Clube Naval D. João II de Alvor quer melhorar oferta à população

Texto: Hélio Nascimento | Fotos: Eduardo Jacinto, in Portimão Jornal nº 64


Fundado em maio de 1996, o Clube Naval D. João II de Alvor continua a exercer a sua atividade, paulatinamente, no sentido de proporcionar às gentes da freguesia e do concelho um estreito contacto com o mar e com a ria, sempre com o foco na juventude, sem descurar, porém, todos aqueles que, mesmo com uma idade mais avançada, querem praticar desporto. Todavia, a existência da coletividade sofreu um revés, em 2006, quando as programadas obras do Museu Salva-Vidas, no Centro de Socorros a Náufragos, levaram à desativação das infraestruturas. 

Neste tipo de situação, porém, há sempre quem lute por um ideal, seja por devoção ou pelo reconhecimento da valia do projeto. No caso foi Acúrcio Guerra, nome respeitado no meio, quem meteu mãos à obra, como o próprio conta ao Portimão Jornal, em pleno porto de pesca na pitoresca zona ribeirinha de Alvor. “Em 2014 o clube foi reativado, com uma nova direção, novas valências e objetivos ligeiramente diferentes”, que passaram por alargar as atividades, com acesso à generalidade da população, assente na ‘Prática do Desporto para Todos”, um slogan que não tardou a ganhar dimensão. 

“Criámos um conjunto de iniciativas para que os sócios pudessem ter o usufruto de todo o equipamento, na canoagem, paddle, gaivotas e windsurf”, alargando a oferta, que antes resumia-se à canoagem. Além dos miúdos também a “malta graúda” passou a tirar partido do projeto, através de “uma quota irrisória, no valor de cinco euros mensais, com direito a dispor de todo o equipamento durante uma hora por dia”. Por outras palavras, qualquer sócio pode ‘navegar’ diariamente e não paga mais por isso. 

A sede do Clube Naval de Alvor manteve-se no edifício do Centro de Socorros a Náufragos, até que, em 2021, começaram as citadas obras para o Museu Salva-Vidas e foi negociado um novo espaço. “Queríamos uma sede adequada e tivemos várias reuniões com a Câmara, tendo sido atribuída uma casa no porto de pesca e dois contentores”, de acordo com o que “constava do ordenamento”, explica Acúrcio Guerra. 

Protocolos com unidades de ensino 
O Clube Naval está aberto a unidades de ensino, tais como a Escola Poeta António Aleixo, Escola Júdice Fialho e Agrupamento de Escolas da Bemposta, tendo ainda parcerias com estabelecimentos de Alvor e da Mexilhoeira Grande. “Hoje, o projeto está mais avançado e melhorámos os protocolos”, prossegue o nosso anfitrião, que é a alma da instituição. As escolas do clube de canoagem (dos 6 aos 16 anos) evoluem aos sábados, as dos estabelecimentos citados, acompanhadas por professores, têm estas atividades curriculares duas vezes por semana e às terças-feiras são os atletas de competição da Bemposta que entram em ação. 

“No ano passado participámos na descida do Arade, numa prova do Clube de Vela de Lagos e na primeira pagaiada em Alvor, com o apoio da Federação Portuguesa de Canoagem”, precisa Acúrcio Guerra, dando conta de algumas competições com a presença do clube, que tem cerca de 500 sócios, 150 deles utilizadores. Aos sábados e domingos a zona fervilha de entusiasmo, já que surgem as famílias e as vantagens são convidativas: o sócio pode trazer um acompanhante e as crianças não pagam desde que sigam com os pais em passeios lúdicos. 

“Para além da competição, temos a atividade de lazer, sobretudo na ria, já que o mar fica destinado à malta com mais traquejo, para fazer windsurf. O nosso potencial é enorme, com uma área incrível, da Restinga ao Molhe, o ideal para desportos não motorizados”, prossegue Acúrcio Guerra, sempre pronto a fornecer mais um exemplo ou a solicitar outro tipo de intervenção de quem de direito. “Seria de bom senso, em prol do interesse público, termos uma palavra a dizer. Acho que somos dos mais indicados para explorar a atividade, mas a abertura tem sido pouca”.  
   
Sempre a “defender a causa” 
Acúrcio Guerra tem 78 anos e uma vitalidade que nos deixa de boca aberta. “O segredo? Deve-se à forma de estar na vida e ao facto de desde sempre fazer atividade física. E é, também, uma questão genética”, argumenta, aludindo à família: a irmã foi pioneira a montar um ginásio em Portimão, o sobrinho Beto deu continuidade e é um nome conceituado no ramo e outro sobrinho, Edgar, tem andado pelo mundo do futebol. 

