OPINIÃO | O Chocho
João Reis, Professor
20 de Agosto/23. Final do Campeonato do Mundo de Futebol Feminino organizado pela Austrália e pela Nova Zelândia. Um jogo combativo e vistoso entre as ‘chicas’ da Espanha e as ‘girls’ da Inglaterra. A vitória, por 1-0, coube à selecção espanhola, com um sabor especial porque a selecção inglesa vinha com ‘pergaminhos’ de Campeã da Europa em 2022.
No desfile das jogadoras para receberem os merecidos prémios, perante os VIP’s da Espanha e dos países anfitriões – VIP’s da Coroa Espanhola, dos Governos e dos Futebóis – um chocho, dado pelo Presidente da Real Federação Espanhola de Futebol a uma das ‘chicas’, substituiu, subitamente, os jubilosos festejos da vitória pelo ‘julgamento popular’ daquele D. Juan (1).
Graças às velozes tecnologias da comunicação, os jornais, as rádios, as televisões e as bisbilhoteiras redes sociais deste nosso ‘imaculado, puritano e hipócrita’ mundo passaram, instantaneamente, a chamar às suas primeiras páginas aquele impetuoso beijo. Com estrondo, ‘caiu o Carmo e a Trindade’ e, talvez, também a Moncloa, o Prado… Foi tal a ‘importância’ deste acontecimento que, durante dias, a comunicação social do planeta esqueceu as notícias de guerra na Ucrânia, os incêndios na Grécia, os tufões na China, as fomes em África, os processos do Trump… Tudo passou a ser secundário.
Tão incrível, que Catalina Coll, a guarda-redes campeã, barafustou “É uma pena que nós, as 23 jogadoras, não sejamos as protagonistas destas comemorações”. Com razão!! O feito desportivo daquelas moças desvaneceu-se, enquanto o chocho provocava uma irrupção de comentários, análises e acusações crescentes de gravidade: “atitude indecorosa”, “beijo não consentido”, “machismo”, “assédio sexual”, “agressão sexual”, “violação”.
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Não conheço o Sr. Rubiales; não sei (nem quero saber) se é um ‘buen ciudadano’, confiável e útil à sociedade ou, pelo contrário, um valdevinos, um bandalho. Seja lá o que e quem for, aquele sujeito tem direito a mais testemunhos. Atentemos, sem preconceitos nem ideias pré-feitas, às imagens transmitidas pelas televisões – as vencedoras passando frente à fileira das pessoas importantes que iam ofertando as medalhas da vitória, acrescentando abraços, apertos de mão, festinhas e beijinhos nas faces. Tudo muito comum e circunstancial. Quando foi a vez da Jenni Hermoso (a alegada vítima) passar pelo Sr. Rubiales (o alegado malandro) este, sorrindo, terá felicitado a jogadora, abraçando-se mutuamente, como acontecera com as outras e, segurando-lhe a cabeça, beijou-a nos lábios enquanto ela lhe afagava a cintura. Tudo isto terá demorado 2 segundos!!
Por azar, havia câmaras para ali direccionadas que ‘testemunharam’ o episódio (os ‘paparazzi’ ganham a vida com isto…). Ninguém saberá, excepto os fautores, se houve, ou não, consentimento mútuo para aquele fugidio ósculo. Mas não se viu, da parte da jogadora, qualquer manifestação de desconforto nem gestos de repulsa. Tudo tão rápido e inesperado que não permitiu que se apercebessem do sucedido. As imagens no interior do autocarro não identificam sinais de amargura ou aborrecimento; pelo contrário, é delicioso ver ali a alegria, a juventude, a brincadeira… e o champagne.
À guisa de conclusão – O Sr. Rubiales esqueceu as responsabilidades cívicas inerentes ao seu cargo; foi irreflectido, impulsivo, criançola, inoportuno, desadequado. Será um descontrolado. Deve, por isto, ser punido, embora se ‘adivinhe’, por ali, alguma espécie de intriga oportunista que leve à substituição no cargo.
Quanto à Jenni, saberemos em breve do resultado da queixa que apresentou às autoridades judiciais, hoje – 6/9/23 – quando estou a enviar isto à redacção.
(1) D. JUAN, criação literária de Tirso de Molina