Mestre Burguês: “A capoeira é um desporto de transformação”

Que balanço faz do encontro mundial que presenciou em Lagoa?
Foi um mega evento e agradou a todos. A aceitação foi muito boa, com a participação de pais e filhos, pessoas de Portugal e de vários países do mundo. Já esperávamos isto, pois o trabalho organizado, que tem sido feito pela Associação Capoeiragem Malta do Sul, é fantástico. Foi um encontro muito bom.

Como vê o trabalho feito pela associação no Algarve?
É um trabalho muito forte de inclusão social com as crianças e esse é um dos objetivos da capoeira. É um orgulho para mim o que eles têm feito. A nossa proposta sempre foi desenvolver todas as vertentes da capoeira, principalmente a inclusão social.

Como está a modalidade em Portugal?
É um dos países mais desenvolvidos neste desporto e há uma procura muito grande por cá. A musicalidade é muito forte e atrativa e sinto que a modalidade está a crescer no mundo inteiro. Em Portugal, já tem mais de 30 anos e acho que foi muito bem aceite.

O acha que falta à capoeira para ter ainda mais expressão?
Falta mais apoio das entidade oficiais, nomeadamente das autarquias. No Algarve, a modalidade tem crescido e desempenhado um papel social importante. Tem havido apoios, mas são necessários mais. A capoeira já provou o seu mérito, basta ver os praticantes que tem, as ações que desenvolve e o seu trabalho social.

Que importância tem na formação dos jovens?
É um desporto de transformação. Muda as pessoas em todos os sentidos. No Brasil, os mais carenciados têm a oportunidade de crescer com ela. Transmite valores educativos, disciplina e ajuda-as a serem melhores.

É um dos grandes mestres vivos da modalidade e um dos mais conhecidos a nível mundial. Já lançou cd’s, livros… como começou a sua ligação e amor a esta modalidade?
Começou aos 10, 12 anos quando jogava futebol. Tinha um colega capoeirista que jogava comigo e nas brincadeiras no campo ele ‘batia’ em nós, sem nos dar hipótese. Isso fez com que procurasse a capoeira para me poder defender. Daí, acabei por amar tanto esta arte, que, em pouco tempo, deixei o futebol. Sai do Rio de Janeiro e levei a modalidade para o sul do Brasil e, de lá, foi crescendo para o resto do país.

O que a modalidade mudou na sua vida?
Tudo. Permitiu-me conviver com outras pessoas, de classes sociais mais altas, contribuiu para a minha formação e crescimento pessoal, transmitiu-me valores importantes e depois, como consequência, também ajudou no aspeto financeiro.

Que benefícios físicos, emocionais ou outros pode ter esta modalidade no praticante?
Além da preparação física e da defesa pessoal que dá, os praticantes aprendem também a parte da musicalidade, a história e cultura da modalidade. Nas crianças desenvolve a flexibilidade, agilidade e o interesse pela musicalidade e a disciplina.

Qual a origem da alcunha Mestre Burguês?
O nome surge em pequeno, porque eu não tinha dinheiro para pagar a minha escola. Então comecei a juntar papel e garrafas para vender. Graças a isso consegui pagar três meses adiantado, o que não era normal naquela época. Então os meus colegas pensaram que eu era rico e passaram a chamar-me Burguês, nome que foi ficando ao longo dos anos.

Esteve uns dias em Lagoa, o que achou do concelho?
É uma cidade boa, calma e um concelho muito bonito. Já cá tinha estado algumas vezes e gosto de cá vir. Se viesse morar para Portugal, viria para o Algarve de certeza e talvez para Lagoa.


Breves

Grupo com cerca de 500 atletas na região
A Associação Capoeiragem Malta do Sul, que integra o grupo Muzenza, conta com cada vez mais atletas na região. “A modalidade
está em crescendo e os praticantes também. No Algarve, entre infantários, escolas e projetos sociais estimamos ter cerca de 500 atletas. Temos tido a preocupação de levar a capoeira às escolas e conquistar novos praticantes. Por exemplo, só no infantário onde dou aulas, em Albufeira, são 55 miúdos”, diz Márcio Damião, presidente da associação.

Badoxa é ‘craque’
Badoxa, lagoense e um dos nomes conhecidos da música nacional, é capoeirista, como revela Márcio Damião. “Ele começou connosco em criança e foi até morar na nossa casa. É um bom exemplo do que a musicalidade na modalidade pode permitir. Além de ser um excelente capoeirista, o Badoxa é hoje conhecido em Portugal pelo seu trabalho. E quando há uma atividade, ele tenta participar sempre que pode. Falamos muitas vezes com ele, pois ficaram laços de amizade e gratidão”, refere com orgulho. Contudo, na capoeira a alcunha de Badoxa era outra, como explica João Cabrita, vice-presidente da Capoeiragem Malta do Sul. “Antes era conhecido como Veloz por ser muito rápido e ficou muito conhecido no Brasil, quando foi visto atuar em vários campeonatos e eventos na Europa”, recorda.

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