Opinião: Factos e siglas
João Reis, Professor | in Jornal Lagoa Informa, nº 163
Quando esta edição estiver na rua ou na ‘net’ já passaram as eleições, já temos autarcas novos e/ou repetentes. Poderíamos dizer, como se diz aos bébés perante um momento difícil: “Pronto! Já passou!! Não custou muito, pois não?” Mas hoje – quando escrevo – é o ‘dia da reflexão’, é o ‘sabat’ para descanso dos perseverantes militantes que, durante duas semanas de campanha, calcorrearam as ruas, as populares rotundas, os mercados e as praças, cumprindo arruadas, abraçadas, beijocadas, debitando discursos com promessas, umas realizáveis, outras, incríveis “aldrabices circunstanciais” – diz a experiência.
Factos agradáveis que registei – a presença de muita gente moça trazendo pontos de vista jovens e mais actualizados a que os veteranos devem prestar atenção (se o não fizerem, só têm a perder); e, também, o surgimento de muitos novos e independentes movimentos a quererem dizer aos partidos de siglas e ‘maneiras’ mais antiquadas que devem ‘limpar teias e ferrugens’, que devem pôr os seus ‘notáveis’ a reflectir, que devem entender o Mundo de agora e actualizar-se.
Factos intrigantes que também merecem reparo – os candidatos e líderes dos partidos parece terem falado mais dos seus adversários (mal, claro), em vez de apresentarem com clareza os seus próprios projectos, explicando como irão executá-los; assim como falar das suas próprias ideias e de como irão transmiti-las e dar-lhes concretização. Outro exemplo intrigante – não fazia ideia de que o facto de usar, ou não, gravata determina diferentes discursos e ideias, diferentes responsabilidades, estatutos e cargos. O que pode uma GRAVATA!! Muda o colarinho, desdobra-se a personalidade!
Também me confunde a presença tão activa (não só desta vez…) dos chefes nacionais dos partidos em campanhas para eleições locais que são, ou deveriam ser, em princípio, assunto doméstico, caseiro, concelhio; os munícipes e os fregueses é que melhor conhecem os candidatos e os anseios das gentes. Tanto falam de regionalização, de descentralização, do poder local e de políticas de proximidade e, depois, é isto…
Desagradável foi, também, para muita gente (onde me incluo), a referência abusiva à ‘bazuka’ do PRR (sigla de ‘Plano de Recuperação e Resiliência’) como se tal pudesse constituir plano das autarquias e, por essa via, conseguir que o DESENVOLVIMENTO DO NOSSO PORTUGAL ficasse definitivamente assegurado. Que bom seria! Infelizmente, aquela sigla PRR poderá também significar – neste caso – ‘Poeira Remetida às Retinas’, outra forma de dizer ‘Atirar Areia prós Olhos’.
Preocupantes, porém, (e parece que irão continuar) foram as manifestações dos negacionistas, talvez membros do ‘M.E.R.D.A.’ (sigla de ‘Movimento Esquisito e Renovador Da Anarquia’) que inclui gente com obrigações culturais e académicas, como médicos, juízes e outros. A isto, deveria opor-se, de forma urgente, a ‘SÀB’ (‘Só À Bordoada’)…
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Votos de sucesso para os Eleitos, o que significará sucesso para os Eleitores.
E VIVA A DEMOCRACIA!!!
- Artigo escrito sem a aplicação do novo acordo ortográfico