Unidades turísticas do Algarve enchem na Páscoa
Instabilidade internacional devido a atentados terroristas estão a contribuir para maior afluência de portugueses, espanhóis, ingleses, alemães, holandeses e irlandeses. Preços também sobem.
José Manuel Oliveira
A hotelaria no Algarve vai registar uma enchente nestas mini férias da Páscoa. E a poucos meses do Verão, segundo nos revela o presidente da direção da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, “tudo indica que em maio, junho, setembro e outubro”, ou seja, fora do pico da denominada época alta, “o aumento de visitantes possa até ultrapassar os quatro e pouco por cento inicialmente previstos, devido à situação internacional resultante de atentados terroristas em países da Bacia do Mediterrâneo, concorrentes neste sector, como a Turquia, o Egipto e a Tunísia.”
No concelho de Lagoa, Patrícia Correia, diretora do hotel e ‘resort’ Vale d’Oliveiras, de cinco estrelas, situado na zona do Carvoeiro, não se mostra surpreendida com a ocupação: “A Páscoa vai estar cheia, como é normal, com turistas do mercado português e do espanhol. Temos 22 quartos, duas ‘suites’, e 80 ‘villas’. Está tudo completo. Tradicionalmente, estamos sempre a cem por cento nos três dias da Páscoa. Conseguimos captar alguns turistas quando se encontram neste empreendimento e, como gostam, fazem reservas logo para o ano seguinte.” Entrar, hoje, 24 de março, e sair no próximo domingo, pode custar mais de cem euros a uma família. “Os preços na altura da Páscoa são tradicionalmente superiores. E, claro, foram aumentados em relação ao mesmo período do ano anterior. É a lei da oferta e da procura. Temos quartos para clientes ‘single’ e casas para famílias com seis pessoas. Por dia, uma família poderá gastar aqui provavelmente muito mais de cem euros,” afirma ao ‘site’ da revista Algarve Vivo.
“Um Verão que será dos melhores”
Quando a Páscoa é mais cedo, como sucede em 2016, segue-se normalmente uma quebra até ao Verão. “Não é nada para que não estejamos já preparados. Nos anos em que é ao contrário, parece que não há um decréscimo tão grande. Por outro lado, estamos a perspetivar um Verão dos melhores”, observa, esperando desde já lotação completa no empreendimento turístico que dirige, nos meses de junho, julho e agosto.“Pensamos que o Algarve vai estar numa posição muito favorável para receber melhores clientes e mais também”, admite, acrescentando que em agosto os preços por dia “facilmente poderão rondar os 300 euros”.
“No Verão, o mercado inglês será maioritário. Já os portugueses só viajam naqueles 15 dias do mês de agosto. No Vale d’ Oliveiras são 15 dias em julho e 15 dias em agosto. Temos, nessa época, muito mercado inglês, muito mercado alemão, algum espanhol e agora começa a aparecer o cliente francês”, destaca.
“Situação internacional leva portugueses a terem pouco à-vontade para viajar para o exterior”
Já o dirigente associativo Elidérico Viegas, depois de apontar para um “aumento de cinco por cento” em comparação com o ano transato ao nível da ocupação de hotéis e empreendimentos turísticos, refere que esta Páscoa no Algarve, além dos portugueses, “já reflete a procura por parte dos principais mercados exteriores – inglês, alemão, holandês e irlandês – bem com o espanhol, agora em recuperação após as descidas registadas com a introdução de portagens na A22/Via do Infante”. E sublinha: “Na sequência da instabilidade em países concorrentes do nosso, muitos turistas sentem-se mais atraídos pela oferta em destinos seguros como o Algarve. A situação internacional leva muitos portugueses, igualmente, a terem pouco à-vontade para viajar para mercados externos.”
Também para Teresa Correia, os recentes atentados terroristas na Turquia, além do sucedido no Egipto e na Tunísia, contribuem para ‘empurrar’ visitantes para a Península Ibérica e nomeadamente para o Algarve. “Não queria abordar muito esse tema, mas o turismo é uma atividade muito volátil”, reconhece. Sobre os cuidados a ter ao nível da segurança em Portugal e, neste caso, na região algarvia, a diretora hoteleira apela à serenidade e discrição. “Deve haver cuidado quanto baste. Não nos podemos esquecer que temos um país tradicionalmente pacífico e se agora começarmos a entrar na histeria do ‘ai que vai haver terrorismo’, então criaremos um problema maior do que a solução para o problema que ainda não temos”, alerta. Concorda com a necessidade de haver maior controlo nas fronteiras, mas, avisa, “não de uma maneira que possa causar pânico.” No hotel e ‘resort’ Vale d’ Oliveiras, garante, “temos segurança, sabemos exatamente quem temos em casa e todos os nossos clientes estão identificados. Tomamos as devidas precauções.”
Unidades turísticas atentas a “todos os movimentos” suspeitos
Por seu turno, Elidérico Viegas reforça o facto de as unidades turísticas “terem estratégias ativas com as forças de segurança e serviços de informações”, o que permite acompanhar “todos os movimentos” de turistas que possam parecer suspeitos. “O policiamento é sempre desejável. Não podemos ignorar que todos os países sentem a necessidade desse reforço da segurança em face dos recentes acontecimentos”, vinca o presidente da AHETA.
Porém, adianta, “nos últimos anos temos assistido a uma maior eficácia das forças de segurança no Algarve e como tal não temos razões objetivas para dizer que são necessários mais meios”. Nas fronteiras, só pede “aos elementos das forças de segurança e dos serviços de informação que estejam mais atentos a todos os sinais”.
Duas horas e meia do aeroporto de Faro até Carvoeiro e Ferragudo por causa da EN 125
Numa altura em que o Algarve espera tantos turistas, Patrícia Correia insiste nas críticas ao estado da Estrada Nacional 125, “que é o que é” e continua em obras. Aos turistas, “só lhes digo ‘I m sure’. É muito difícil tentar fazer algo para a qualidade dos meus clientes quando depois tenho esta desajuda. Não discordo das obras da EN 125, pois se estão a ser feitas é porque há essa necessidade, mas a A22 não devia ter portagens”, lamenta. Depois de reforçar o sentimento geral de que a “EN 125 não é uma alternativa à A22”, diz não poder sequer aceitar que um visitante “demore duas horas” de um aeroporto britânico a Faro “e depois leve cerca de duas horas e meia a ir de Faro até Carvoeiro, Ferragudo, Portimão. E se comprou férias em Sagres, então vamos esquecer porque vai demorar mais tempo de carro do que de avião. Como é que vamos conseguir explicar isso a um turista e colmatar essa situação?”, pergunta-se.