O atual presidente da Assembleia Geral do Clube Naval D. João II de Alvor – foi o líder da Direção até ao ano passado, cedendo o lugar a Paula Salgueiro, nas eleições de março – ainda hoje dá aulas de windsurf, participa em provas de veteranos e orienta e acompanha na canoagem e no paddle. Antigo empresário, ministrou natação no Hotel Júpiter, em 1983, e desde há largos anos que tem uma ligação forte com o Clube Naval de Portimão, onde é agora ‘vice’ da Assembleia Geral.  

“Continuo a defender a causa”, atira, com um sorriso, tendo a seu lado o inseparável ‘Tito’, o engraçado cão que nunca o larga. Como está reformado, é o responsável pelo dia a dia da instituição, ora estando na sede, ora dando uma volta junto aos contentores, para confirmar se o equipamento está todo operacional.    

“Até apetece navegar” 
“Uma das coisas que me fez abandonar a Direção do clube foi a falta de interlocutores para poder haver uma visão mais alargada de todo este processo”, lamenta Acúrcio Guerra. “Podemos dar mais. Fazemos atividades com escolas, recebemos polacos e franceses de turmas de Erasmus e acabamos por apresentar estas instalações, que eu considero pobres”, acentua o dirigente. 

Acúrcio pede “mais sensibilidade” para desenvolver outros projetos, inclusive de cariz social. “A praia de Alvor tem potencialidades por aproveitar, mas os anos passam e nada”, insiste, sem, contudo, atirar a toalha ao chão. Há sempre alguns aspetos que vai melhorando e acredita, por exemplo, que o material – pranchas, canoas e demais acessórios para as modalidades – guardado nos contentores poderá ter, a breve trecho, uma arrumação mais condizente. 

Para já, é tempo de alegria. Os miúdos de Alvor, da Mexilhoeira Grande e de Portimão, ou seja, de todo o concelho, reúnem-se na zona ribeirinha da freguesia, equipam-se a rigor e fazem-se à água. Os pais e os inúmeros turistas que por ali circulam gostam de ver a azáfama, e, como a manhã deste sábado está prazenteira, com o sol a aquecer, não há como fugir à realidade.  

“Até apetece navegar”, ouvimos alguém comentar, por perto. O nosso amigo Acúrcio acena com a cabeça e conta que “já andaram por aqui, a rodar, durante umas ‘Férias Desportivas’, alguns 600 miúdos”. São estes momentos que dão mais brilho ao emblema do Clube Naval D. João II de Alvor.

Uma dupla pronta a ajudar e ensinar 

Pedro Vidigal integra a direção do clube, fez canoagem de competição pelo emblema de Portimão e é uma das referências da miudagem. “A paixão é de sempre, em especial pela canoagem. Vivo aqui, acompanho os miúdos, dou apoio e faço os meus treinos”, diz este engenheiro civil, pouco depois de sair da água, onde ‘navegou’ com os filhos Mateus (8 anos) e Santiago (5 anos), também eles entusiastas pela modalidade. “Creio que devia haver mais atenção por parte da Junta e da Câmara, sobretudo porque as crianças não pagam para estar aqui”. Também sempre pronto a ajudar e ensinar está Gonçalo Tomás, que começou por praticar ténis e enveredou pela canoagem há sete anos. Tem o curso de treinador e faz competição. “Estes miúdos têm algum potencial, mesmo utilizando material algo antigo. Treinam com motivação e têm futuro”.  

Presidente aguarda por respostas favoráveis

Paula Salgueiro é a presidente do Clube Naval de Alvor, cargo que ocupa por “carolice e com o desejo grande de contribuir para que esta retoma não termine”. Advogada de profissão, destaca a proximidade da ria para que muitos desfrutem da prática desportiva. “Faço passeios, caminhadas, já simulei experiências na canoagem, por pura brincadeira, e participei em atividades promovidas pelo Acúrcio”, confidencia, prometendo lutar por melhores condições e por uma requalificação que aumente as perspetivas de um maior desenvolvimento. A presidente confessa que se dedica mais à parte legal e administrativa, deixando para Acúrcio Guerra a dinâmica desportiva. “Ele é a alma e repensou o clube, inclusive aumentando o nosso espólio, que era reduzido, apesar da oferta de algum material”. Para Paula Salgueiro, o tempo é de esperança. “As reuniões com Câmara vão prosseguir. Apresentámos planos e propostas e aguardamos que as respostas sejam favoráveis”.   

  

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