempo de internamento e um retorno mais rápido à vida ativa. A menor agressão aos tecidos e a precisão cirúrgica reduzem também o risco de complicações, como infeções e hemorragias, promovendo uma recuperação mais segura. Assim, a utilização destas plataformas melhora significativamente a experiência do doente no pós-operatório, com benefícios clínicos e funcionais evidentes.