Os caminhos para um governo mundial
No decorrer do consulado do falecido Papa Bento XVI, no dia 24 de Outubro de 2011, pela voz do cardeal Peter Turkson, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, o Vaticano divulgou um documento apelando à reforma urgente do sistema financeiro e monetário internacional na perspetiva de uma autoridade pública com competência universal. Solicitou, então, aos países de todo o mundo a aplicação de um imposto sobre as transações financeiras. Defendeu igualmente que a recapitalização dos bancos deveria ser feita com fundos públicos porque estes são, “comportamentos virtuosos que visam desenvolver a economia real”. Afirmou também que o liberalismo económico “sem regras nem controlo”, é uma das causas da crise económica endémica e denunciou a existência de mercados financeiros prevalecentes especulativos, danosos para a economia real, especialmente para os países mais débeis.
O Vaticano denuncia nesse documento que a economia mundial se encontra cada vez mais, dominada pelo utilitarismo e pelo materialismo e é caracterizada por uma excessiva expansão do crédito e de borbulhas especulativas que geraram a crise de solvência e de confiança, afirmando ainda que, “a economia necessita de ética para o seu correto funcionamento”. Quanto à proposta de criar uma Autoridade Pública Mundial, o documento assinala que esta é necessária, dada a crescente interdependência entre os Estados, referindo a urgência em reformar o sistema monetário internacional e criar um organismo que atue como um Banco Central Mundial, de molde a regular o sistema dos intercâmbios financeiros e monetários.
Ainda de acordo com o Vaticano, o FMI-Fundo Monetário Internacional, perdeu a sua capacidade para garantir a estabilidade das finanças mundiais. Temos assim que aqueles que tomam decisões estratégicas (por meio dos políticos) são os agentes da banca e do poder económico que fazem ‘lobby’ de pressão e influenciam os governos e os parlamentos.
Esta estratégia (dos gerentes/políticos darem a cara pelo patrão) está orientada para fazer desaparecer o poder real que controla as estruturas dos Estados, dos governos e dos sistemas parlamentares e jurídicos. Quando a imprensa outorga sub-repticiamente (através da informação) o poder de decisão aos políticos e aos governos no poder, o que faz é diluir a compressão e retirar o poder real da vista das maiorias. Há uma explicação de fundo: – os políticos não são mais do que um fusível. Além da sua função de gestão ao serviço da Banca e dos grandes grupos económicos, tem por missão preservar o anonimato dos centros de decisão que controlam o poder real.
Temos assim que o poder oculto em nada é distinto do poder em si mesmo. Simboliza a chamada inteligência estatal, a revelação de pressões novas emergentes sobre os Estados que representam determinados sectores sociais. A invisibilidade do poder é a cara oculta do mando exercido contra toda a pressão, para além de quaisquer oposições sociais.
De entre os povos, as maiorias, alienadas pela intoxicação da desinformação dos meios de comunicação social, creem, habitualmente, que o ‘poder’ são os presidentes e os governos. Esta concepção massificada é alimentada pelos analistas políticos televisivos e radiofónicos, vulgarmente conhecidos por ‘papagaios’ ou por ‘a voz do dono’.
Portugal tem basta gentalha desta, useira e vezeira na apologética de presidentes da República e governantes, como se os mesmos fossem entidades supra independentes que tomam decisões autónomas acima do emaranhado estrutural do poder económico e empresarial nacional e mundial. Nas suas análises/prédicas habituais, a maior parte dos ‘analistas políticos’ apresentam cenários de conflitos cujo eixo passa pelas competências e pelas guerras entre políticos e respectivos partidos, mistificando a realidade oculta da qual conhecem parte dela, não obstante, ocultando a verdade aos cidadãos, deliberadamente, porque se encontram ao serviço de interesses mais poderosos como mercenários que são.
Este enfrentamento de políticos contra políticos pelo posicionamento eleitoral por um lado, e da guerrilha do governo contra a ‘oposição’ por outro, nunca é associado ao ‘establishment oculto’ (o poder sobre os governos) que marca a dinâmica da informação que as maiorias diariamente consomem.
Desta forma, quando dos actos eleitorais, o voto popular cumpre somente o papel de legitimação política do embuste, institucionalizado com as eleições e a falsa pretensão à participação massiva do povo na hora de votar. Um dos grandes segredos do poder e dos poderosos tem consistido na capacidade de vigiar os gestos, vasculhar a vida quotidiana e escutar as palavras dos seus concidadãos, porque de tal facto resulta a famosa expressão: “conhecimento é poder”.
É aqui que se encontra a origem – sem dúvida – e em primeira análise, da força enigmática que é atribuída a quem detém o mando. O facto de o mesmo mover secretamente os fios para garantir e assegurar a continuidade do seu domínio, consiste numa das verdades mais antigas conhecida e praticada em política.
O que acontecia até há poucos anos, é que os políticos em exercício de poder nas democracias modernas, para se diferenciarem substancialmente dos seus antecessores, prometiam governar de forma transparente, com total visibilidade e clareza de acções, para que os cidadãos pudessem ilusoriamente controlar os excessos e abusos dos poderes dos Estados.
Tratava-se por um lado, de fornecer garantias para o controlo político dos governantes e das suas acções e por outro, permitir um claro envolvimento dos cidadãos nas tarefas da gestão política que durante muitos séculos lhes foi vedada.
No entanto, de há umas décadas até ao presente, a prática de gestão política não só tem violado essas promessas de transparência e genuína participação cidadã, como têm vindo a desenvolver sofisticados métodos de vigilância eletrónica para controlo de todos e de cada um dos cidadãos, em moldes nunca conhecidos pela humanidade.
Quem controla os controladores? Questiona-se – justamente – desta forma se as actuais ‘democracias’ são um poder controlado pelos cidadãos ou um poder controlador dos cidadãos?
Temos assim que a ordem política mundial influi crescentemente nos comportamentos políticos dos Estados nacionais.
Esses poderes são cada vez mais intangíveis nas áreas económicas e políticas, não mais representando países específicos, mas antes e sobretudo, clãs de banqueiros, empresas multinacionais ou grupos económicos mundiais de carácter financeiro. Os interesses destes poderes impõem aos países mais débeis políticas e etapas de crescimento económico, reformas dos seus meios de produção, de políticas sociais ou transformações das suas instituições políticas de forma a adaptarem os Estados – segundo eles – a um mundo globalizado, cujo fim é a implementação de um governo mundial.
* Escrito sem a aplicação do Novo Acordo Ortográfico