Opinião | Citius, Altis, Fortis (1)

João Reis |Professor


“O Olimpismo é uma filosofia de vida que exalta e combina de forma equilibrada as qualidades do corpo, da vontade e da mente. Aliando o desporto à cultura e educação, o Olimpismo procura ser criador de um estilo de vida fundado no prazer do esforço, no valor educativo do bom exemplo, na responsabilidade social e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais”. (1º Princípio Fundamental do Olimpismo)
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Os Jogos Olímpicos TÓQUIO-2020 foram adiados para 2021, devido à pandemia da Covid-19. A decisão, tomada em fins de Março/20, pelo Comité Olímpico Internacional, deve ser sido difícil. A denominação – ‘TÓQUIO-2020’ – será, porém, mantida. Será, num ponto de vista economicista (ou pragmático, se se quiser) compreensível – os investimentos feitos em estádios, piscinas, picadeiros, ginásios, zonas residenciais, hotéis, hospitais, etc. serão sempre referenciados àquele ano, nos orçamentos e planos das entidades responsáveis pela sua construção, estando, por outro lado, suspensas as receitas previstas; toda a publicidade está produzida com (e para) aquela data assim como as medalhas já cunhadas e toda a parafernália de ‘marketing’ (t-shirts, chapéus, óculos, bandeiras, canecas…), a que se poderá acrescentar cobranças de direitos televisivos, radiofónicos, cinematográficos, jornalísticos. Só o contrato com a americana NBC vale 7 mil e 500 milhões de dólares (recuperáveis, claro, pelos anúncios). Isto, sem falar dos contratos e ‘desinteressadas dádivas’ dos patrocinadores. Os montantes envolvidos serão astronómicos – na organização, nas viagens, nos interesses económicos e políticos, no esplendor, brilho e luxo que serão exibidos, nas cerimónias, nos convites.

Junte-se, ainda, os ‘enxames’ de dirigentes que vivem, profissionalmente, das Olimpíadas – Comité Olímpico Internacional (105 membros activos), 206 Comités Olímpicos Nacionais, 5 Associações dos Comités Olímpicos dos Continentes, 45 Federações Internacionais de Modalidades e por aí fora… mais os ‘staffs’. Uma imensa ‘indústria’ para ‘emoldurar’ as ‘estrelas’ – os DESPORTISTAS. Campeões nos seus países, candidatam-se a Campeões Olímpicos. Até aqui, tudo bem!! Mas, a seguir à subida da sua ‘cotação’, determinada pelos resultados, quererão mudar de clube, de treinador, de patrocinador, de remunerações e, até, de pátria. Abandonado o amadorismo inicial e sua substituição por exigente profissionalismo, aqueles campeões dispõem, agora, de treinadores progressivamente mais especializados, da Biomecânica, da Cinesiologia, da Biofísica (ciências da Motricidade), da Medicina, de Políticas de Alto Rendimento, de tecnologias ligadas aos pavimentos dos recintos, aos tecidos, ao calçado e à generalidade do material e aparelhos desportivos. Alguns têm, também, recorrido a substâncias providenciadas pelas ‘ciências farmacêuticas’ para, desonestamente, alcançarem melhores marcas e desempenhos. Sendo o ‘dopping’ proibido, os prevaricadores são punidos. Mas o mal está feito – o ‘fair-play’, o jogo limpo, ficou afectado…
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Resumindo – o ESPÍRITO OLÍMPICO, como concebido por Pierre de Coubertin, está ferido, os seus valores desvirtuados, ‘infectados’. Tal como aconteceu ao tempo das Guerras Mundiais, os ‘Jogos TÓQUIO-2020/2021’ seriam de CANCELAR, mais do que ADIAR. Não se tem chamado, a esta pandemia, ‘uma guerra contra inimigo invisível’?

É popular a expressão ‘Há males que vêm por bem’. Evoco-a, por julgar que um interregno, agora, seria uma preciosa oportunidade para REPENSAR o OLIMPISMO. Em Abril, GUY DRUT, campeão olímpico, ex-Ministro do Desporto da França, actualmente Membro do C.O.I., considerou que os futuros Jogos, “obsoletos e ultrapassados, devem ser repensados”. E adiantou “A crise pela qual estamos a passar tem um impacto duradoiro nas nossas rotinas, modo de vida, economia, pacto social e na escolha de sociedade. E trouxe uma necessidade de nos reinventarmos. Os J.O. não são excepção”.

Há muitos mais, pensando assim!! É A HORA!

(1) “Mais rápido, mais alto, mais forte”, lema dos Jogos Olímpicos.

  • Escrito sem a aplicação do novo acordo ortográfico

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