Opinião | S. Martinho de tours e o turismo

Pedro Manuel Pereira | Historiador


Martinho de Tours (canonizado após a sua morte) nasceu em Panónia, que corresponde a uma região da atual Hungria, no ano de 316 e faleceu na cidade de Candes, na antiga Gália (França) em 8 de novembro de 397. Foi soldado de cavalaria do exército romano, monge e mais tarde feito bispo da cidade de Tours no ano de 371, por aclamação popular, cargo que ocupou até à sua morte.

O dia de S. Martinho é celebrado a 11 de novembro, data em que foi a enterrar na referida cidade francesa, pese embora tenha falecido três dias antes. O século em que viveu foi um período de importantes transformações onde desempenhou um importante papel, primeiro, por se ter convertido à fé cristã e em seguida, ter sido um dos impulsionadores de uma ampla cristianização da Europa. Refira-se a este propósito que o seu nascimento ocorreu três anos após o Édito de Milão, promulgado pelo imperador romano Constantino, no qual este concedeu aos cristãos liberdade de culto.

Foi discípulo de Santo Hilário de Poitiers (um dos doutores da Igreja), notável em Teologia e contemporâneo de outro distinto doutor da Igreja que foi Agostinho de Hipona.

S. Martinho distinguiu-se na prática da caridade, no ensino (fundando escolas) na fundação e promoção de mosteiros e igrejas. Foi um dos fundadores do monaquismo na Europa Ocidental, tendo contribuído de forma marcante para a formação da civilização cristã europeia. Só em França são-lhe dedicadas mais de quatro mil igrejas e o seu nome atribuído a milhares de localidades, povoados e vilas por toda a Europa e outros países do mundo de matriz católica.

De acordo com os textos canónicos no que reporta aos dias festivos do ano, no dia alusivo a este santo é referido que S. Martinho foi o primeiro dos santos não mártires. A celebração deste dia é favorecida pelo clima quente de outono, por isso denominado de «verão de S. Martinho», período que rivaliza em festejos populares com as celebrações a S. João.

Na verdade, S. Martinho foi ao longo da Idade Média e até aos tempos mais recentes o santo mais popular de França e outros países e regiões.

O seu túmulo encontra-se abrigado desde o séc. V por uma Basílica na cidade de Tours que por tal sorte foi ao longo dos séculos o maior centro de peregrinação da cristandade na Europa Ocidental, o equivalente nos tempos de hoje ao Santuário de Fátima. Durante largos séculos a cristandade peregrinou até Tours para venerar o túmulo do santo, viajando centenas, milhares de quilómetros por caminhos e estradas, animando a vida económica das localidades por onde passava, em especial os locais onde comia e pernoitava.

Assim, São Martinho é o santo patrono dos alfaiates, dos cavaleiros, dos pedintes, das pousadas, dos hotéis, dos restaurantes, dos produtores de vinho dos soldados, etc…
Por tudo isto, a palavra turismo, que define uma das mais importantes atividades económicas a nível mundial terá origem no topónimo Tours, por via da atração exercida ao longo dos séculos por milhões de peregrinos provindos das mais diversas regiões e países da Europa, tendo por tal facto originado uma atividade económica específica. *

A generosidade e humildade de Martinho, aliadas a uma enorme fama de taumaturgo, fizeram dele um dos santos mais queridos da cristandade.

O seu dia coincide com o mês do ano em que se celebra o culto dos mortos e com a época do calendário rural em que terminam as tarefas agrícolas e se começa a usufruir das colheitas (vinho novo, frutos…).

Em Portugal o dia de S. Martinho é celebrado nas cerimónias religiosas, onde é recordado o seu espírito de solidariedade, sendo especialmente evocado o episódio em que partilhou a sua capa com um mendigo. Associam-se-lhe provérbios para o seu dia, como: «assam-se castanhas/prova-se o vinho…». É altura da matança do porco. Ocorrem em algumas localidades de Portugal, como a cidade de Portimão, tal como em outros países, festas, feiras e vários acontecimentos que levam o seu nome.


*A OMT – (Organização Mundial de Turismo) define esta atividade económica como um «fenómeno que ocorre quando um ou mais indivíduos viajam para um ou mais locais diferentes da sua residência habitual por um período maior que 24 horas e menor do que 180 dias, sem participar dos mercados de trabalho e de capital dos locais visitados».

A palavra turismo (em português) é uma adaptação do inglês tourism, traduzido do francês tourisme, que tem a sua origem na palavra francesa tour, com base na palavra latina tornare, que significa «circuito», «volta em redor de», «fazer a volta», etc..
Quem pratica turismo é turista. Desta forma, turismo poderá ser entendido como a atividade de viagem em «tour» acrescida do sufixo «ismo», que designa o fenómeno geral de movimento: ação, viagem…

Aliás, um dos Tours mais famosos é o da realização anual da volta a França em bicicleta.

Este termo terá surgido plasmado como tal em escritos pela primeira vez em Inglaterra, em 1841, quando Thomas Cook abriu uma agência de viagens, adotando a palavra tourism para denominar uma atividade económica de lazer, as voltas que as pessoas efetuam de uma cidade para outra ou de um país para outro.

Atualmente a atividade turismo subdivide-se em diversos segmentos, como o turismo de consumo, onde são organizadas excursões com o objetivo principal de fazer compras, o turismo religioso, realizado para encontros em regiões com tradição religiosa, o turismo cultural, o turismo rural, o turismo ecológico, etc.

Esta é uma das principais atividades económicas a nível da economia mundial, dado que a movimentação de turistas aumenta o consumo, a produção de bens e serviços e sobretudo gera a necessidade de criação de novos empregos.

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