Luís Encarnação defende suspensão imediata das marítimo-turísticas

Foto: D.R.

Um acidente durante uma visita à gruta de Benagil, a colocar uma criança de seis anos em risco de vida e a ter de ser internada no hospital, no dia 1, e um barco que encalhou naquele local, com diversas pessoas a bordo, nesse fim de semana, foram a ‘gota de água’ para Luís Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Lagoa.

Com o autarca a alertar, há vários anos, para a necessidade de regulamentar as atividades marítimo-turísticas, naquela área do concelho, sem que haja rápidas medidas, Luís Encarnação enviou, no dia 4, um ofício para Eduardo Godinho, capitão do Porto de Portimão, a pedir a suspensão imediata temporária das atividades marítimo-turísticas.

O documento seguiu com conhecimento aos ministros do Ambiente e Ação Climática, da Economia e Mar, da Coesão Territorial, da Defesa Nacional, da Agricultura e Alimentação, porque é quem tutela o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e a atividade ligada à pesca.

“Aconteceram dois acidentes no primeiro fim de semana de setembro, um com maior gravidade que outro. Um barco que encalhou, felizmente sem nenhuma consequência, mas no outro, na sexta-feira anterior, uma criança de seis anos foi hospitalizada. Resultou de um abalroamento de uma embarcação com motor ao caiaque, onde a criança seguia com os pais. Teve de ser retirada do mar, reanimada em terra e o primeiro diagnóstico indicava perfuração do pulmão, líquido no cérebro, uma fratura na perna”, descreveu o autarca em declarações ao Lagoa Informa.

“Isto é claramente demonstrativo de que não existem condições de segurança, neste momento, naquele troço da costa que vai da Praia da Marinha à Praia e gruta de Benagil. É aquilo que andamos a dizer há uma série de tempo. São demasiadas embarcações num espaço tão pequeno”, reforça.

Constituído grupo de trabalho
Há poucos dias foi dada ‘luz verde’ pelo Governo para a constituição de um grupo de trabalho, que integra diversas entidades, para que seja analisada esta situação. Esta é uma medida “importante, mas é só o ‘pontapé de saída’ para um trabalho mais vasto que é necessário fazer, porque as coisas não podem continuar como estão”, alerta Luís Encarnação.

“Neste momento, face ao elevado número de acidentes e incidentes que têm acontecido, dando destaque a estes dois últimos, pedimos a suspensão temporária e imediata e queremos que ela se mantenha até estarem reunidas as condições de segurança para esta atividade”, sublinha. Neste caso, não é a autarquia que tem poder para tomar decisões, mas a tutela ou as autoridades.

O autarca afirma querer evitar “uma desgraça ainda maior”, numa área que é visitada por pessoas em embarcações com motor, de vários tipos e tamanhos, em caiaques, em pranchas de ‘stand up paddle’. Há ainda os que vão a nado, os que usam colchões insufláveis ou os que se atiram da falésia, enumera.

Esta é uma das razões que leva o autarca a defender uma carga máxima diária, depois do estudo.

“Não queremos que fique apenas na visita à gruta. É preciso determinar também uma carga máxima de acesso ao areal da Praia de Benagil, porque é o ponto de partida para a gruta, e à Praia da Marinha, que está com um problema de sobrelotação”, reafirma.

O passo seguinte, após o estudo, será definir o acesso, criando um regulamento que limite as visitas e os passeios, determinando quer o número de pessoas, quer de embarcações.

“É catastrófico. Muitos incidentes, que acontecem todos os dias, nem são reportados. Depois há os acidentes que obrigam a mobilização de meios de socorro” e que são divulgados em diversos meios, mas “o que queremos aqui é evitar uma catástrofe, um acidente mais grave do que estes que aconteceram”, argumenta.

Sistema de cores
Questionado sobre a forma como poderia ser regulado este acesso, Luís Encarnação garante que há várias formas e até exemplifica. “Relativamente às embarcações poderia ser um sistema em que se atribuem cores às marítimo-turísticas registadas numa determinada capitania. Fariam as visitas consoante a cor atribuída. Por exemplo, o vermelho só visita à segunda-feira, o verde à terça, o azul à quarta e aí conseguiríamos controlar. Teria de ser fiscalizado pela Capitania, pela Polícia Marítima”, sugere. E a mesma medida teria de ser aplicada a quem acede através das praias, com caiaques, canoas ou por outros meios.

Área sensível
Esta zona da costa é uma área sensível, pela sua constituição, e é instável. Não é por acaso que, no interior da gruta, existem avisos de perigo de derrocada, o que deveria desmotivar a entrada.

Por sua vez, “barcos a entrar na gruta, a trepidação dos motores, os vapores que o motor liberta devido ao combustível… Tudo isso, não sabemos como interage, mas seguramente não há de ser nada de bom”, descreve. Será também um dos temas a debater por este grupo de trabalho.
A verdade é que há vários operadores com embarcações registadas até noutras zonas do país, que na época alta se registam na Capitania de Portimão como marítimo-turística para poder aproveitar o Verão. O constante vai e vem naquela zona congestiona, quer em mar, quer nos areais. Em Benagil, nos últimos anos há o acréscimo dos caiaques.

“Atropelam-se uns aos outros. Com vendas agressivas, lutas entre eles. As pessoas vivem constantemente assustadas, ocupam tudo o que são terrenos para estacionarem atrelados com os caiaques. Benagil tornou-se ‘uma terra de ninguém’, ‘um verdadeiro faroeste’ e não podemos permiti-lo”, conclui o autarca.

No entanto, até ao fecho desta edição, na terça-feira, não tinha sido publicado nem divulgado nenhum edital da Capitania de Portimão que correspondesse a este pedido da autarquia. Um edital, na semana passada, interditava o acesso até dia 7 de setembro, mas devido às condições meteorológicas.

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