Praias sem nadadores-salvadores na Páscoa poderão colocar banhistas em risco

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O presidente da direção da Associação dos Nadadores-Salvadores do Barlavento Algarvio, José Viegas, alerta para a “falta de vigilância em muitas praias por não ser obrigatória a permanência” desses profissionais neste período do ano e para o risco de acidentes no mar, particularmente “em virtude da ingestão de bebidas alcoólicas por pessoas durante a madrugada à saída de bares e discotecas”.
Em entrevista concedida à Algarve Vivo, aquele concessionário de apoio balnear e nadador-salvador na Praia da Rocha, em Portimão, deixa também conselhos às famílias com crianças e aos responsáveis de escolas que levarem alunos às praias no âmbito das férias escolares, indicando-lhes as medidas a tomar e aquilo que não devem fazer.

José Manuel Oliveira

Numa altura em que se perspetiva uma enchente turística na região algarvia devido ao período da Páscoa, com previsão de boas condições meteorológicas, José Viegas alerta para a “falta de vigilância em muitas praias por não ser obrigatória a permanência de nadadores-salvadores neste período do ano” e para o risco de poderem ocorrer “acidentes no mar em virtude da ingestão de bebidas alcoólicas por pessoas durante a madrugada à saída de bares e discotecas”, em direção ao areal.

Curiosamente, no dia 1 de abril, quarta-feira, em que completará 55 anos de idade, aquele empresário procederá à abertura da sua concessão balnear, a qual detém desde 1986 na Praia da Rocha, das 9h30 às 19h30. De um total de 12 áreas concessionadas naquela zona, dez funcionarão durante esta semana em regime de concessão extra-balnear.
Recorde-se que oficialmente a época balnear decorre em todos os anos de 1 de junho a 30 de setembro, existindo um total de 160 áreas concessionadas nas praias do Algarve.

“Como habitualmente durante a semana da Páscoa, a Praia da Rocha vai registar uma enchente, sobretudo de portugueses, muitos deles jovens estudantes de várias zonas do país, e espanhóis, devendo sexta-feira e sábado serem os dias com mais movimento. Aos pais que se desloquem durante o dia à praia com filhos, ainda crianças, apelo para que pelo menos um deles esteja mesmo com toda a atenção aos miúdos na areia ou dentro de água. Uma simples distração, um desvio momentâneo do olhar, o acender de um cigarro, uma conversa ao telemóvel, uma fotografia, poderão ser fatais em poucos segundos, permitindo o afastamento da criança do local onde se encontra com a família”, afirma à Algarve Vivo o empresário e nadador-salvador.

E acrescenta: “os responsáveis de escolas, que no âmbito dos programas de férias escolares levarem crianças às praias, não devem ficar sentados na areia a observá-las; devem, isso sim, permanecer de costas para o mar a controlar as crianças na areia ou junto à água”. Já em relação ao período noturno, sobretudo de madrugada, vai mais longe ao destacar outros perigos: “o problema tem a ver muitas vezes com os excessos cometidos por clientes de bares e discotecas, com bebidas alcoólicas. Ao saírem desses estabelecimentos de diversão noturna, quando estes encerram, muitos deles têm a tendência de ir para a praia, sozinhos ou acompanhados, e entrarem na água completamente embriagados, com os riscos daí resultantes, nomeadamente doenças súbitas e afogamentos. O período mais crítico para esses excessos cometidos, muitas vezes por jovens, é das 6h00 às 8h00”.

Legislação não obriga praias a terem nadadores-salvadores nesta altura do ano

Apesar de garantir “segurança na Praia da Rocha” durante a Páscoa, com vigilância, o responsável chama a atenção para o facto de a legislação publicada em agosto de 2014 “não obrigar” à presença destes profissionais nos períodos extra-balneares, como é o caso desta altura do ano. “A presença de nadadores-salvadores, dois em permanência por concessão ao longo de 100 metros de frente mar, só é obrigatória do dia 1 de junho a 30 de setembro, ou seja, durante a época balnear. Fora desse período, os concessionários, que normalmente também são nadadores-salvadores, não são obrigados a manter esses profissionais ao seu serviço. Por exemplo, muitos concessionários vão trabalhar, sem usarem a farda de nadador-salvador, a partir desta altura sozinhos nas suas áreas de jurisdição, como é o meu caso”, explica.

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Como tal, para José Viegas, “não se justifica contratar nadadores-salvadores a pensar na Páscoa, em abril, para em seguida ficarmos sem movimento até ao Verão e ter de suportar os salários e a Segurança Social”. Por um lado, observa, “a legislação acaba por ser benéfica para os concessionários de apoios balneares, os quais, sem receitas próprias do Verão, ficam sem encargos com pessoal; por outro, é negativa, é um risco, pois muitas pessoas que vão às praias nesta altura não terão segurança, tal como sucede depois do Verão, sem nadadores-salvadores. Um Plano Integrado de Segurança na Praia da Rocha permitiu reduzir recursos humanos, substituindo-se por meios mecânicos (motos de água). O negócio dos concessionários está mau para todos e quem disser o contrário mentirá. Há anos que mantenho os preços do aluguer de camas e chapéus e a tendência será até baixar por falta de clientes. As pessoas vêm para a praia com o orçamento apertado e a contar os cêntimos”.

Imagem da trabalhadora acorrentada no Clube da Praia da Rocha “poderá desviar muitos turistas para outras zonas”

A outro nível, a crise provocada pelo desemprego tem levado sobretudo portugueses de 30/40 anos de idade “em situação de desespero” a procurar trabalho como nadadores-salvadores nas praias. “Houve situações complicadas em que muitos dos candidatos reprovaram no acesso à formação, sem terem a noção do que são as exigências em torno da atividade de nadador-salvador, como por exemplo a obrigatoriedade de nadar no espaço de 100 metros no tempo máximo de um minuto e 50 segundos, mergulhar durante 20 segundos e nadar de costas ao longo de 25 metros, bem como operações de Suporte Básico de Vida”, conta José Viegas, um dos formadores dos cursos.

Na sua maioria, os nadadores-salvadores são jovens estudantes que aproveitam as férias escolares durante o Verão para ganhar algum dinheiro. E não faltarão profissionais nesta atividade na época balnear que se aproxima mesmo durante apenas quatro meses.

Já a situação de Marilu Santana, que pelos piores motivos se tornou conhecida a nível nacional por estar acorrentada desde o dia 20 de março a um corrimão no interior do edifício do Clube da Praia da Rocha devido a salários em atraso naquela empresa turística, está também a suscitar receios ao presidente da direção da Associação dos Nadadores-Salvadores do Barlavento Algarvio, que assim se junta às preocupações igualmente manifestadas por empresários e responsáveis do setor do turismo, além de sindicatos.

“Infelizmente, o problema provocado por aquela empresa é mais uma acha para o turismo no Algarve. É uma má imagem para a Praia da Rocha, o que poderá contribuir para desviar muitos turistas para outras zonas do Algarve”, conclui José Viegas.

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