Opinião: Caganda e maravilhoso governo

Pedro Manuel Pereira | Historiador, in Portimão Jornal nº 53


Lançadas as bases deste maravilhoso, benemérito e magnificente governo, que traz os portugueses preocupados, mas no fundo, bem lá no fundo do… felizes e contentes, este, inicia a grande tarefa política do nosso tempo, de acordo com a associação de trangalamanos onde se encontra filiado, criando um sistema de governação sui generis, ou seja, tirar aos pobres para dar aos ricos.

Maravilha da filosofia política e do direito constitucional que fará dele, na história política destes dias e dos que hão-de vir ‘ad aeternum’, um dos maiores fenómenos políticos de todos os tempos em todo o mundo.

E não é, pelas assombrosas realizações práticas com que tanto nos engrandece e nos enche de vaidade – até nos apetece dizer, cagança – cá dentro e lá fora, sobre todos os pontos de vista. É, sobretudo, no ponto de vista das ideias, na razão pura, no domínio intelectual, porque é aí, de facto, que este governo se revela, quanto a nós, o melhor de todos a nível mundial, prevendo, com faculdades verdadeiramente divinatórias, à distância, os rumos da filosofia política e o mínimo indispensável à defesa do que resta ainda da civilização ocidental.

O grande drama político do nosso tempo consiste, como sabemos, no problema da conciliação da autoridade com a liberdade, mas nestas áreas, também o nosso venerando governo provê, sem descanso, amor e devoção ao bem-estar dos portugueses. Chega ao pormenor (que desvelo!) em se preocupar quanto à forma de enquadrar (e arrecadar para os cofres do estado umas centenas de milhar de euros) a maneira como os cidadãos pescam xaputas, chicharros, fanecas, cachuchos, robalos, tainhas e coisa e tal, nas suas horas vagas, mantendo uma benfazeja e oportuna lei que contempla as respectivas licenças e coimas para os prevaricadores. Acabou-se a rebaldaria de ir dar banho à minhoca onde calha.

Os portugueses têm de aprender o que é a disciplina. Prevê-se, que a próxima lei consensual a sair seja a da utilização do isqueiro para acender o cigarrito. É imperativo que se retomem estas maravilhosas leis do falecido e visionário estadista lá das Beiras, como contribuição para a nova ordem nacional.
Já agora e a talhe de foice, permitam-nos vocências, governo da nação, uma sugestão para a «ordeirice» nacional, que o mesmo é dizer: manter o povo dentro das… aspas, como convém. Decretem a imposição de todo o português usar um aparelho fácil de conceber, a colocar nas ventas, assim a modos que um «oxigenómetro», de forma a contabilizar o oxigénio que cada um consome, tal como um taxímetro. Em conformidade, cada cidadão passará a pagar o que é devido pelo maravilhoso ar português que respira, contribuindo para evitar o seu desperdício e ajudando a engordar os cofres do estado, para além de doar a sua quota-parte à «ordeirice» nacional.

Tem-se operado, de facto, com o actual governo, uma verdadeira Revolução Nacional, que só podem comparar-se na História pátria, às de 1383-1385 e 1820, muito embora ambas essas lhe sejam inferiores.

Do ponto de vista, portanto, deste executivo, é o Regime, o novo estado da nação, que nos une e identifica, havendo manifesta divergência, como aliás sucede no Pais inteiro – tal como sucede em boas casas de família – quanto às instituições. Mas é óbvio, conforme deduzimos, que se todos os indivíduos, pessoalmente, são livres para escolherem em filosofia política as instituições, com este fantástico governo, colectivamente, não têm esse problema, porque a sua missão é apoiar a criação de um novo Regime que faz falta à malta e esta é a hora de o realizar e defender colectivamente à cachaporrada se necessário. Tudo a bem da nação, é claro!

  • Escrito sem a aplicação do novo Acordo Ortográfico.

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