Rolando Rebelo: O portimonense que sabe tudo sobre os Xutos e os Rolling Stones

Texto e foto: Jorge Eusébio, in Portimão Jornal nº30


Rolando Rebelo é uma espécie de enciclopédia ambulante sobre os Rolling Stones e os Xutos & Pontapés. Isso resulta da intensa pesquisa que levou a cabo para escrever livros sobre cada uma daquelas míticas bandas musicais.

O objetivo inicial era, de alguma forma, “retribuir um pouco tudo o que os Stones me deram, ao longo dos anos, através da sua música”. Era ainda muito jovem quando “me deparei com a sua música, que me deixou rendido e me permitiu, a partir daí, descobrir outros géneros, como os blues ou o gospel”.

Ao longo dos anos continuou a seguir aquele que se tornou o seu grupo preferido, a acumular conhecimentos sobre tudo o que lhe dizia respeito e a tentar ir ao maior número possível de concertos.

Em 2009 resolveu entrevistar quatro pessoas que tinham estado em contacto com a banda ou por ela tinham sido muito influenciadas. Rapidamente conseguiu levar a cabo a tarefa, mas confessa que “me soube a pouco, pelo que decidi ouvir muitos outros músicos e cantores”.

E, à medida que o projeto ia avançando, também a ambição crescia e “resolvi tentar obter depoimentos, por muito curtos que fossem, dos quatro elementos dos Stones”.

O ‘maluco’ preferido de Ron Wood
Moveu mundos e fundos até conseguir chegar à fala com a advogada que trabalhava com Mick Jagger, que não lhe deu grandes esperanças, pois “ele recebe umas centenas de pedidos do género por mês e apenas responde a um ou dois”.

Mas a verdade é que cerca de um mês depois “chegou-me o seu testemunho”. Como queria fazer o pleno, “tentei de todas as maneiras possíveis e imaginárias, chegar aos outros e acabei por consegui-lo”.

A parte essencial do trabalho estava feita, mas havia uma lacuna: não tinha um acervo fotográfico que documentasse a evolução da banda. Como acredita que há sempre uma solução para qualquer problema, ‘bombardeou’ cerca de uma centena dos melhores fotógrafos do mundo a pedir-lhes material, dizendo-lhe logo à partida que “não tinha um cêntimo para lhes pagar”.

Como seria de esperar recebeu muitas ‘negas’, à volta de 40, mas “as outras 60 almas caridosas resolveram ceder-me fotos, inclusivamente um dos fotógrafos, o Robert Matheu, achou tanta piada ao projeto que acabou por me enviar aí umas 200”.

Mas para que o livro, a que deu o título de ‘Rolling Stones em Portugal’, visse a luz do dia era necessário que uma editora se chegasse à frente. Acabou por ser a ‘Zebra’ a fazê-lo, na altura dirigida por Rui Pedro Braz, que é hoje o diretor-geral do Benfica.

Ficaram amigos, “e, curiosamente, foi dos poucos benfiquistas que me deu os parabéns quando o meu Sporting foi campeão”, revela, com um sorriso no rosto.

O livro acabou por ser um sucesso de vendas, mas mesmo que isso não tivesse acontecido teria valido a pena, por lhe ter permitido conhecer três dos quatro elementos da banda.

Um dos dois contactos que teve com eles ocorreu nos bastidores do concerto dado em Lisboa, no ‘Rock in Rio’, em 2014. Entre as pessoas ligadas ao grupo que Rolando Rebelo tinha conhecido no decorrer do processo de elaboração do livro, estava um dos principais ‘roadies’ da banda, que o ajudou a chegar a uma zona reservada.

Pouco antes do concerto “apresentou-me o Keith Richards, a quem disse que era o autor do livro”. O famoso guitarrista “começou a falar comigo e eu parecia um puto a olhar para ele, por ser quem era e porque também não percebia metade do que dizia devido ao barulho”.
Ao lado encontrava-se Ron Wood, que ao saber de quem se tratava, apelidou o algarvio do seu “maluco preferido”, devido às tentativas insistentes que tinha feito para conseguir um depoimento para o livro.

Esse foi um concerto memorável para Rolando Rebelo que conseguiu assistir ao início da atuação junto ao palco e saiu de lá com duas palhetas oferecidas pelos famosos músicos e com um dos exemplares do livro assinado por todos os elementos da banda.

O encontro com Zé Pedro
Um dos muitos músicos portugueses com que tinha falado para fazer a obra foi Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, com quem se encontrou em Lisboa. A conversa que “era para ser de uns 30 minutos estendeu-se por 4 horas, ele deu-me muita força, criou-se ali uma grande amizade, acabámos por ir a concertos juntos e também me convidou para o seu casamento”.

Em determinada altura “veio com a ideia de ser eu a fazer o livro oficial comemorativo dos 35 anos dos Xutos”. Como na banda as coisas funcionam de forma democrática, a proposta foi levada a votação interna, todos concordaram e Rolando Rebelo avançou para nova aventura.

À medida que o projeto ia
avançando também a ambição crescia e “resolvi tentar obter
depoimentos dos quatro
elementos dos Rolling Stones”

Uma das consequências dessa decisão foi “passar a integrar a comitiva dos Xutos”. Viajava e falava com eles, ia aos concertos, via o ambiente e “tirava muitas fotografias, hoje devo ter aí umas 10 mil em arquivo”.

Na altura em que estava a elaborar o livro dos Stones, tinha até tentado obter a participação do antigo presidente Bill Clinton. Não conseguiu, mas com os Xutos insistiu na mesma fórmula, em termos domésticos, e convidou o ex-presidente Jorge Sampaio.
Desta vez teve um sucesso maior do que ambicionava, pois “não só escreveu o prefácio como foi o orador principal do lançamento do livro, que decorreu em Lisboa”.

Da relação que manteve como os Xutos ficou uma admiração ainda maior do que a que já tinha pelos seus elementos. Desde logo, pelo Zé Pedro que, “ainda em vida tive oportunidade de dizer que foi das melhores pessoas que conheci, nunca o vi armar-se em vedeta e ajudava toda a gente”.

Em relação aos outros, “o Cabeleira é, também, uma jóia de pessoa, para além de ser um dos melhores guitarristas do mundo; o Gui, com quem ainda falo com alguma regularidade, é dos gajos mais ‘loucos’ que já conheci; o Kalú é uma força da natureza, é muito emocional e o Tim é o mais reservado, embora, tal como todos os outros, tenha a sua dose de loucura, no bom sentido, claro”.

Um dia destes, Rolando Rebelo tenciona voltar à escrita, mas agora à ficção, que lhe permite dar largas à imaginação.

O que, para já, deverá ficar de lado é a sua paixão pelo cinema que, em tempos, fez com que fosse um dos fundadores do cineclube ‘Contramaré’ e a entrar como ator em várias curtas-metragens, em que “o realizador fazia sempre questão de matar os meus personagens”.

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