‘Momentum’ é primeiro CD inédito de Ondina Santos e Vítor Talhadas

O cansaço de interpretar músicas de outros compositores e o entusiasmo de se lançar numa aventura de originais levaram Ondina Santos a apostar num novo projeto. E foi com um desafio lançado a Vítor Talhadas que, em novembro, ambos começaram a idealizar o 22, um novo dueto que junta a artista que vive em Lagoa e o músico de Portimão.

O primeiro tema ‘Beijo’ foi lançado este mês, no dia 22, com um ‘videoclip’ no ‘youtube’, numa aposta que passa assim pelas plataformas digitais.

“Achei que estava na hora de fazer algo com as minhas letras, um bocadinho diferente do fado, mais próprio”, conta Ondina Santos. Não teria que ser um género específico, mas algo inédito.

“Lembrei-me então de um compositor incrível com quem eu já tinha trabalhado na revista do Boa Esperança, em Portimão, e desafiei-o a fazermos um trabalho em conjunto. Isto foi no início de novembro, quando ainda nem sequer se sonhava com o que ia acontecer”, recorda a cantora que reside em Lagoa há 17 anos.

Vítor Talhadas nem pensou duas vezes na altura de aceitar a proposta e entrou nesta nova aventura. “Quando começámos tínhamos alguma ideias definidas dos objetivos a atingir. Ela queria fazer algo na onda da ‘Bossa Nova’, mas mais suave. O que vai ao encontro da minha escrita, da minha música. Não tínhamos nada de concreto, mas à medida que fomos desenvolvendo o processo de escrita, fomos ficando entusiasmados”, afirma Vítor Talhadas.

Os músicos perceberam então que havia potencial para ir mais longe do que tinham pensado. O primeiro álbum tem nove músicas já compiladas, estando outras nove já guardadas para um segundo disco.

A diferença neste novo trabalho de ambos é “a diversidade, a calma e o amor. Mas também há ritmo. Acho que há um misto que, no fundo, mostra o que é o Vítor enquanto músico e pessoa”, descreve Ondina Santos. Isto porque ambos têm vindo a interpretar canções de outros autores ou a compor para outras pessoas. Neste caso, são originais que mostram a essência dos dois. E consideram que o segredo foi o respeito mútuo e a entreajuda para melhorar o que cada um fez neste projeto.

Este novo projeto contou ainda com a colaboração de muitas pessoas, como é exemplo o guitarrista Paulo Correia. “Tenho um estúdio pequeno e não posso ter uma banda inteira a tocar ao mesmo tempo. A verdade é que, hoje em dia, é possível fazer quase tudo sozinho a nível de composição, mas é importante também a colaboração de outros músicos”, conta Vítor Talhadas. Já a parte gráfica ficou a cargo dos filhos do compositor. “O mais velho, o David, está num curso de artes e desenhou a capa do álbum, enquanto o mais novo, o Nathan, criou o logótipo”, diz orgulhoso.

“Queremos promover o valor que temos na nossa casa, porque podíamos ter pedido a outra pessoa. No entanto, não é essa a questão. O Vítor tem dois artistas incríveis, que acho que devem ser promovidos e foi esse o principal motivo que nos fez querer que fossem eles a fazer a capa e o logótipo”, argumenta Ondina Santos.

Ponto de viragem em dois longos percursos
Os dois artistas resolveram chamar-se ‘22’, numa combinação de dois números especiais para cada um. “É uma mistura do meu 11 com o 22 do Vítor. O nosso logótipo é este número, com um coração no meio e o nome deste álbum é ‘Momentum’, porque é o que estamos a viver agora, com alegria, num êxtase”, justifica Ondina.

Um ponto de viragem na carreira de ambos, marcado por um sentimento diferente, segundo explica a cantora. “É o nosso desejo das pessoas se amarem mais, de serem mais positivas, que decidam mudar para elas próprias e não estejam sempre à espera que sejam os outros a mudar. Nós tivemos que nos adaptar a uma pandemia, mudar os nossos hábitos e podemos encarar isto de uma forma positiva ou negativa”, constata.

