Opinião: A morte na vida das crianças

Sónia Francisca Silva | Psicóloga Clínica (Especialista em Neuropsicologia e Psicogerontologia)
Email: sfspsicologia@sapo.pt

É-nos muito difícil falar da morte, coloca-nos em confronto com o sentido de finitude. E, é particularmente difícil falar sobre a morte com uma criança, que está em fase ascendente de curiosidade em relação à exploração do mundo que a rodeia e a necessidade de criar vínculos seguros.

Nos últimos dois anos, as crianças têm sido confrontadas com o conceito de morte, quer através da perda súbita de pessoas próximas ou conhecidas que morrem devido à doença covid-19, quer pela mediatização diária do número de mortes por covid-19 , e mais recentemente, a perda mediática do menino marroquino, Rayan, que dá a perceção de um mundo imprevisível, de perigo e a necessidade de estar em alerta. O mundo das crianças quer-se seguro, com ‘balizas’, com sentido de previsibilidade, tudo o que não tem acontecido, no contexto social atual.

É natural, que as crianças reajam das mais variadas formas, de acordo com a idade, o desenvolvimento cognitivo e se já tiveram experiências prévias de perdas. Elas reagem de forma diferente dos adultos, sendo que a internalização do conceito de morte está relacionada com a capacidade de adquirir as noções de irreversibilidade, não funcionalidade e universalidade (Speece & Brent, 1964); quando falamos de irreversibilidade, falamos da noção permanente e não reversível da morte; a não funcionalidade refere-se à perda das funções vitais e a universalidade à noção de que todo o ser vivo tem infalivelmente de morrer.

Na idade pré-escolar, as crianças percecionam a morte a partir da tristeza dos adultos, em espelho, no entanto, não a reconhecem como irreversível, levando à fantasia de ainda poder voltar a estar com a pessoa que faleceu. De acordo com Machado (2005), o facto da criança acreditar no retorno da pessoa falecida deve-se a como os desenhos animados mostram o retorno à vida após a morte, ou por os adultos dizerem que a pessoa foi descansar, dormir ou fazer uma viagem.

Já entre os cinco e os nove anos, a criança já vai percecionando a morte como algo irreversível, questionando muitas vezes qual o destino da pessoa que faleceu; a criança tende a personificar a morte, achando, de forma muito concreta, que é uma consequência da ação de terceiros, daí a importância de evitar maus comportamentos para evitar a morte. Para Machado (2005), nesta fase, a morte acontece aos outros, mas não ao próprio ou àqueles que lhe são significativos.

Entre os nove e os doze anos, é interiorizada a morte de acordo com a irreversibilidade, não funcionalidade e universalidade, sendo comum a todos os seres vivos. A criança já distingue o que são seres animados e inanimados. Está presente a noção de constância, conservação e tempo, levando à interiorização do conceito de morte.

De acordo, com a idade e as diferentes perceções da morte, acima descritas, podemos encontrar diferentes estratégias para lidar com a perda e consequentemente com o luto, como, expressar as nossas emoções (chorar, não é um sinal de fraqueza), falar com um familiar, um Professor ou o Psicólogo(a) da Escola, participar nos rituais de luto, manter viva a memória da pessoa que morreu, como ver fotos ou criar uma playlist das músicas preferidas da Pessoa.

Recomendo o Livro ‘Perto’ de Susana Amorim. Pode consultar:
https://escolasaudavelmente.pt/alunos/criancas/minhas-emocoes-pensamentos-e-comportamentos/quando-alguem-que-conheco-morre

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