Paulo Andrez apresenta ‘Zero Risk Startup’ no Algarve

Texto e Foto: José Garrancho


Paulo Andrez, 54 anos, é filho de um algarvio de Monchique e, embora tenha residência em Inglaterra e viaje por todo o mundo, desloca-se com frequência à região para visitar os pais, que vivem em Alvor. E foi no Algarve que, no dia 3 de julho, fez o lançamento do seu livro em Portugal. O Portimão Jornal conversou com este ‘algarvio’, que tirou uma licenciatura em tecnologias de informação, mas depois obteve um MBA em gestão financeira e uma pós-graduação em ecoturismo e em gestão imobiliária.

Afirma que começou muito novo na sua vertente empreendedora. Como aconteceu?
Aos 18 anos, antes de entrar na universidade, decidi vender materiais de construção e de jardinagem para a Inglaterra, a partir do meu quarto, e tive sucesso. No segundo ano da faculdade, com um sócio, iniciei um negócio de formação, em que empregávamos os nossos colegas. De seguida, criei mais uma empresa de cedência de pessoas na área de tecnologias de informação e, depois, fui um dos membros do núcleo duro da ‘Novabase’, fazendo a sua entrada em bolsa, em Portugal. Tornei-me investidor em start-ups e fui presidente europeu dos ‘Business Angels’, dos quais sou, atualmente, presidente emérito.

O que é um ‘business angel’?
É alguém que investe em negócios emergentes, com os empreendedores, fornecendo-lhes, ao mesmo tempo, garantias, conhecimentos e contactos essenciais que são mais vantajosos do que os subsídios a fundo perdido. Fui o organizador do primeiro congresso mundial do ‘Business Angels’, em Pequim, e tenho apoiado muitos governos a lançar políticas de apoio aos mesmos. Tive um papel importante na criação da Federação Nacional de ‘Business Angels’, em Portugal. E também no lançamento de um instrumento que revolucionou o mercado português, o Fundo de Coinvestimento com ‘Business Angels’ lançado pelo governo, em 2011.

Como consegue chegar ao topo com um livro deste tipo, num mercado onde os mesmos abundam?
Faço workshops a nível mundial, há muitos anos, e tenho seguidores espalhados pelo mundo, incluindo os Estados Unidos. Num workshop que lá fiz, recentemente, fui abordado por um editor, que me disse que tinha de publicar um livro com a matéria que acabara de apresentar e fez-me uma proposta. Falei com um amigo americano que me aconselhou a escolher outra editora, que dava melhores condições. Fi-lo e, de repente, tinha duas propostas na mão. Então, vi que o livro teria grandes hipóteses de ser um sucesso e decidi abordar a melhor editora nesse campo, a ‘Forbes’, que me fez uma proposta. Aceitei, porque a ‘Forbes’ é o topo de gama, neste campo. Com o seu poder de marketing e o nome que eu já tinha no mercado, graças aos workshops, foi fácil. Tenho uma comunidade de seguidores, nos EUA. Quando souberam que tinha lançado o livro, fizeram pré-encomendas para o adquirir e, ao fim de cinco dias, tinham colocado o livro no topo das vendas.

O livro ‘Zero Risk Startup’ é um guia para quem deseja iniciar um negócio?
É e vai para além das start-ups. Há um grande problema de empreendedorismo, a nível mundial. Tentar criar o seu próprio negócio é a ponta do iceberg. A grande maioria das pessoas gostaria de criar um negócio, mas não avança por receio, de que vai de perder dinheiro, à reação da família, à perda de prestígio. O livro aborda todos esses receios e esses riscos e ajuda as pessoas a mitigá-los. Não desmistifico. Digo: esse é um risco real. Vamos ver como o vamos ultrapassar. E estão lá mais de cem dicas importantes, que ajudam a eliminar todos esses riscos, tanto os tangíveis (dinheiro e ativos que colocamos numa empresa), como os intangíveis (prestígio, problemas familiares que podem surgir). Depois, há os cinco riscos do negócio em si: mercado, equipa, risco legal, risco financeiro e risco operacional. Trato desses tipos de riscos, no livro, e ensino as pessoas a avançar no negócio, sem estar à espera dos famigerados subsídios.

Porquê ‘famigerados subsídios’?
Considero um crime um conjunto de programas que dizem às pessoas: “Você está desempregado, tem direito a endividar-se”. E porque o Estado dá uma garantia próxima dos 100 por cento à banca, esta tem menos cuidado a analisar os projetos. E o empreendedor vai endividar-se junto da banca para lançar um negócio que, muitas vezes, não tem qualquer tipo de condições para singrar. E, por isso, deveriam ser proibidos. Lançar um negócio apresenta riscos e a pessoa tem de estar preparada e saber mitigar esses riscos. Por exemplo, dão um subsídio de 50 por cento para comprar um carro, o carro custa 40 mil euros, a pessoa tem de gastar 20 mil. Se alugasse um carro, durante um ano, só gastaria três mil. Logo, vai endividar-se sem necessidade. Eis duas dicas fundamentais: ao comprar equipamento, negociar a retoma, ao fim de um ano. Pedir aos fornecedores que lhes arranjem clientes, pois o seu sucesso vai ajudá-los a vender-lhe mais, no futuro.

Empresas Unicórnio

Ouve-se falar muito, nos tempos que correm, nas empresas unicórnio, que atingem valorizações de mais de mil milhões de euros, como sendo alvos seguros para investir em bolsa. Paulo Andrez explica ao Portimão Jornal que “é o sonho de muitos empreendedores atingir esse estatuto (há sete, neste momento, em Portugal), mas o estatuto apenas diz que a avaliação é aquela, no momento. Podem perder a valorização e o estatuto e, por isso, não é uma garantia total de sucesso”. Uma empresa unicórnio portuguesa, a Farfetch, que chegou a ser avaliada em mais de vinte e um mil milhões de dólares, foi salva da falência pela Coupang, sul-coreana, que a adquiriu e injetou capital, exemplifica.

Empreendedor quis ajudar comunidade

Paulo Andrez criou, em conjunto com a Câmara Municipal de Cascais, uma incubadora de empresas, a BNA Cascais, em 2006. E garante que o fez porque decidiu dar de volta à comunidade, sem interesse económico. “Ajudámos muitos empreendedores a lançar os seus próprios negócios e aconselhámos muitos a não avançar, o que também é importante”, diz ao Portimão Jornal. “É necessário saber dizer a um empreendedor que, na nossa opinião, não está preparado para lançar um negócio, a não ser que faça isto, isto e mais isto. Muitas vezes, o falhanço é culpa das entidades que apoiam os investidores, porque acham que têm de fazer, para ter o seu próprio lucro. Pensamos que é um erro e muitas pessoas vão estragar as suas vidas, porque não estão preparadas, nem o negócio está preparado”. “Há uma grande diferença entre lançar um negócio de que o mercado necessita e outro que já o satura”, remata Paulo Andrez.

Subsídio versus negócio

“Se perguntarem a um empreendedor se prefere um subsídio de 20 mil euros a fundo perdido, ou um investidor que lhe garanta um milhão de euros de negócio, ele irá escolher a segunda opção”, refere o empreendedor.

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