Opinião: Portugal – Identidade e Futuro
Pedro Manuel Pereira | Historiador
A identidade portuguesa encontra-se desde há séculos em latência, numa forma de vida em perpétua busca da sua individualidade. Fernando Pessoa soube explicá-lo muito bem na sua obra, Mensagem.
O português é um militante da sua impossibilidade. Ser português constituiu, de facto, uma forma de heroísmo. Num Ocidente laico e hedonista, a sociedade portuguesa tem dificuldade em entender o estranho sacrifício que conserva a identidade lusitana. É aqui que se encontra como que um paradoxo.
Um dos problemas de Portugal no último quartel do século XX foi o seu «excesso de felicidade», resultante da restauração da democracia. A última invasão estrangeira ocorreu em 1807 e a última guerra civil terminou em 1834, com um país mais dividido que nunca entre liberais e conservadores (estes últimos derrotados) após dois anos de guerra fratricida que deixou o país exaurido em termos económicos e demográficos.
Para além destes acontecimentos marcantes, todas as outras grandes catástrofes que assolaram o país em séculos passados, constituem para os portugueses como que eventos ocorridos entre o sonho e a ficção, ocorrendo assim, por banda da maior parte dos cidadãos, um desconhecimento total desses eventos. E não obstante a sociedade portuguesa continua grosso modo, profundamente dividida entre conservadores e progressistas.
Após a instauração da ditadura salazarista, Portugal transfigurou-se num país da «5ª dimensão», uma vez que esteve como que «adormecido». O povo alheado das grandes transformações que foram ocorrendo no resto do mundo. Os ecos desses acontecimentos chegavam nesses tempos tarde e a más horas, depois de filtrados numa rede de malha muito estreita controlada pela Censura oficial.
Por tal facto, hoje, passados quarenta e oito anos da restauração da democracia, o país continua sem saber para que lado se voltar em termos de estratégia de sustentação económica. Não sabe como despertar da letargia a que se votou – e foi votado – durante décadas. Com uma nação de sucessivos governos neste século, que desgovernam….
No entanto, este problema que parecia ser especificamente português, tem-se revelado com a grave crise económica que ocorre, numa Europa comunitária entalada entre os EUA e a Rússia que metem a Ucrânia pelo meio após este país ver o seu território ser invadido pelos russos e nessa guerra ameaçam levar o resto da Europa atrás, que afinal esse problema é comum a todo o mundo ocidental.
Com o despoletar da fragilidade da economia global, Portugal foi acometido pelos sintomas (e a doença) de uma crise que afinal é de todos. Efectivamente, e a História nos revela, a Península Ibérica constitui um lugar profético. Profética foi a sua relação com o mundo árabe a partir de 711. O anúncio da tensão que marca a actualidade, as relações entre as nações ocidentais e o islão. Profética foi também a expansão colonial ibérica que deu novos mundos ao Mundo, o preâmbulo da actual globalização. Na estrada de saída que é o tempo presente do Ocidente, Portugal sente-se de alguma forma no seu ambiente. O futuro que os ocidentais de um modo geral sentem hoje que não possuem, é o futuro que Portugal sempre teve. Por tal facto ocorre a capacidade inata dos portugueses de inventar e de reinventar-se. São (este povo) por isso, sem sombras de chauvinismo, uma das chaves do PORVIR do Ocidente.
O tempo o dirá. Valete, Fratres.
- Publicado sem a aplicação do novo Acordo Ortográfico