Estação Salva Vidas de Alvor entra em obras este mês

Há muito que a população de Alvor ambiciona um espaço que valorize as tradições ligadas ao mar e à Ria, até porque a requalificação da Estação Salva Vidas já foi anunciada há um bom par de anos. A espera está mais próxima de terminar porque será ainda neste mês de março que a intervenção começará, como confirmou ao Portimão Jornal João Gamboa, vereador da Câmara Municipal.

O responsável afirmou que o valor total do investimento será de 312 mil euros, dos quais quase 219 mil euros são provenientes de comparticipação comunitária ao abrigo do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder). A restante fatia é assegurada pela autarquia.

O projeto é dividido em duas vertentes. Uma é a requalificação do imóvel, cujo valor de adjudicação é de quase 185 mil euros, acrescido de IVA, e a outra é a museologia do espaço. A empreitada de arranjo do imóvel tem como prazo de execução 214 dias, adiantou ainda João Gamboa.

O imóvel fica situado junto à antiga lota e será um local de valorização do património, quer material, quer imaterial marítimo de Alvor, enquadrando-se na faixa ribeirinha. A faina será, por isso, um dos temas centrais, sobretudo no retrato das duras condições de vida e de navegabilidade da barra. Com os temporais e águas agitadas, a barra, antes da construção dos molhes, colocava à prova a mestria dos pescadores. Daí também a importância do Instituto de Socorro a Náufragos, que acolherá este Centro Interpretativo, que funcionou entre 1933 até 1983, estando previsto um espaço dedicado aos salvamentos locais, além do espólio ligado à pesca e à biodiversidade da Ria de Alvor.

Segundo o projeto a que o Portimão Jornal teve acesso, o núcleo será apoiado por equipamentos interativos e audiovisuais bilingues que permitam a qualquer visitante ficar a conhecer algumas curiosidades sobre estes temas, através das novas tecnologias.

Com dois pisos, a Estação tem uma área de implantação de 198 metros quadrados, sendo que o imóvel há mais de 50 anos que não sofre obras de melhoramento e manutenção adequadas à atualidade.

BARCO E REMOS EM DESTAQUE

O salva vidas ‘Alvor’, embarcação a remos, do tipo ‘Dinamarquês’, construído em 1933, iniciou atividade na barra ainda nesse ano e, durante 50 anos, prestou apoio à estação em Alvor, mas também a outras como a de Ferragudo, Paço d’Arcos ou Porto Brandão. Foi abatido em 1983, sendo que, desde então, se conserva na casa-abrigo naquela vila piscatória.

É tido como um equipamento de grande valor histórico no próprio contexto da pesca, dos salvamentos, das crenças locais e tem um grande valor simbólico. São vários os relatos que narram a ‘sentinela’ montada pelos pescadores locais junto à barra, durante os vários episódios de risco pelos quais as embarcações passavam.

O barco continua a fazer parte da comunidade local, sendo ainda recordado na vila o dia em que, em 1983, o Museu da Marinha quis levar a embarcação para Lisboa e a população se revoltou, cortando os carris que o faziam descer até ao rio e impediu que este fosse levado.


TESTEMUNHOS DE VIVA VOZ

Um dos pontos de destaque do projeto será a utilização de testemunhos de antigos tripulantes do salva-vidas e de familiares. Além da importância para a comunidade, o Salva Vidas será também um ponto de atração turística para dinamização em época baixa, criando condições para o surgimento de pequenos passeios comentados pela Ria de Alvor sobre temas da história e vivências locais ou centrados na variada biodiversidade. Outro dos objetivos desta requalificação é que o imóvel fique à disposição da sociedade civil, incluindo escolas, associações culturais locais e turísticas, grupos de profissionais marítimos, fomentando sessões de sensibilização e formação para a realidade piscatória e ambiental ou através de tertúlias ou demonstrações de saberes ao vivo.

A planta prevê, desta forma, um espaço de boas vindas ao visitante com informação histórica relevante, ao qual se segue um local de recriação dos procedimentos de salvamento, desde o chamamento dos homens em terra até ao resgate dos náufragos, com a exibição das várias etapas em quatro ecrãs, que poderão funcionar como um todo formando um grande ‘videowall’.

Ao centro será colocado o salva vidas, no qual através de instalação multimédia com a projeção de imagens reais numa película instalada no interior da embarcação, os visitantes podem ver os lugares que a tripulação ocupava e o que faziam. Esta será a peça da exposição com mais impacto no visitante, pela sua imponente presença e originalidade. Ao fundo, haverá uma homenagem aos homens que trabalharam no barco, estando disponível um ecrã com aplicação multimédia interativa para consulta. Haverá ainda uma vitrine com objetos históricos, bem como um quiosque multimédia interativo.

Por fim, está ainda previsto um auditório, um espaço de apresentação do contexto histórico geral e da evolução dos salvamentos ao longo dos tempos.

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