Opinião AGIR: Associativismo, a Vida Comunitária e o Multilateralismo Local

Agostinho Custódio


Os costumeiros incêndios de verão trouxeram para o espaço mediático um velho problema da sociedade portuguesa, o voluntarismo. Não me refiro ao combate aos fogos nem ao desempenho das autoridades nessa questão, aponto sim o dedo ao sofrimento dos animais retidos em canis irregulares. Para além da efémera indignação moral, é obrigatório retirar lições sobre o funcionamento daquelas instituições civis, do seu mau funcionamento e das consequências que daí possam advir.

A expressão irregular não foi usada inocentemente, pois tem um fator de gravidade acima do ilegal: o ilegal é apenas um aspeto administrativo que nos diz pouco sobre o exercício de uma atividade; já o irregular diz-nos muito sobre ela, sobretudo que não cumpre regras e, ao não cumpri-las, poderá causar dano futuro. Se as entidades civis têm de cumprir leis não é porque sim e apenas para satisfazer o Estado, é porque devem reger-se por formas de conduta que vão ao encontro dos seus objetivos fundacionais e para que o seu crescimento tenha uma racionalidade saudável e benéfica. Com base nestes pressupostos, vejamos onde falharam estas entidades de improviso, para lá de toda a questão da legalidade.

Primeiro, estas formas de intervenção cívica são muitas vezes de base pessoal e não grupal, isto é, baseiam-se de boa vontade de uma pessoa que centra em si toda a dinâmica da organização. Os restantes participantes da entidade são encarados como voluntários e instrumentos úteis para cumprir essa vontade pessoal, que se dispõem a tal por amor à causa de fundo. Neste modelo, ainda que haja várias pessoas a agir, não se manifesta um sentido democrático dentro da orgânica de funcionamento, é a típica estrutura de liderança piramidal.

Segundo, o personalismo das hierarquias piramidais, que podem ter um excelente desempenho se o líder o for de facto e ter uma clareza de atuação exemplar e edificante, apresenta defeitos inegáveis. Os dois principais problemas deste modelo de serviço à comunidade: o desenvolvimento, mais cedo ou mais tarde, de comportamentos autocráticos que começam a alienar os próprios voluntários, causa

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