Boas notícias para o Algarve em três tempos

João Lourenço Monteiro | Biólogo | Cantinho da ciência

O Passado
Recuando ao ano de 2013, publiquei no número 54 da revista Algarve Vivo uma entrevista à bióloga Sónia Negrão. A Sónia crescera em Porches, freguesia do concelho de Lagoa, e viria a tornar-se investigadora no melhoramento genético de plantas. O foco da entrevista centrou-se em dois pontos: a sua ligação ao Algarve e a desmistificar o que são os organismos geneticamente modificados (OGM) – um tema ainda rodeado de muita desinformação e medos infundados. A entrevista teve lugar numa altura em que ela se preparava para emigrar, deixando o ITQB – Instituto de Tecnologia Química e Biológica, da Universidade Nova de Lisboa, em direção à Arábia Saudita, para trabalhar no KAUST – King Abdullah University of Science and Technology.

A vida dos investigadores é muito dinâmica, sendo habitual a circulação entre países e centros de investigação, e, por isso, em 2018, a Sónia regressou à Europa para trabalhar em Dublin, na Irlanda. Foi aí que recebeu uma bolsa de 1,5 milhões de euros da Fundação de Ciência da Irlanda para a investigar a produção sustentável de cevada com recurso a drones e à inteligência artificial. O que tenciona fazer é recuperar as características genéticas das sementes antigas que eram mais ecológicas, por necessitarem de menos fertilizantes e por serem mais resistentes às alterações climáticas e ambientais, tentando conciliar isso com o rápido crescimento. O dinheiro que recebeu será investido em infraestruturas e tecnologia de ponta, prevendo melhorar a economia daquele país. Os nossos parabéns à Sónia Negrão!

O Presente
Na altura em que escrevo este texto, o mundo inteiro vive a pandemia causada por um novo coronavírus, o SARS-CoV-2 responsável pela doença COVID-19 (Coronavírus Disease, identificada em 2019). A grande maioria de nós está em casa, com o intuito de controlar a propagação do vírus e assim não inundar os centros médicos e hospitais, permitindo que o material tecnológico, como os ventiladores, esteja acessível para as pessoas em estado muito grave. Das cinco regiões de Portugal Continental (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve), é a zona sul a que tem menor número de casos confirmados e de óbitos: Alentejo e Algarve juntos têm menos de 500 casos confirmados em comparação com as outras três regiões com milhares de casos por região, e 11 óbitos em 762 nacionais. No entanto, não serve esta informação para atenuar as medidas de contenção e as de higiene, uma vez que têm sido essenciais para controlar a doença. Fui buscar estes números apenas para dar uma mensagem de esperança aos algarvios, indicar que estão no bom caminho e confirmar que os esforços de contenção da doença estão a resultar.

O Futuro
O Algarve é uma região que vive do Turismo. Quando passarmos esta crise pandémica, a sociedade terá de mobilizar-se para reerguer a vida económica e social em conjunto. Aproveitemos agora para repensar a economia e a sociedade. O Turismo terá de diversificar-se apostando também no turismo de natureza e nos recursos naturais, a economia terá de centrar-se nas novas tecnologias e no mundo digital, a agricultura adquirirá um papel cada vez mais importante, a produção de energia terá de transitar para as tecnologias verdes. No fim, teremos um Algarve mais limpo, mais dinâmico e atrativo.

Para qualquer dúvida pode contactar: jmonteiro@comcept.org

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