Opinião | Lagoa e os lagoenses: Albandeira

Hélia Santos


Os homens levantavam-se cedo para preparar o espaço antecipando a chegada dos alguidares, tachos, mantas e esteiras que as mulheres tinham aprontado na noite anterior. 

Pelo caminho víamos as maias, decoradas com giestas, sentadas à beira da estrada e os campos cobertos de flores. Assim que acabava o alcatrão e a carrinha agitava-se entre a poeira e as pedras soltas, sabíamos que estávamos a chegar – os pinheiros e a praia de Albandeira sempre foram sinónimo do 1º de Maio. 

Depois do fogareiro aceso e da mesa posta partilhavam-se os pitéus, os caracóis e o vinho, disputavam-se figos secos, morgadinhos, roscas e as garrafas de medronho. Animavam-se os adultos com guitarradas a acompanhar a cartada e bastava o sol tocar a face que a criançada já tinha corrido clareira abaixo pronta a dar os primeiros mergulhos.

Naqueles anos havia uma despreocupação natural e saudável que permitia andarmos livremente por entre a natureza. Aprendíamos sobre os animais, as plantas, explorávamos todos os recantos e, para além das conchas, acabávamos sempre por levar alguns arranhões para casa. 

Depois do corrupio de pratos e talheres, comeres e beberes havia quem aproveitasse para uma pequena sesta, já eu segurava as cordas que o meu pai tinha pendurado enquanto baloiçava o mais alto que conseguisse.

Era assim que Maio nos chegava, com cheiro a pinheiro manso, sombras frescas e água salgada nos cabelos.

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