Opinião | Lagoa e os lagoenses: Festa de Natal

Hélia Santos, in Lagoa Informa Jornal nº169


Enquanto a minha mãe me dizia “porta-te bem, olha que o Pai Natal não te vai trazer nada”, a minha avó franzia o nariz e rapidamente completava “e o menino Jesus também não.” Estávamos oficialmente em dezembro.

Tínhamos começado a desenhar Pais Natal na escola e aprendíamos as músicas da época. Em casa – enquanto enfeitávamos a árvore de Natal com luzes e grinaldas – o meu pai relembrava-nos das histórias dos antigos, de outros tempos em que as modernices não existiam e o pouco já era o suficiente. Na catequese também se preparava a festa de Natal, onde o alinhamento era um clássico que nunca se alterava. 

Chegado o dia, o salão do ‘clube do sporting’ parecia demasiado pequeno para tanta gente. Nas primeiras filas sentavam-se os avós babados seguidos dos pais orgulhosos, com as câmaras de filmar e as máquinas fotográficas em punho apontadas aos rebentos.

Nos bastidores, naquele corredor estreito atrás do palco de paredes empoeiradas que a tinta já não segurava, esperavam-nos umas mãos já enrugadas da idade que nos compunha as roupas e os cabelos. Qualquer rapaz ou rapariga loiro de olhos claros sabia que seria o anjo da guarda no presépio, depois uma menina e um menino entravam em silêncio.

Porém, quem julga que esta tarefa era fácil, devia de ver a catequista Maria Teresa muito preocupada com as vestes azuis e brancas acetinadas que passavam ano após ano por uma criança diferente, mas que nem sempre passavam facilmente pelas suas cabeças. Estava aberto o espetáculo! 

As mães tinham cozinhado as suas melhores iguarias e, dedicadamente, dispunham-nas nas mesas ao fundo da sala. Naquele ano, e talvez nos outros, o palco estava decorado a rigor, as meninas levavam fitas vermelhas no cabelo e eu era uma delas. 

As tradições são as primeiras histórias que queremos contar e preservar. Por mais anos que passem e modernices que surjam, somos felizes quando recordamos e distribuímos amor.

Votos de um Feliz Natal!

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