Já no que toca à sonoridade, Vítor Talhadas acredita que as pessoas vão notar que existe uma assinatura própria. “Tem uma sonoridade muito suave com vários géneros e influências. Há, inclusive, um tema que sou eu que canto, ainda que seja a Ondina a voz principal do álbum. Houve uma preocupação a nível vocal, de sonoridade, dos arranjos e dos instrumentos utilizados, que queríamos atingir”, refere o compositor.

Pandemia obriga a novas formas de divulgação
Apesar de todos os constrangimentos decorrentes da pandemia do novo coronavírus, a covid-19, Ondina Santos até considera ter havido vantagens neste confinamento para a composição dos temas. “O Vítor pôde trabalhar com tempo”, refere. A pandemia limitou os dois artistas tanto no que toca à promoção dos novos temas ao vivo como no que diz respeito à edição do CD. “Tentámos abordar as editoras, mas julgo que, neste momento, esse não é o caminho certo. Vamos encaminhar-mo-nos para as plataformas digitais normais, como o itunes, o spotify, porque é mais fácil hoje em dia. Primeiro lançámos um single e vamos ver a recetividade e notoriedade do nosso trabalho”, explica Vítor Talhadas. Só mais tarde, se se justificar, o dueto lançará o álbum.

Uma vida dedicada à carreira musical
Ambos são conhecidos no panorama musical no barlavento algarvio, onde escolheram viver há muitos anos. Por um lado, Ondina Santos já está em Lagoa há 17 anos, por outro, Vítor Talhadas mudou-se para Portimão em 1985. É nestas duas localidades que têm vindo a consolidar o seu percurso musical, mas também foi nestas cidades que optaram por viver e constituir família.

Ondina Santos, natural de Santa Comba Dão, sempre teve o ‘bichinho’ da música, que começou a evidenciar-se quando o pai comprava discos e levava para casa ou as irmãs participavam nas festas da aldeia e cantavam o fado ou declamavam poemas. Ouvia, cantava e essa paixão durante muito tempo foi apenas um hobbie, para depois passar a algo mais sério.

“Neste momento até é a minha profissão, mas iniciei-me no mundo da música com mais responsabilidade quando entrei no Coro Misto de Coimbra. Quando vim para Lagoa, em 2003, inscrevi-me no concurso de fado e nunca mais parei. Entrei na revista do Boa Esperança, em Portimão, fui madrinha de marchas, estudei jazz em Lagos e agora decidi fazer algo diferente”, revela.

Já Vítor Talhadas produziu músicas para outros artistas durante muitos anos, tendo trabalhado no seu estúdio em Portimão. Durante 12 ou 13 anos era o responsável pelos arranjos musicais da revista do Boa Esperança.

Ao mesmo tempo, conciliava este trabalho com as atuações em hotéis e outros espaços. Descende de uma família de músicos, e apesar de ter nascido na Nazaré, passou a sua infância na África do Sul, vendo o pai atuar com uma banda em unidades hoteleiras e coletividades em Joanesburgo.

Foi lá que começou a estudar música, aos 12 anos, tendo tido diversos professores particulares, inclusive de jazz. “Foi aí que comecei a ganhar gosto pela harmonia musical”, resume.

Quando voltou a Portugal, em 1984, regressou à sua terra natal, mas depressa se mudou para o Algarve, onde conheceu Vasco Moura, dono da loja de instrumentos ‘Ruvina e Moura’.

“Ele era muito conhecido na altura, tocava no Hotel Penina, mas tinha também uma banda de rock ‘Crise’ para a qual ele me convidou. Tocávamos ‘covers’ de bandas americanas. Depois surgiu a proposta para trabalhar na loja de música dele e foi nessa altura que comecei a trabalhar no estúdio. Fazíamos os ‘jingles’ e os ‘spots’ para a antiga Rádio Portimão”, descreve. Esse foi o primeiro contacto que teve com a produção musical que passou, mais tarde, para outro nível quando começa a trabalhar com artistas locais, como o Beto Kalulu ou o ‘Zé Manel’.

Vítor Talhadas e Ondina Santos ainda trabalharam juntos quando criaram duas músicas para os 50 anos de carreira de António Calvário, num desafio proposto por Carlos Pacheco, presidente da coletividade Boa Esperança.

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