Quase uma centena de crianças frequenta Centro de Apoio Social de Carvoeiro

É com ‘pezinhos de lã’ que se entra no Centro de Apoio Social de Carvoeiro (CASC), um espaço amplo, onde estão cerca de uma centena de crianças a frequentar os primeiros ‘graus’ de ensino.

Sem fazer barulho, pois os mais pequeninos dormem a sono solto, a conversa com Márcia Oliveira, diretora técnica do CASC, quase decorre em sussurro. Paredes meias com esta valência, os mais velhos, do pré-escolar, almoçam no refeitório, com ordem e sem muito ruído.

“Temos uma sala de primeiro ano, temos uma sala heterogênea, para crianças entre os 18 e os 36 meses, e uma sala de dois anos, para crianças entre os 24 e os 36 meses. Esta é a valência de berçário e creche, a que se junta o pré-escolar para os miúdos a partir dos três anos”, explica a responsável ao Lagoa Informa.

A realidade do concelho não difere muito da que é vivida noutros municípios urbanos, com uma escassa oferta de vagas nas instituições para a elevada procura. No caso da vertente pré-escolar, que se inicia aos três anos, a rede pública não consegue absorver toda a procura e, apesar deste critério da idade, muitas vezes os pais têm dificuldade em inscrever os seus filhos mais novos, porque o número de vagas é limitado, sendo dada prioridade aos mais velhos, já com cinco anos, porque vão ingressar no primeiro ciclo do ensino básico no ano seguinte.

“Na nossa Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), nós tínhamos, no passado, quase duas salas a terminar a creche que poderiam não ter lugar garantido na rede pública do concelho. A primeira sala de pré-escolar surgiu mesmo por necessidade. Percebemos que era necessário alargarmos a oferta, pois inicialmente tínhamos duas salas de um ano e duas de dois anos, enquadradas em berçário e creche e, quando chegavam aos três anos, as famílias precisavam de colocar os filhos em algum lado”, explica.

Enquanto percorre o espaço, guiando a visita, Márcia Oliveira vai detalhando as dificuldades de gerir uma instituição que conta com 23 funcionários e perto de uma centena de crianças. “São 49 a frequentar a creche e 46 no pré-escolar”, sendo que a creche engloba o berçário, com bebés a partir dos quatro ou cinco meses.

Há lista de espera nesta instituição a funcionar desde 2009, tal como em muitas outras na região. “Ainda hoje veio cá uma família para inscrever no pré-escolar um menino que faz três anos em julho”, acrescenta.

Esta é uma das razões que demonstra que o serviço de pré-escolar nesta IPSS se justifica, quer para os que já frequentam o Centro de Apoio desde muito pequenos, quer para as crianças que vêm de fora da instituição. “Inicialmente não recebíamos de fora, mas agora sim. Por exemplo, temos lista de espera de crianças que nunca entraram em creche e que já fizeram os três anos, de janeiro até agora. Não quer dizer que não estejam já colocadas em algum lado…”, reforça.

Trabalhar com crianças é gratificante
“Acho que trabalhar com crianças não é difícil. Aliás, é bom, é gratificante, mesmo para quem não está no contacto direto com elas, porque passamos pelas salas e há um que vem dar um abracinho, há outro que vem dar um beijinho. E considero que a vocação também se treina e que nós não temos que ser bons em tudo. Tenho a perfeita noção que tenho uma equipa em que há quem se adapte bem às duas valências, outras adaptam-se melhor em creche e outras em pré-escolar, mas ser bom numa coisa ou noutra não tem problema nenhum”, clarifica Márcia Oliveira.

O CASC é composto por uma equipa jovem e dinâmica, que tudo faz pelo bem-estar dos mais novos. “Acho fantástico e falo pelas minhas colegas, mas vejo que elas têm amor pelo que fazem e isso é o essencial. O que não invalida que não tenham dias menos bons. Temos que perceber que este é o nosso trabalho e que há vida fora deste portão”, afirma.

Todos se empenham em atender a necessidades das crianças, que, muitas vezes, chegam ainda muito pequenas, com quatro ou cinco meses. “Temos preocupações também. Olhe quando ouvimos uma notícia sobre um bebé que faleceu num berçário… tento descomplicar, porque isso são situações que podem acontecer, que são inevitáveis. A morte súbita existe e ninguém pode fazer nada. Acho que esse medo, por exemplo, não é possível de ser avaliado por alguém que não trabalhe nesta área. É um receio que existe e que é transversal”, confidencia.

Desafio constante
Para a diretora técnica, a maior dificuldade é o trabalhar em “desafio constante” e esta realidade é também transversal a quem trabalha nas Instituições Particulares de Solidariedade Social.

“Já trabalho há quase há 20 anos [nesta área] e torna-se cansativo. Às vezes, precisamos de um bocadinho de descanso, porque o desafio é constante. É gerir um edifício, o pessoal, dinheiros ainda que essa parte felizmente não seja comigo, mas tudo o resto… É perceber e tentar anteciparmo-nos ao problema. Isso é algo que também quem não está ligado a uma IPSS não compreende. A maioria das vezes andamos aqui a tentar antecipar o problema”, conta ainda.

