Joaquim Rijo: uma família de músicos

Texto e foto: José Garrancho


Joaquim Baptista Rijo nasceu em Portimão, há 80 anos, na Rua Cruz de Pedra, perto da estação de caminho de ferro. Nunca fez da veia artística profissão, tendo trabalhado quase uma vida nos Serviços Municipalizados de Portimão.

Como apareceu a música na sua vida?
O meu pai já era músico, baterista, e ensaiava na nossa casa com o Manuel Guerreiro e outros bons músicos portimonenses. Logo, nasci no meio. Comecei a aprender a tocar caixa, por música, aos nove anos, na banda da Mocidade Portuguesa. Depois, passei para o clarinete; mais tarde, dediquei-me ao acordeão e, finalmente, ao saxofone.

Com todos esses instrumentos na bagagem, não lhe faltava trabalho como músico?
É verdade. Primeiro, tocava acordeão, sozinho. Depois, com o saxofone, integrei vários conjuntos, como o ‘Aradis Band’, ‘Os Pacíficos’, o ‘Tic-Tac’ e outros. E toquei muito tempo com malta mais nova, que são muito meus amigos, o Noel, o Fernando da Farmácia e vários outros. E com o falecido Fernando Mendes. Em Ferragudo, toquei muito tempo no conjunto ‘Quinteto Arade’.

O seu pai não tocava também no conjunto ‘Os Pacíficos’?
Tocava. Era o conjunto que atuava na Pomona. Era o meu pai, o conhecido Zé da Gaita, acordeonista do Rancho do Calvário, eu e o Toninho.

E havia muito trabalho, nesse tempo?
Sim, porque nos dedicávamos aos hotéis e restaurantes. Estive muito tempo na Quinta da Pomona, no Portal da Serra, no ‘23’, frente à estação, para onde vínhamos depois da Pomona, que terminava por volta das 22 horas. E também toquei, durante muitos anos, na Bemposta e outros hotéis.

E as bandas filarmónicas?
Fui um dos fundadores da banda dos Bombeiros Voluntários de Portimão, que depois passou a chamar-se Sociedade Filarmónica Portimonense. Não sei porquê, nem por obra de quem.

Mas, além de músico, também é compositor, não é verdade?
Sim. Fiz 15 marchas para o Glória ou Morte e ensaiei 13 delas.

Nunca fez da música a sua atividade principal?
O meu pai sempre me aconselhou a não ser músico profissional, dizendo que só nos contratavam enquanto fôssemos novos. Ele era cesteiro e eu aprendi a profissão com ele, trabalhando juntos até ir para a tropa. Quando regressei, já era casado, concorri aos Serviços Municipalizados de Portimão, onde estive 32 anos como leitor-cobrador. Depois, subi a fiscal e, mais tarde, a chefe de setor. Ainda apanhei a EMARP dois ou três anos. Reformei-me aos 57 anos, com 36 de serviço. Depois, tomei conta da oficina de cesteiro do meu pai. E ainda faço, hoje, umas cadeiras de palhinha, umas garrafinhas… até acabar o material.

E há mais músicos na família?
Toda a minha família está ligada à música. Começou com o meu pai, o Agrípio ‘Cesteiro’, que era baterista. A minha falecida esposa também tocava comigo na banda, em Portimão, o meu neto tocou durante sete anos na banda da Força Aérea, a minha neta é professora de música em Reguengos de Monsaraz e a minha filha toca na banda de Loulé. E o meu falecido irmão também tocava bombo na banda.

E mantém a atividade, aos 80 anos?
Atualmente, estou um bocado parado, desde a morte da minha mulher, há quatro anos. Mesmo assim, em 2024, fiz a música para uma marcha para a Sociedade Lacobrigense, de Lagos, que também ensaiei. Como estou aqui no campo, em Ferragudo, dediquei-me um pouco mais ao acordeão, para me ajudar a passar o tempo. Para as marchas, escrevo as letras e as músicas e, depois, através do computador, faço a orquestração para os diversos instrumentos do ‘cavalinho’. E já me pediram para fazer duas marchas para 2026, mas ainda não me deram as letras. E eu gosto de fazer as músicas através dos poemas. Convidam-me para tocar em bailes, mas não tenho disposição para isso. Foram 56 anos de casado e a tristeza de a ter perdido está sempre presente.

E porque se mudou para Ferragudo?
Toda a família da minha mulher é de Monchique, mas os meus sogros compraram a fazenda em Ferragudo, onde estou agora a viver. Mantenho a casa em Portimão, que é a minha residência oficial. Mas, desde que ela morreu, prefiro estar no campo. Venho até Ferragudo, vou até Carvoeiro, às Sesmarias…

Reconhecimento do Exército

Joaquim Rijo foi louvado pelo exército, louvor que mostrou ao Portimão Jornal, por ter criado um conjunto musical que ia tocar para as companhias que estavam no mato, dando alguma alegria aos combatentes.

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