Opinião: Esconjuros, maus olhados e outras maleitas
Pedro Manuel Pereira | Historiador, in Portimão Jornal nº30
Quantas vezes não nos tem acontecido mudar repentinamente de humor, sobretudo depois de termos estado em dado lugar, ou a falar com alguém, que, como que nos ‘sugou’ as forças anímicas que tínhamos, ou até e sobretudo, quando vimos um telejornal nacional à hora de jantar e como sobremesa do mesmo ouvimos um comentadeiro profissional, um néscio, a perorar sobre tudo e sobre nada com ar impante de imbecilóide!
Para combater essas más influências necessitamos de aprender técnicas de auto protecção. Não se trata de combatermos valores sobrenaturais malignos, trata-se antes de fortalecer a nossa psique contra qualquer ataque psicológico como do calibre referido.
Os especialistas sugerem as mais diversas fórmulas, desde as aparentemente absurdas extraídas do receituário elaborado pela famosa ocultista, vidente e mulher de virtude, alentejana, madame Balbina da Purificação, até à prática de técnicas de meditação, passando pelos típicos amuletos, como patas de coelho, ferraduras (por cima da porta de entrada de casa), pés-de-cabra, cornos (estes últimos sempre atrás da porta de casa) etc., passando pelas visualizações, pelas orações e fórmulas mágicas estilo: ‘o raio que os parta mais as suas promessas eleiçoeiras!’, ‘cambada de chulos!’, ‘e se fossem gamar prá estrada?’, e por aí fora.
De igual forma sugerem a recorrência a Feng Shui ou terapias psicológicas como a programação neurolinguística, defumações com dentes de alho, louro, pimenta da índia e coisa e tal, por toda a casa, desde a retrete às capoeiras das galinhas.
O ideal será reforçar o nosso magnetismo natural e a nossa aura com pensamentos positivos e esconjuros do género: ‘vá-de-retro-satanás ó pencudo!’, ‘Devias morrer com a doença das vacas loucas!’ e coisa e tal…
Cada pessoa deve-se defender em função da sua personalidade e circunstância, no entanto, por mais que queiramos desenvolver uma atitude positiva, não parece ser suficiente para nos mantermos a salvo de influências negativas especialmente as que precedem do nosso subconsciente, sem falar da caça às multas de trânsito e dos assaltos à mão desarmada a que podemos estar sujeitos no dia-a-dia.
Há pessoas que usam amuletos e estão certas de que o seu uso é verdadeiramente eficaz e protector. Outras, pensam-se a salvo desde que deem de frosques pura e simplesmente deste país para bem longe.
Que valor podem, pois, ter os amuletos. Não serão antes, estes, um fenómeno de sugestão? É muito provável que o seu efeito ou capacidade para proteger se deva em grande medida à crença que se deposita neles. Os mesmos, são capazes de produzir uma profunda resposta emocional em algumas pessoas e servem-lhes de ajuda para intensificar a sua energia psíquica e sexual protegendo-as de influências externas negativas. Pelo menos assim costuma acontecer com o «mal de olho» ou inveja.
Quando a vítima está consciente desse olhar de inveja, o medo pode vir a afectá-la de forma grave, uma vez que as ideias aceites pelo cérebro costumam converter-se em actos e vai daí, pimba! – Se puder arreia umas valentes mocadas no invejoso.
Em África, por exemplo, o bruxo que faz o ‘mal de olho’ assegura-se de que a vítima fique a saber do seu acto. Esse é o segredo do seu êxito.
Quando a vítima sabe que foi sujeita a mau-olhado a combinação da fé na fatalidade e a auto-sugestão incitam a que a maldição se torne realidade e favorecem que ela se abandone física e espiritualmente ao facto.
Da mesma forma também se pode aprender a proteger-se.
As fórmulas são muitas, no entanto, a sua eficácia dependerá sempre do empenho que se ponha em fazê-las funcionar, é claro e recorrendo sempre que possível ao receituário da grande vidente, a madame Balbina da Purificação!