Opinião | Leishmaniose

Cristina Mosteias | Médica Veterinária, in Lagoa Informa nº157

Caros leitores, espero que se encontrem de saúde e numa altura em que as nossas vidas começam a voltar a uma estranha quase normalidade, vamos abordar um tema frequente na clínica de pequenos animais, a Leishmaniose.

Leishmaniose é uma doença causada por um parasita protozoário do género Leishmania, cujo vetor de transmissão para os mamíferos é a fêmea do mosquito Flebótomo.

A infeção é mais frequente em cães, embora os gatos também possam ser infetados, mas muitas vezes são sub-diagnosticados.

A transmissão deste parasita faz-se através da picada do mosquito ‘da areia’ (o Flebótomo), por transmissão horizontal ‘in útero’ das cadelas gestantes para os seus filhotes e por trocas de sangue em lutas entre cães, através das feridas. A intensidade das manifestações clínicas da doença é determinada pela morbilidade do subgénero de Leishmania infetante e pelo estado imunitário do próprio animal.

A sintomatologia varia de acordo com a apresentação da doença: cutânea ou visceral.

Na forma cutânea são características comuns as lesões de pele, ulceradas ou não, com queda de pelo em qualquer região do corpo, sem prurido e feridas nos pavilhões auriculares. É comum o crescimento rápido das unhas, almofadas plantares secas e gretadas, lesões crostosas do plano nasal/nariz, e inflamação das articulações com dores e consequente dificuldade na locomoção do animal.

Na forma visceral, o parasita tem predisposição para os órgãos: fígado, baço e rim. O que pode levar a situações clínicas de insuficiência renal, hepática e em última instância falha multiorgânica, que culmina com a morte do animal, independentemente do tratamento administrado.

Comum às duas formas: perda de condição corporal, anemia, hemorragias, perda de apetite e linfoadenomegalia generalizada. Este último sinal clínico ocorre porque o organismo combate ativamente o parasita e o sistema linfático, responsável pela deteção e combate a entidades identificadas como estranhas, está reativo e nos pontos de retenção (linfonodos) existe inflamação e tumefação.

Os exames complementares de diagnóstico são feitos através de análises sanguíneas (deteção de anticorpos e PCR), punção de medula óssea e muitas vezes histopatologia das lesões cutâneas. O tratamento depende da gravidade da doença e da sua apresentação, mas baseia-se em medicação oral para controlo da multiplicação do parasita e terapia injetável para diminuir a carga parasitária.

A melhor forma de prevenir é fazer um bom controlo e repelência do mosquito, com as coleiras ou as pipetas, respeitando sempre a sua duração de ação. Estes produtos contêm substâncias da família das permetrinas, ou seja, o princípio ativo por excelência para repelência do vetor (flebótomo). Existem outras formas complementares de combate e prevenção que o seu veterinário assistente de bom grado lhe informará.

Não adianta comprar ‘o comprimido dos 3 meses’ e achar que estamos a fazer o melhor pelo nosso cão, não é verdade!
Deparo-me com esta situação na minha prática clínica diariamente e é importante educar e sensibilizar os donos, porque muitos ou não sabem ou foram induzidos em erro por técnicos sem formação na área da medicina veterinária. Estes apenas se limitam a vender um produto, que por muito bom que seja, faz só, e apenas só, pulgas e carraças, deixando assim o nosso ‘cãopanheiro’ completamente desprotegido contra a Leishmania.

Gostaria que o leitor pudesse participar de forma ativa pedindo temas que gostariam de ver abordados nesta rubrica, seria gratificante poder ir de encontro aos assuntos de vosso interesse.

Uma boa semana.

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