O olhar do Mascarilha: Que desagradável mundo novo!!!!

Texto: O Mascarilha


Do cruzamento da realidade contemporânea com as lições que a história do mundo tem para nos oferecer, seria expectável que o papel dominante da China; o Brexit e o défice de coesão e de unidade dos membros da união europeia; as manobras da Rússia; a situação explosiva do Médio Oriente; a ascensão ao poder do tridente de luxo TBB (Trump, Boris e Bolsonaro) e o facto de Bruno de Carvalho querer voltar a ser presidente do Sporting, mais cedo ou mais tarde, iriam potenciar uma mudança do mundo como nós o conhecemos.

O que ninguém esperava era que, de forma tão fulminante, um vírus, chinês, gordo e com cara de medronho, de um dia para o outro, nos catapultasse para um tão desagradável mundo novo!

Valeu mesmo a pena a malta ter adquirido smart TVs com a mais avançada tecnologia HD, 4K e qualquer coisa Led para ver o campeonato da europa de futebol e os jogos olímpicos e agora ficar com uma bomba de tecnologia para ver o pessoal a falar no Skype!

Mas a arreliação não fica por aí, o vírus alterou nosso dia a dia de uma forma tão profunda que aquilo que para nós era um ideal de vida, leia-se ficar em casa no “dolce far niente”, tornou-se num pesadelo onde pululam as crianças, a mulher e, com muito azar, as sogras!

Antes, o foco da nossa vida estava no dia a dia dos jogadores de futebol e respetivas esposas que exalam amor por todos os poros do corpo e fazem questão de o demonstrar nas redes sociais (e quem não gosta de ver aqueles poros desnudados que atire a primeira pedra!). Agora, a nossa preocupação direcionou-se para os enfadonhos profissionais de saúde que se limitam a salvar vidas, com pouca ou nenhuma segurança, sem glamour e sem brincos cujo valor dava para ventilar todos os portugueses.

Antes, suspirávamos para que chegasse a hora dos reality shows onde as estrelas, cujos peitorais e abdominais são inversamente proporcionais à sua inteligência, expressavam, tipo, de forma, mais ou menos, tipo, percetíveis os seus dramas, levando a que, tipo, a esmagadora maioria dos homens portugueses se revisse, tipo, nas agruras da vida de um gajo, tipo, com um metro e noventa de altura, tipo, armário, tatuado e com problemas em distinguir a parte da frente da parte de trás da camisola. Agora o nosso foco está nos agentes de autoridade que nos protegem, que fazem cumprir o estado de emergência, que deixam a sua família por um bem maior, mas cujos abdominais deixam muito a desejar.

Tinha mais piada quando achincalhávamos os políticos e escondíamos a nossa
ignorância no discurso socialmente aceitável e aconselhável do bota-abaixo tudo o que é politico e funcionário público.

E como podemos comparar as festas e o estilo de vida dos atores/modelos/famosos/gente bonita das novelas da TV com aquela gente rude, sem relógios e roupa de marca, cuja única valência é assegurar que, no conforto do nosso lar, continuemos a ter água, gás, luz, telecomunicações, comida e combustíveis? E com aqueles que cuidam dos idosos e dos mais necessitados? E com os bombeiros? E com todos aqueles que diariamente andam na rua a assegurar que o país não pare enfrentando o vírus como verdadeiros toureiros?

E como conseguiremos sobreviver às segundas, terças, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos sem os programas de “atualidade e debate desportivo” compostos por paineleiros escolhidos de entre a nata da sociedade, os quais, hoje por hoje, se constituem como elites, capazes até de eleger deputados?

E será que já alguém pensou como é que vamos conseguir viver sem nos preocuparmos com o resultado da guerra das audiências entre o Gordo, a Cristina Ferreira e o Manuel Luis Goucha numa altura em que uma figura emergente, que dá pelo nome de Cláudio Ramos, poderia ter alguma influência geoestratégica nesta Guerra?

E por falar neste dois últimos personagens, o que será do turismo do Algarve sem as tradicionais bichas do mês de agosto numa altura em que a escassez da água e a época dos fogos são uma preocupante realidade?

E depois temos os políticos!

Comprámos a ideia de que os políticos são todos iguais, inúteis, corruptos, vaidosos, mesquinhos, que se movem por interesses próprios, que vivem do compadrio e que, pasme-se, são uma cambada de incompetentes. Com a santa complacência da nossa imprensa isenta, imparcial e destituída de agenda própria, chamámos nomes aos políticos, às suas mães, aos seus pais e ao restante agregado familiar; deixámos de votar porque não valia a pena; ridicularizámos quem anda nas lides públicas; exigimos dos políticos muito mais do que nós próprios estamos dispostos a dar e, com tudo isto, fomos afastando pessoas cuja capacidade de liderança seria fundamental neste momento particularmente difícil.

Exaltamos quando a esposa do senhor jogador de futebol compra umas calças cujo valor é superior ao ordenado de um presidente de câmara, mas achamos que o senhor ou a senhora presidente de câmara não só ganha muito como as mesmas calças não lhe assentariam tão bem.

Decididamente, tinha mais piada quando achincalhávamos os políticos e escondíamos a nossa ignorância no discurso socialmente aceitável e aconselhável do bota-abaixo tudo o que é politico e funcionário público.

O mal está feito, agora resta-nos esperar que quem se dignou votar nas últimas eleições o tivesse feito de forma acertada e que quem nos dirige, a nível local, nacional e internacional, não paralise, não entre em pânico, e acima de tudo não desobedeça à preocupação hipócrita dos impolutos do costume e não caia na tentação de recorrer ao ajuste direto para a aquisição de bens de primeira necessidade! Sim, porque mesmo nesta altura, é imperioso consultar, no mínimo, três entidades porque como bem sabemos a definição legal de ajuste direto é um procedimento em que um ou vários políticos e técnicos adjudicam a um terceiro ou a um amigo um contrato público a troco de uma comissão para si ou para os respetivos familiares. Quando os equipamentos de proteção individual e as latas de atum chegarem, chegam! O importante é garantir que estes bens sejam adquiridos de forma transparente.

E atenção que isto não é uma fake new! É mesmo verdade! Garantiu-me uma esposa de um jogador de futebol que tem um amigo jurista e um amigo médico que está na frente de combate e que viu com os próprios olhos o vírus a transformar-se num político amorfo, sem personalidade e com muita dificuldade em distinguir a parte da frente da parte de trás da camisola.

Claro que estarmos a torcer pelos políticos e pelos funcionários públicos que estão no olho do furacão não é tão atrativo como gritar alto e bom som para que ambos vão para o olho da rua. O número de Likes definitivamente não é o mesmo!

É por estas e por outras que eu digo que este novo mundo é um mundo piroso, é um desagradável mundo novo!

A minha secreta esperança reside no facto de que, como a história nos tem demonstrado, raramente temos aprendido com os erros do passado e, não tarda muito, estaremos a vibrar com as vitórias do glorioso, com as festas de verão dos famosos, com o novo carro de 8 milhões que alguém comprou, com a separação da não-sei-quantas com o não-faço-a-mínima-ideia-quem-é-o-gajo-mas-deve-ser-famoso e, acima de tudo, estaremos novamente a chamar nomes aos nossos queridos políticos de estimação!

Chamem-me retrógrado mas prefiro o agradável mundo antigo!

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