A verdade é que quem entra no espaço não nota qualquer dificuldade. Aliás, o ambiente é aconchegante, com as crianças felizes, e com muitos espaços que diferem de muitos outros. Uma ampla zona de brincadeira, um espaço dedicado às galinhas, ao cultivo e aos instrumentos musicais improvisados.

Rede pública e privada lado a lado
O CASC situa-se paredes meias com o equipamento da rede pública de pré-escolar. Há uma sinergia e até uma forte ligação entre ambos. “O público vem aqui almoçar e uma colega nossa faz o prolongamento de horário nas instalações ali. Ainda chegou a ser feito aqui, mas depois criámos uma nova sala e deixamos de ter espaço”, refere a diretora técnica.

“Há uma boa ponte entre o público e o privado”, acrescenta Rui Correia, quer na partilha de espaços, quer no relacionamento entre educadoras e auxiliares. “Quem sai daqui e consegue vaga na rede pública pré-escolar, a princípio, vem para esta escola aqui ao lado”, sublinha ainda Márcia Oliveira.

Como foi criado
Esta é uma instituição particular de solidariedade social sem fins lucrativos, cuja intervenção se baseia nos princípios orientadores da solidariedade e cooperação para o desenvolvimento social e comunitário de Carvoeiro e do concelho. A intenção é contribuir para a concretização dos direitos das pessoas, em particular as que têm mais dificuldades de acesso e menos oportunidades.

Foi com esta intenção que foi assinado, em 2005, um contrato de Comparticipação Financeira e Cooperação Técnica, para edificar este espaço de resposta social, que se encontra aberto desde junho de 2009.

Nessa altura, era Rui Correia vice-presidente da autarquia e recorda-se bem do processo. A associação foi fundada em 2003, sendo mais tarde constituída como IPSS. Recorrendo ao Fundo de Desenvolvimento Social, o CASC avançou para a construção da creche, contando com o apoio da autarquia.

“É uma instituição ligada apenas à infância, com creche, berçário e pré-escolar abertos mais tarde. Tem a particularidade de que, quando foi feita a candidatura, o que foi aceite em termos de comparticipações foi para a creche. Até hoje nunca se conseguiram as comparticipações para o pré-escolar, porque nunca houve essa abertura por parte do Ministério da Educação. No entanto, criámos e mantemos duas salas de pré-escolar, quer uma, quer outra, com uma certa redução por causa das necessidades de educação especial”, explica Rui Correia, atual diretor do CASC.

Esta falta de comparticipação leva a maiores dificuldades na instituição, que registou um prejuízo no último ano.
“Temos de agradecer à Câmara Municipal de Lagoa, sobretudo ao presidente Luís Encarnação, que assumiu estes encargos e que se comprometeu a apoiar no futuro. Isto porque, a autarquia não abrirá, nos próximos tempos novas salas de pré-escolar e estas são necessárias”, reafirma Rui Correia, que está a realizar o seu segundo mandato de quatro anos à frente da IPSS.

O ESPAÇO

O edifício conta com dois andares, sendo que na zona inferior tem a cozinha, sanitários, sala das educadoras, uma sala polivalente e uma sala de pré-escolar. No piso superior há o refeitório, a zona administrativa, três salas de creche, mais berçário e uma sala de pré-escolar, além de instalações sanitárias. O CASC está aberto de 1 de janeiro a, mais ou menos, 15 de dezembro. Encerra nas últimas duas semanas do ano e uma semana em agosto, para limpeza geral e para realizar uma paragem para os funcionários descansarem entre anos letivos. “Só fechamos, por norma, duas semanas, em dezembro e agora fechamos uma semana no mês de agosto. No início, chegamos a fazer transição do ano letivo de um dia para o outro, mas isso é impossível, porque o profissional está com uma criança hoje, amanhã está com outra, mais as limpezas. Não! Temos de parar, embora às vezes os pais não o compreendam. E nem falo por mim, mas pela equipa, pois o profissional tem de parar, tem de acalmar. Terminou o ano letivo, precisa de encerrar o capítulo para começar outro”, justifica Márcia Oliveira.


Pré-escolar ‘A ESCOLINHA’

Capacidade: para 49 crianças, distribuídas em quatro salas
Berçário: a partir dos quatro meses
Sala Laranja: aquisição de marcha aos 24 meses
Sala Verde: 18 meses aos 36 meses
Sala Azul: 24 meses aos 36 meses
Horário de funcionamento: Das 7h30 às 19h30.
Período de inscrição: 1 de junho a 31 de maio do ano seguinte. Durante o mês de maio, a inscrição deve ser renovada para que seja considerada no processo de seleção/admissão.

Pré-escolar ‘A ESCOLINHA’

Capacidade: para 50 crianças, distribuídas em duas salas
Sala Lilás: dos três anos aos quatro anos
Sala Amarela: dos quatro anos aos cinco anos
Horário de funcionamento: Das 8h00 às 19h00
Período de inscrição: 1 de junho a 31 de maio do ano seguinte. Durante o mês de maio, a inscrição deve ser renovada para que seja considerada no processo de seleção/admissão.

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