Opinião: A fórmula perfeita para uma adolescência de luxo – Última parte

Hélia Santos


Começamos por usar a biblioteca da escola para requisitar livros e os trabalhos de grupo resumiam-se a cartolinas com fotocópias recortadas e um efeito chamuscado nas pontas (às vezes até demais). Nos anos seguintes usávamo-la para reservar uma hora de internet, entrar numa sala de “chat” e iniciar uma conversa com um “oi, ddtc?”. 
 
Naqueles anos a tecnologia educacional era apenas uma miragem e nada nos deixava mais eufóricos do que uma visita de estudo. Sabíamos que o motorista seria o Sr. Capela, que com a sua voz rouca nos dizia: “quietos, sentados e calados, ou então não saio daqui! Nada de lixo! Ninguém come dentro deste autocarro!” mas era impossível abalar aquele entusiasmo e, sinceramente, a minha turma não deve de ter sido a única a desobedecer às regras. 
 
Em 2001 aterrou-nos à frente dos olhos a SIC Radical e o maior centro comercial do Algarve abriu portas. O sabor da globalização começou a adocicar-nos os lábios, e a provocar controvérsia, tal como as pipocas que saboreávamos enquanto assistíamos a ‘8 Mile’ no escuro do  cinema. Entre 2002 e 2005 o ‘eMule’ corria durante dias e noites, um programa de computadores que meteu os miúdos a descarregar músicas ilegalmente. Depois chegou o Youtube, apareceu o Hi5 e o conceito de contacto social nunca mais foi igual. 

Não foi só pela inocência em relação ao futuro que a nossa adolescência foi de luxo. Foi por todos os direitos e liberdades que tivemos ao termos crescido ao mesmo tempo que a tecnologia. Ao sabermos aproveitá-la ainda antes da existência de um “status online” e ao tornamo-nos a geração de jovens adultos resilientes que continua a acreditar e a ter esperança no amanhã. Vivemos os dramas da adolescência, discutimos com os nossos pais, faltamos às aulas, tivemos algumas tentativas de greve, assistimos a concertos no festival da juventude de Lagoa, riscamos as mesas, pintamos as paredes, expressamo-nos física e verbalmente cara-a-cara e é essa a nossa força.  Somos os que assumem as lutas e somos os que resistem! 

Somos os filhos de uma adolescência de luxo!

You may also like...

Deixe um comentário